Livro: A grande mentira Página 3

... �s dos óculos de aro de tartaruga. — Meu nome é Dilys Davies. Reservei quarto. De Londres. — Ah, pois não, srta. Davies — disse a mulher, educada, mas fria. Parecia saber tudo sobre Dilys e o que vinha fazer na cidade. Mas era suficientemente discreta para não mostrar isso abertamente. Correu o dedo pela página de um caderno, tirou a chave do lugar e empurrou o livro de registro para que ela assinasse. — Vai jantar hoje? — Vou. por favor. Gostaria de comer qualquer coisa. O restaurante está aberto? A mulher fez que sim com a cabeça. — Seu quarto é no primeiro lance de escada, à direita. — Pelo jeito, não ia mostrá-lo pessoalmente. Dilys pegou a mala e foi levando aos trancos escada acima. O quarto era alegrinho, com cortinas estampadas e mobília moderna. Empurrou a mala para cima da cama, tirou o que precisava, trocou o jeans e suéter por um vestido azul de lã fina e desceu para jantar. De repente, percebeu que estava com fome mesmo. A viagem, feita num dia só, tinha sido cansativa e a única coisa que comeu foi um sanduíche rápido, num posto de gasolina. De um lado do restaurante, havia várias mesas ocupadas. Dilys foi conduzida para a extremidade oposta, perto de um rapaz que a cumprimentou sorrindo, quando passou. Chegou à conclusão de que aquela parte do restaurante era, com certeza, reservada para os hóspedes do hotel. Pelo jeito, só havia dois hóspedes, no momento, pois a temporada de férias ainda estava longe. Ele estava sentado de costas para ela. Dilys olhou seus ombros curvos, os cabelos loiros compridos, e ficou imaginando quem seria e o que estava fazendo aqui. Sorriu. Era provável que o rapaz estivesse pensando a mesma coisa. Teve vontade de falar com ele para se livrar daquela solidão, mas sua atenção foi desviada para a entrada do restaurante, por uma alegre voz feminina. Duas pessoas apareceram nas portas de vidro. Mais do que isso: fizeram uma entrada teatral. O maitre correu para os novos freguese ...

, como se fossem especialíssimos. Dilys quase perdeu o fôlego ao reconhecer o homem. Era o sujeito sem educação que tinha encontrado na estrada. Sua companheira era alta, esguia, bonita, bem maquilada, com cabelos cor de milho batendo nos ombros. Todos os olhares seguiram o casal. Dilys não pôde deixar de admirar e invejar a graça de gazela da moça, o vestido macio e delicado modelando o corpo escultural. O homem não estava mais vestido de tweed e botas; agora, usava um blazer azul, calça de flanela branca e suéter branco de gola olímpica. Ah, por isso aquela pressa! Estava indo para casa trocar de roupa para encontrar a namorada. Esposa não devia ser. Quase apostava. Olhar muito provocador. Talvez até fosse uma questão de vida ou morte, refletiu cinicamente, chegar atrasado a um encontro com àquela garota! Debaixo de glamour acetinado, suspeitou Dilys, escondia-se uma férrea força de vontade. A impressão que dava é que não toleraria nada além de total submissão a seus desejos e caprichos. Sem querer, ficou espiando a mesa dos dois. Havia qualquer coisa de fascinante no homem, bruto que era, e parece que a moça também estava encantada com ele. O tipo de sujeito que se pode odiar e se apaixonar ao mesmo tempo. De repente, ele sentiu que estava sendo observado e levantou os olhos, antes que ela pudesse disfarçar. Um arrepio correu sua espinha. Que diabo estava acontecendo? O sujeito não era tão atraente assim. Ele começou a conversar com a namorada, que também olhou na direção dela. É claro que estava contando sobre o acidente da estrada. Uma voz cortou seus pensamentos: — Parece que estamos de quarentena, não é? — Era o homem da mesa da frente, e tinha sotaque inglês. — Talvez seja uma honra sentar neste canto. — Entendo! Um degrau acima da plebe local? Ela riu. — É claro que você pode estar com a razão. É discriminação. Somos estrangeiros. Ele parecia simpático, o que já não se podia dizer do arrogant ...

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