Livro: À Flor da Pele - SUSAN JOHNSON Página 4

... e é um negócio de família, então. —- Gazi se dirigiu ao outro lado do cavalo. — Sim, mas apenas Etienne e eu continuamos com ele. — Ela moveu a perna enquanto ele ajustava a fivela, dese¬jando evitar o contato, — Meus pais morreram de uma febre de verão há dois anos. — Sinto muito. — O vazio permanece, porém nossa criadagem é como uma família. Não estamos sozinhos. — Aurore sentiu neces¬sidade de esconder sua vulnerabilidade, embora, para uma mulher independente, seu impulso fosse peculiar. Concluiu que era por causa da guerra, em vez de admitir que uma razão menos nobre teria a ver com aquele estranho fascínio por um desconhecido. Lembrou-se do quanto havia trabalhado duro. O cansaço a deixava mais suscetível à emoção. Após ter conhecido tan¬tos homens bonitos, não poderia se sentir atraída pela aparên¬cia solitária de Gazi. Ainda que sua força e tamanho fossem algo muito além do comum. Pare com isso agora mesmo, ordenou a si mesma, quan¬do se descobriu considerando os prazeres que aquele homem poderia oferecer. Algo deplorável em meio àquela guerra terrível. O número de mortes era enorme devido ao frio e a falta de comida e munição. Diante da reflexão, um súbito arrepio percorreu sua espinha. Sentindo uma mão sobre sua bota. Aurore fez um movimen¬to brusco e, mais uma vez, seu olhar cruzou com o de Gazi. — Gostaria de um pouco de conhaque? — ele indagou de súbito. Dessa vez sua reação foi ainda mais evidente após o toque dele. Nada que naquele ambiente de guerra fosse anormal. — É bom para os nervos — acrescentou Gazi com um sorriso matreiro. — Sim, obrigada. — Ela suspirou. — Eu gostaria de estar a milhares de quilômetros desta guerra miserável. — Concordo — ele murmurou enquanto puxava um cantil prateado do bolso. — O senhor acha que algum dos rumores de paz pode ser verdadeiro? — Aurore inquiriu em um tom quase infantil, como se quisesse que o impossível acontecesse. ...

— Duvido — opinou Gazi, estando ciente dos planos dos Aliados. Destampou o cantil e o ofereceu a ela. — Mas, descobri que, quando não estou muito lúcido, não me aborreço tanto. — Ele piscou. — Tome um gole. — Um bom exemplo para sobreviver nestes tempos difí¬ceis. — Ela bebeu e devolveu o cantil com um sorriso de agradecimento. — Melhor? — Com certeza menos lúcida. — Esse é o objetivo. — Após um longo trago, ele tam¬pou o recipiente e o guardou. — Agora estamos convenien¬temente fortalecidos contra essa triste realidade. Poderíamos sair deste atoleiro? Aurore encontrou o olhar dele com as pálpebras semicerradas. — O senhor parece tão cansado quanto eu. — Não tenho dormido direito. — Ao contrário dos mal¬ditos generais que dormiam seguros em suas confortáveis camas, enquanto os menos afortunados congelavam nas trincheiras. — E o senhor ainda abastece a equipe do general com luxos. — As sobrancelhas dela se arquearam em sinal de surpresa. — Alguém tem de manter nosso sustento. — Ele encolheu os ombros e segurou as rédeas do cavalo, voltando-se a fim de montar o seu próprio. Lembretes da incompetência do comando britânico sem¬pre o irritavam. Raglan se cercava de parentes e bajuladores, nunca tomara uma decisão senão obrigado, e se iludia, acre¬ditando participar de uma guerra de cavalheiros. Não que seus ressentimentos pudessem ser expressos, pensou, contra¬riado. Mas ao menos estava fazendo sua parte ao levar infor¬mações atualizadas à equipe britânica. Se eles agiam com inteligência ou não, já não era mais de sua alçada. — Seguirei puxando seu cavalo até sairmos deste lamaçal — informou, ao assumir o controle de outra montaria. Aurore poderia ter respondido que montava muito bem, mas não o fez. Em vez disso, rendeu-se à autoridade dele como se fosse alguma mocinha desamparada. Precisava dormir e estava muito nervosa para afirmar algo sobre um assunto tão trivial. O g ...

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