Livro: À Flor da Pele - SUSAN JOHNSON Página 2
Autor - Fonte: SUSAN JOHNSON
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ofe¬receu em francês, a língua das classes mais altas da Rússia.
Ela o fitou após alguns minutos.
— Obrigada. Eu apreciaria muito. — A resposta veio na mesma língua nobre, embora pudesse ter sido em tártaro, que parecia ser a língua nativa do estranho.
Observando-o melhor, ela notou que o homem forte, de cabelos escuros, tinha a pele morena e as características aquilinas da população local. Vestia-se como um tártaro. No entan¬to, seu francês fluente sugeria que a escolha das roupas tinha mais a ver com o clima do que com sua origem.
— As estradas estão piores do que de costume depois do descongelamento da semana passada. — Ela deu um sorriso, falando o dialeto da região para testá-lo. Eram tempos peri¬gosos, e estava envolvida em negócios arriscados. “Não con-fie em ninguém” havia se tornado seu lema. — Ibrahim bem que me avisou sobre fazermos uma viagem hoje. — Encolheu os ombros. — E como o senhor.
— Sem dúvida, o pobre não quis discutir. Uma dama sem¬pre tem razão, não é mesmo? — Hugh comentou com um leve sorriso, o dialeto tão impecável quanto o dela. Arqueando uma sobrancelha, completou: — Será que consigo passar?
— E bom ter certa cautela com os exércitos inimigos em campo — ela advertiu, voltando ao francês.
— Muito sensato de sua parte. Pessoalmente, acredito que nações não deveriam ir para a guerra com pretextos tão super¬ficiais, mas. Ninguém me perguntou. Entretanto, já que nos encontramos aqui, permita que eu me apresente. — Ele se curvou ligeiramente. — Gazi Maksoud, do Leste — mentiu.
Ela inclinou a cabeça, as mãos ainda ocupadas, mantendo o casaco longe da lama.
— Sou Aurore Clement de Alupka.
— Vizinha do príncipe Woronzov, então.
— Sim. Minha propriedade faz fronteira com a dele. Aurore não havia dito quem era o marido, pai ou irmão, despertando sua curiosidade.
Apesar de todos os anos que ele passara vagando pelo mundo, nunca se sentira inclina¬do a
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perguntar algo mais íntimo sobre alguma mulher além de sua disponibilidade. Seria por estar cansado e não dormir havia dias? Talvez fosse apenas por ela ser uma mulher bonita que, de repente, o fizera evocar pensamentos sobre lençóis claros, camas macias e um corpo tenro.
Desorientado com a deliciosa fantasia alimentada pela cadência alegre da voz da moça, voltou para a dura realidade do vento gelado e da lama.
— Ibrahim, leve aquela caixa de vinho e espere aqui com nossos suprimentos. Mandarei alguém com uma nova roda o mais rápido possível — ordenou Aurore ao criado. E, voltando-se para Gazi, acrescentou: — O senhor não se importa de carregar meu vinho, não é? — indagou, lançando um olhar para a fileira de animais carregados que o seguia.
— Claro que não. Deixe-me tirá-la deste lamaçal. — Ao desmontar, Gazi andou por sobre a lama até ela. — Mas receio não poder oferecer uma sela para damas.
— Não tem importância. Tenho cavalgado boa parte da minha vida em selas masculinas.
Ele devia estar mais cansado do que pensava. Seu cére¬bro estava atribuindo duplo sentido à resposta e formando uma imagem adorável: ela cavalgando sobre ele. O sonho quase o fez se esquecer daquela guerra sem sentido e do fato de não tomar um banho quente havia uma semana.
— Peço desculpas por meu mau estado — murmurou ao se aproximar dela. — Viemos de Perekop sem nenhuma parada.
— Não precisa se desculpar. As superficialidades da socie¬dade não têm sentido nestes tempos dolorosos. Depois de visi¬tar os hospitais de Sevastopol, fica claro o quanto é banal a polidez diante do sofrimento humano.
— Um ponto de vista inquietante, não?
Ele sempre distribuíra provisões aos hospitais. Sua carida¬de ia além da do soldado comum.
— Sem dúvida. Meu irmão está em um hospital em Sevastopol.
— Pois deveria tirá-lo de lá o mais breve possível — afirmou Hugh, erguendo-a no colo, ao mesmo tempo que tentava ignorar o calor do ...
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