Livro: A Flor da Ilha Página 3

... nha semi-apartada, no peito agora arquejante, deu-lhe um sorriso galante antes de finalmente soltar-lhe a mão. Ela levou os dedos ao pescoço e murmurou algo que só lhe aumentou o rubor. Sob o olhar reprovador da mãe, ele ergueu as sobrancelhas, inocente, antes de cerrar o olhar sobre a doce Daphné. Estranho, mas, em meio à agradável reação trêmula e exagerada da noiva, ele não podia evitar a expectativa quanto à união. de sua White Star Line com a International Shipping Line, de Theodore MacAdoo, é claro. A companhia do pai de Daphné gozava de uma boa influência sobre as linhas marítimas transatlânticas, e o homem pretendia controlar o tráfego nos Grandes Lagos tam¬bém. Oliver passara anos buscando incansavelmente uma fusão desse tipo, certo de que a união das duas grandes companhias marítimas garantiria o sucesso mundial de sua White Star Line. Jamais con¬siderara o objetivo inatingível. Estava mais que acostumado a conseguir tudo o que queria. No entanto, nunca imaginara que sua mãe, Eleanor Keane, mergulhada na pompa e circunstância de Chicago, fosse ajudá-lo a realizar o plano. Obcecada pela idéia de arrebatar a debutante do ano, Eleanor conquistara Daphné antes dele, só para gritar de deleite ao vê-lo correr à oportunidade. Que homem não o faria? Havia muito ele deixara de relacionar esposa e filhos somente a homens não com¬prometidos com seu projeto de vida, a homens capazes de dedicar parte de si a uma proposta tão precária. Proposta totalmente ina-dequada a ele, sem dúvida, a menos que o arranjo lhe propor¬cionasse um tremendo monopólio de navegação e o unisse a uma virgenzinha doce como Daphné. Pouco importava que ela, prestes tornar mulher, apenas tremesse em seus dezesseis anos, ansiosa por encontrar seu lugar entre as melhores famílias da sociedade, mais ansiosa ainda por se casar bem. Ansioso estava também estava Theodore MacAdoo para despachar a filha. Assim se explicava a corte relâmpago que Oliver f ...

zera a Daphné, em quatro encontros na presença de uma dama de companhia, e a determinação do casamento selando o pacto comercial. Organização. Eficiência. Mas a notícia que Oliver tinha para a mãe a noiva certamente ia desmaiar. Prevendo também a reação de Theodore Ma¬cAdoo, já pensava em como a enfrentaria. Afinal, embora gostasse de assumir riscos, não era nenhum idiota. Independente do re¬sultado da revelação do conteúdo do telegrama, tinha certeza de que, se Daphné continuasse sorrindo, a fusão, bem como o ca¬samento, se concretizariam. de uma maneira ou de outra. — Não querem se sentar? — Oliver puxou uma cadeira de couro estofada para a noiva. Murmurando algo, Daphné executou uma manobra elegante para se acomodar, e ele, num impulso, inclinou-se atrás da cadeira até conseguir ver-lhe a curva do queixo de covinha sob o chapéu. Ela se enrijeceu, como se a própria presença dele a repugnasse. Sentada na beirada da cadeira, Eleanor Keane não disfarçava a apreensão. — Muito bem, Oliver. Qual o motivo desta visita? Céus, fazer a querida Daphné sair com esse tempo horrível já foi um absurdo, mas obrigá-la a entrar nessa geringonça de subir! — Elevador — corrigiu ele, acomodando-se em sua cadeira. Perturbado, sentiu os dedos em torno do telegrama amassado. — Chame como quiser. O fato é que a pobrezinha não podia sair , muito menos ser vista faltando quatro dias para o casamento! E na chuva! As mulheres têm de pensar em seus chapéus, Oliver, e na pele leitosa, e no reumatismo, e nas doenças. — A Srta. MacAdoo me parece muito bem. Oliver se recostara, só para observar de cenho carregado a noivinha cada vez mais corada e de olhar fixo no espesso tapete persa sob os pezinhos delicados. Que histórias terríveis lhe teriam sussurrado ao ouvido as amiguinhas da sociedade para que nutrisse tanto medo dele? Talvez se tratasse apenas de uma jovem reprimida, algo que muitos homens podiam considerar conveniente ...

Comentários:

Deixe aqui seu comentário sobre este livro: