Livro: A Força do Destino Página 3

... depois do duelo, ela nasceu. Era a consagração da vitória de seu pai. Lembrou-se do modo como o pai contava a história e da cara de espanto que ela fazia enquanto o ouvia. Desde aqueles tempos, Clea era considerada uma princesa. Uma princesa que partia corações. John Ross, seu pai, não aguentou acompanhar a vida artística de Clea por muito tem¬po. Ficaram cinco anos juntos e depois resolveram se separar. O amor entre eles já havia acabado e a separação não foi surpresa para nenhuma das partes, nem para Joanne. O pai lhe explicou detalhadamente o que estava acontecendo entre eles e deixou claro que ninguém tinha culpa do re¬sultado. Quando ele perguntou se ela gostaria de morar com a mãe ou com ele, Joanne começou a chorar. A escolha era muito difícil. Ela se sentiu confusa, achando que eles não tinham o direito de lhe fazer aquela pergunta. Clea resolveu a situação abraçando Joanne, protegendo-a com seus braços sempre perfumados e delicados: "Minha filha fica comigo". Era um pedido sincero e decidido e John Ross não fez nenhuma objeção. O divórcio aconteceu num ambiente de paz e tranquili¬dade. E a vida delas continuou da mesma maneira, na au¬sência do pai. John Ross voltou para a Inglaterra e se casou novamente. A nova esposa era o oposto de Clea. Era calma, séria e sabia usar de diplomacia. O casamento tinha sido alegre e dele nasceram duas crianças, David e Patrícia. Joanne sem¬pre os encontrava quando ia visitar o pai. Eram bons e carinhosos com ela, mas não encontrava nada em comum com eles, e nem eles com ela. Viviam em mundos comple¬ta mente diferentes. Joanne sentia muito carinho e admiração pelo pai. O único erro da vida dele tinha sido apaixonar-se por Clea. Fora isso, ele tinha vivido como sonhava. Tinha uma família e trabalhava no que gostava. Tinha recebido do pai a direção do Hotel Londres e era muito eficiente e disciplinado, sa¬bendo como desempenhar o cargo. Joanne sempre desejou ficar mais a seu lado ...

e amá-lo como pai, mas seus sentimentos foram se diluindo com o passar dos anos. Olhando agora para o grupo de Lester, percebeu que Lina Rothman fazia o possível para atrair a atenção de Ben Nor¬ris. Estava jogando todo o seu charme — os olhos verdes brilhavam e o sorriso se insinuava para ele. Lina era cinco anos mais moça que Clea e bem menos famosa. Em com¬pensação, sabia fingir ser amável, sabia como atrair a aten¬ção dos outros. Clea nunca tinha precisado disto, sua beleza abafava qualquer mulher que estivesse ao seu lado. Ben Norris olhava inexpressivamente para Lina. Joanne esforçou-se para ouvir o que ele dizia, mas seu tom de voz era muito baixo. Só deu para perceber que ele estava enten¬dendo as insinuações de Lina e respondendo ironicamente. O que ele teria vindo fazer ali? Será que só queria co¬nhecer a mulher que tinha feito seu pai perder a cabeça? Ben Norris devia ter uns trinta anos. Provavelmente es¬tava com sete ou oito anos quando o duelo aconteceu. Já era bem grandinho para entender tudo o que se passou. Joanne sabia muito bem como as crianças são capazes de entender o mundo dos adultos. Suas próprias experiências ensinaram-lhe isto. Linda Norris, a mãe dele, também tinha sido muito fa¬mosa, e era muito comentada pelas pessoas. Bebia muito e isto a tornava violenta, não se sabia se a culpa era dela mesma ou do marido. O que estava claro é que Ben Norris tinha tido uma infância problemática. De um lado, uma mãe nervosa; do outro, um pai que tinha se humilhado pu¬blicamente por uma estrela de cinema. Todos os convidados já estavam sabendo a identidade daquele homem. Os olhares o mediam de cima a baixo. Ele prestava um pouco de atenção ao que Lina dizia. Ela falava sorrindo e tocava delicadamente nos braços dele. Devia estar sentindo os músculos fortes dele, pensava Joanne, e não havia dúvidas sobre o físico musculoso que ele tinha. Então Clea surgiu pela porta do jardim. Voltava de um passeio ...

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