Livro: A Força Da Paixão Página 2

... o. Uma vez livre da sensação de sujidade, fruto da viagem, não fora capaz de pensar em voltar a vestir-se, portanto vestira o pijama antes de abrir uma garrafa de vinho e acender a lareira. Já pusera a cesta enorme de Harvey num canto e abrira uma lata da sua comida favorita quando o animal expressara a sua necessidade de sair um pouco. - Oh! - escorregou e acabou sentada no chão em cima de algo que cheirava bastante mal. Sentiu uma vontade incontrolável de chorar, mas conteve-se e procurou a lanterna, que lhe caíra. Levantou-se. Harvey parecia ter-se esquecido do seu jantar e juntou-se ao jogo com entusiasmo, saltando ao redor dela e ladrando, alegre. A viagem de Londres para Shropshire fora aborrecida, mas gostava daquilo. Por sorte, a lanterna continuava a funcionar, embora Beth não precisasse dela para saber que uma raposa ou um texugo evidentemente rondava em redor do jardim da casa. Voltou para a porta da frente e ficou quieta por um momento, tiritando na noite fria de Maio. O dia fora quente, demasiado quente, mas o ar da noite ainda não começara a falar do Verão. Teria de partir uma janela e entrar por ela de alguma forma, não podia fazer outra coisa. Olhou para os vidros antigos e bonitos da janela da sala. Todos os vidros da casa eram iguais e, quando os observara antes, pensara que seriam bastante valiosos. A casa de campo era pequena, parecia de chocolate, coberta com um telhado de palha, vigas de madeira e todo o calor que podia esperar-se de uma construção de mais de dois séculos. O estômago de Harvey queixou-se e o jogo perdeu todo o interesse. Começou a ganir e quando um enorme pastor alemão de pêlo comprido geme não é nada agradável. Beth não conseguia pensar. - Bom, bom - fez calar o cão com um estalo dos dedos. Ia provocar muitos danos se partisse um daqueles vidros bonitos, mas não lhe ocorria outra coisa para fazer. Segundo se lembrava, não passara por outro sítio habitado em vários quilómetros depoi ...

de seguir a estrada até à casa. Além disso, também não estava vestida para andar a passear por Shropshire. Iluminou a janela com a lanterna e pressionou o vidro. Os vidros pareciam estar presos por barras de aço na parte traseira. Também não tinha a certeza de ser capaz de saltar, mesmo que conseguisse partir o vidro. Claro que podia partir um vidro do carro, mas morreria de frio e de manhã continuaria a ter o mesmo problema. As chaves do carro e tudo o resto estavam dentro de casa. - Oh, Harvey! - a vontade de chorar regressou, Aquilo, somado a tudo o que lhe acontecera ultimamente, era demasiado. Porque é que, quando estava a tentar seguir em frente, encontrava uma dificuldade atrás da outra? Não era justo. Soluçou e Harvey aproximou-se das suas pernas. Deixou-se cair nos degraus da entrada e abraçou o pescoço peludo, as lágrimas caíam-lhe pelas faces. Foi assim, abraçada à pele quente do animal, que viu as luzes que se mexiam na colina. Um carro descia pela estrada que levava à casa! Levantou-se de um salto e atravessou a pradaria que separava a casa da cancela que dava para a estrada. Ficou à espera, segurando Harvey pela coleira. Dirigiu a luz da lanterna para a estrada com a esperança de que o carro não passasse sem parar. Não pareceria uma contrabandista perigosa ou algo do género, pensou, não em pijama. Mas, pela mesma razão, queria que qualquer resgatador potencial visse Harvey e percebesse que tinha um cão grande com ela. Ouvira tantas histórias horríveis sobre mulheres atacadas enquanto pediam ajuda a estranhos. Pareceu-lhe que o carro demorou uma eternidade a chegar, mas não podia ter passado mais de dois ou três minutos. As luzes de um carro enorme e familiar cegaram-na. Durante um momento terrível pensou que o condutor nem a teria visto, mas naquele momento travou, fez marcha-atrás e parou ao seu lado. A janela do carro abriu-se e ouviu-se uma voz masculina e profunda num tom de surpresa e de diversão ...

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