Livro: A Lei do Deserto
Autor - Fonte: Christian Jacq
...Christian Jacq
Romance
Tradução de ANA MARIA CHAVES e HELENA CANTO E MELO
BERTRAND EDITORA
VENDA NOVA 1994
Título Original: LA LOI DU DESERT © Christian Jacq, 1993
Capa de Fernando Felgueiras
Todos os direitos para a publicação desta obra em Portugal reservados por Bertrand Editora, Lda.
Fotocomposição e montagem: Atelier de Imagem, Publicações e Artes Gráficas, Lda.
Impressão e acabamento:
Gráfica Manuel Barbosa & Filhos, Lda.
Depósito Legal 80604/94
Acabou de imprimir-se em Outubro de 1994 ISBN: 972-25-0866-0
Magna é a Regra, duradoura a sua eficácia nada ousou perturbá-la desde o tempo de Osíris.
A iniquidade é capaz de se apossar da quantidade, mas nunca o mal levará tal empresa a bom porto.
Não te empenhes em maquinações contra a espécie humana, pois Deus castiga tal procedimento.
Se escutaste as máximas que acabo de te oferecer, cada desejo teu tornar-se-á realidade.
Ensinamentos do sábio Ptah-hotep, extratos das máximas 5 e 38.
CAPÍTULO 1
O calor era tão avassalador que apenas um escorpião negro se aventurava na areia do pátio da prisão, que, perdida entre o vale do Nilo e o oásis de Khargeh, a mais de cem quilómetros para oeste da cidade santa de Carnaque, albergava os reincidentes que carregavam pesadas penas de trabalhos forçados. Quando a temperatura o permitia, os prisioneiros conversavam na pista que ligava o vale ao oásis, e era cruzada por caravanas de burr...
s transportando mercadorias.
Pela décima vez, o juiz Paser apresentou o seu pedido ao chefe do campo, um colosso sempre pronto a castigar os indisciplinados.
Não suporto o regime privilegiado de que beneficio. Quero trabalhar como os outros.
Esguio, bastante alto, de cabelos castanhos, face larga e alta e olhos verdes acastanhados, Paser, cujos traços haviam perdido a juventude, mantinha uma distinção que impunha respeito.
Tu não és como os outros.
Sou um prisioneiro.
Mas não foste condenado. Estás aqui em segredo. Para mim, tu nem existes. O registro não tem nome nem número de identificação.
Mas isso não me impede de partir pedras.
Volta para o teu lugar.
O chefe do campo desconfiava deste juiz. Pois não tinha ele deixado o Egito inteiro boquiaberto, ao instruir o processo do famoso general Asher, acusado pelo melhor amigo de Paser, o tenente Suti, de ter torturado e assassinado um batedor, e de colaborar com inimigos de longa data, os Beduínos e os Líbios?
O cadáver do infeliz não fora encontrado no local indicado por Suti. Os jurados, não podendo condenar o general, contentaram-se em pedir um inquérito suplementar, investigação que se gorou, uma vez que Paser, caindo numa armadilha, fora acusado de assassinar o seu pai espiritual, o sábio Branir, futuro sumo-sacerdote de Carnaque. Apanhado em flagrante delito, fora preso e deportado, à margem da lei.
O juiz estava sentado à escriba na areia escaldante. Não parava de pensar na mulher, Néféret. Durante muito tempo, julgara que ela nunca viria a amá-lo; depois, a felicidade chegou, forte como o sol de Verão. Uma felicidade despedaçada, um paraíso de onde fora expulso sem esperança de regressar.
Levantou-se um vento quente que fazia os grãos de areia rodopiar chicoteando a pele. Com um pano branco pela cabeça, Paser não ligava ao vento; recordava as etapas do inquérito.
Pequeno magistrado de província, perdido na grande cidade de Mênfis, tivera o azar de se mostrar demasiadamente consciencioso ao examinar em pormenor uma documentação algo estranha. Descobrira o assassinato de cinco veteranos que formavam a guarda de honra da grande esfinge de Gize uma carnificina disfarçada de acidente, o roubo de uma grande quantidade de ferro celeste destinado aos templos, e uma conspiração envolvendo altas personalidades.
Mas não conseguira provar de forma definitiva a culpa do general Asher e a sua intenção de destronar Ramsés, o Grande.
E, quando tinha finalmente conseguido obter plenos poderes para ligar entre si os elementos dispersos, o azar batera-lhe à porta.
Paser lembrava-se de todos os momentos daquela noite terrível. A mensagem anónima avisando-o de que o seu mestre Branir corria perigo, a corrida desvairada pelas ruas da cidade, a descoberta do cadáver do sábio Branir, uma agulha de madrepérola espetada no seu pescoço, a chegada do chefe da polícia, que não hesitou em considerar...
