Livro: A Flor da Ilha Página 2

... s permaneceriam atracados no porto até que os autorizasse a partir, o que só aconteceria quando a névoa se dissipasse. Em sua mente, as cifras se sucediam tão monotona¬mente quanto as batidas da pena contra a madeira polida ou os rangidos dos vagões lá embaixo. Despesas, tripulação ociosa, lucro perdido. De repente, sentiu a mão arder em contato com o telegrama amassado, ao que seu estômago se contraiu sob o colete de lã negra de fino talhe e da mais engomada camisa de algodão branco penteado que o dinheiro podia comprar. Voltava-lhe o escárnio desdenhoso, desejado na verdade, bem como o sem número de emoções. Pouco importava que cada tique de seu relógio de bolso de ouro acompanhasse o chafurdar de todo seu império mercante junto a um píer deserto. Pouco importava que não houvesse de¬dicado um pensamento que fosse a algo além de sua empresa, da ascensão ao poder, da demonstração de seu valor, desde que deixara Barbados, mais de quinze anos antes. Jurando nunca mais voltar. — Que péssima hora para morrer. — comentou entre dentes, atirando à mesa a bola de papel, que foi parar junto a um maço de títulos de trigo comprados a termo. Dando as costas às janelas, pegou os documentos e, experiente, passou os olhos pelos números. mas então se distraiu por um instante. Ainda voltou a contemplar os lucros antecipados. mas olhou de novo para o telegrama amassado. Com o sobrolho arqueado de desdém, deu vazão à miríade de emoções: — Por que sua morte me abala, depois de tanto tempo? Por que me submeter agora a tudo o que restou de você, a tudo o que você fez e, principalmente, a tudo o que você jamais irá realizar? — Bufando, balançou a cabeça. — E por que diabo citou falando sozinho? Então, a porta do escritório se escancarou, como se sob a força de um tufão, e uma estridente voz feminina lhe interrompeu os pensamentos: — Oliver, pelo amor de Deus, o que há com você? Chamar a pobrezinha de Daphne aqui, seu lo ...

al de trabalho, e no fim da tarde! Por caridade, pare de trabalhar por um minuto que seja e ao menos olhe para sua pobre noiva! Ele observou as duas recém-chegadas. Era impressionante como até o ar se comprimia e adensava na presença de mulheres cheias de rendas e fricotes. Era impressionante como o excesso de seus perfumes e pós fazia um homem ansiar por afastar-se e respirar o ar fresco como se o fizesse pela última vez. Controlando-se, Oliver Keane se levantou e foi em direção a elas, sem saber bem qual graciosa mão enluvada deveria, por etiqueta, pegar primeiro. Olhou para uma das visitantes, toda elegância e ostentação em sua meia-idade, e depois para a outra, de suaves curvas brancas e covinhas juvenis sob um monstruoso chapéu emplumado cor de rosa. Por instinto empresarial, pegou as duas mãos estendidas ao mesmo tempo, sentindo a mais jovem, de sua noiva, tremer como um passarinho, ao que reforçou o cumprimento. — Mãe. Srta. MacAdoo. Ele soltou a mão da mãe, mas demorou os lábios um pouco mais sobre os dedos trêmulos ainda em seu poder. Então, admirou o rígido vestido fechado de cetim rosa no tom mais pastel imaginável, tão bem ajustado às curvas generosas do corpo que co¬gitou se o rubor da moça não teria mais a ver com um espartilho apertado ao ponto da tortura do que com sua descuidada tentativa de flerte. A exemplo de toda debutante bem-educada, Daphné MacAdoo baixou os cílios espessos quando seus olhos se encon¬traram, expondo a bochecha arredondada, emoldurada por cachos castanhos. A boca minúscula era como a cereja mais vermelha num mar de creme branco. Um doce mesmo. Que ele iria saborear. Algo carnal despertava dentro dele, como uma brasa atiçada. um desejo raro, ainda mais tratando-se de Daphné. que o levava a contemplar-lhe os seios. Os dedos enluvados estremeceram em sua mão, como se a noiva quisesse libertá-los, como se ela própria ansiasse por fugir dele. Fitando-a nos grandes olhos castanhos, na boqui ...

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