ão parava de pensar na mulher, Néféret. Durante muito tempo, julgara que ela nunca viria a amá-lo; depois, a felicidade chegou, forte como o sol de Verão. Uma felicidade despedaçada, um paraíso de onde fora expulso sem esperança de regressar.
Levantou-se um vento quente que fazia os grãos de areia rodopiar chicoteando a pele. Com um pano branco pela cabeça, Paser não ligava ao vento; recordava as etapas do inquérito.
Pequeno magistrado de província, perdido na grande cidade de Mênfis, tivera o azar de se mostrar demasiadamente consciencioso ao examinar em pormenor uma documentação algo estranha. Descobrira o assassinato de cinco veteranos que formavam a guarda de honra da grande esfinge de Gize uma carnificina disfarçada de acidente, o roubo de uma grande quantidade de ferro celeste destinado aos templos, e uma conspiração envolvendo altas personalidades.
Mas não conseguira provar de forma definitiva a culpa do general Asher e a sua intenção de destronar Ramsés, o Grande.
E, quando tinha finalmente conseguido obter plenos poderes para ligar entre si os elementos dispersos, o azar batera-lhe à porta.
Paser lembrava-se de todos os momentos daquela noite terrível. A mensagem anónima avisando-o de que o seu mestre Branir corria perigo, a corrida desvairada pelas ruas da cidade, a descoberta do cadáver do sábio Branir, uma agulha de madrepérola espetada no seu pescoço, a chegada do chefe da polícia, que não hesitou em considerar Paser um assassino, a sórdida cumplicidade do deão do pórtico, o mais alto magistrado de Mênfis, o seu transporte em segredo para a prisão e, quando o seu fim chegasse, uma morte solitária sem que a verdade viesse a ser conhecida.
A trama fora organizada com a máxima perfeição. Com o apoio de Branir, o juiz poderia ter investigado nos templos e identificado os ladrões do ferro celeste. Mas o seu mestre tinha sido eliminado, tal como os veteranos, por misteriosos agressores cujos fins continuavam obscuros. O juiz chegara à conclusão de que entre eles figuravam uma mulher e vários homens de origem estrangeira; as suas suspeitas recaíam sobre o químico Chéchi, o dentista Qadash e a mulher do transportador Denes, homem rico, influente e desonesto, mas não tinha a certeza de nada.
Paser resistia ao calor, às tempestades de areia e à comida intragável, porque queria sobreviver, apertar Néféret nos braços e ver a justiça florescer de novo.
O que teria inventado o deão do pórtico, seu superior hierárquico, para explicar o seu desaparecimento? E que calúnias espalharia a seu respeito?
Fugir, era uma utopia, ainda que o campo se abrisse sobre as colinas vizinhas. A pé, não iria longe. Tinham-no mandado para ali, para que ali definhasse. Quando estivesse fraco, consumido, quando tivesse perdido a última réstia de esperança, divagaria, como um pobre louco repetindo incoerências.
Nem Néféret nem Suti o abandonariam. Recusariam qualq...
Paser um assassino, a sórdida cumplicidade do deão do pórtico, o mais alto magistrado de Mênfis, o seu transporte em segredo para a prisão e, quando o seu fim chegasse, uma morte solitária sem que a verdade viesse a ser conhecida.
A trama fora organizada com a máxima perfeição. Com o apoio de Branir, o juiz poderia ter investigado nos templos e identificado os ladrões do ferro celeste. Mas o seu mestre tinha sido eliminado, tal como os veteranos, por misteriosos agressores cujos fins continuavam obscuros. O juiz chegara à conclusão de que entre eles figuravam uma mulher e vários homens de origem estrangeira; as suas suspeitas recaíam sobre o químico Chéchi, o dentista Qadash e a mulher do transportador Denes, homem rico, influente e desonesto, mas não tinha a certeza de nada.
Paser resistia ao calor, às tempestades de areia e à comida intragável, porque queria sobreviver, apertar Néféret nos braços e ver a justiça florescer de novo.
O que teria inventado o deão do pórtico, seu superior hierárquico, para explicar o seu desaparecimento? E que calúnias espalharia a seu respeito?
Fugir, era uma utopia, ainda que o campo se abrisse sobre as colinas vizinhas. A pé, não iria longe. Tinham-no mandado para ali, para que ali definhasse. Quando estivesse fraco, consumido, quando tivesse perdido a última réstia de esperança, divagaria, como um pobre louco repetindo incoerências.
Nem Néféret nem Suti o abandonariam. Recusariam qualq...
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