Livro: A Filha do Pirata - Elizabeth August Página 2

... iratas. Entre os homens que haviam batalhado com mais valentia encontrava-se um que despertou a atenção de Kathleen. Apesar do ferimento que sofrera, ele permanecia agora ereto e altivo em meio aos outros prisioneiros. Kathleen calculou que o ho¬mem devia ter quase trinta anos. Era difícil classificá-lo. Ele agira antes como quem está acostumado a mandar e a ser obedecido, mas não usava peruca. Se usasse, este seria um sinal de que ocupava um posto elevado entre os oficiais do navio mercante. No entanto, o homem trazia a cabeça a des¬coberto; grossas mechas de cabelo natural, de um tom castanho escuro e brilhante, desciam-lhe até os ombros. Seus trajes ti¬nham um corte impecável. Eram roupas de um cavalheiro, sem dúvida. Embora fosse quase impossível determinar a verdadeira fi¬gura de um homem sob camadas de tecido, Kathleen flagrou-se imaginando como seria o corpo do desconhecido. Pelo modo como lutara, com movimentos ágeis e rápidos, manejando a espada com habilidade, devia ter braços e pernas fortes, mus¬culosos. Este não era um pensamento adequado para uma mulher recatada, mas Kathleen não vivia em companhia mo¬desta e refinada há anos. Um súbito temor de que a luxúria tão comum aos piratas a tivesse contagiado provocou-lhe ca¬lafrios. Nunca! Ela afastou da mente a idéia desagradável e voltou a prestar atenção ao que acontecia no convés do navio mercante. A batalha terminara, e o capitão da embarcação capturada orde¬nava aos prisioneiros sãos que ajudassem os membros feridos de sua tripulação. Enquanto isso, um pouco afastado dos de¬mais, o espadachim de cabelos castanhos-escuros amarrava uma bandagem improvisada em seu próprio braço. Um golpe de sabre cortara-lhe a manga da camisa e atingira-lhe a carne. O sangramento já diminuíra, porém, indicando que o ferimento não fora profundo. Por um momento Kathleen supôs que ele fosse um dos donos do navio mercante, mas ao ver que o capitão não o consultava a respeito ...

o que fazer, ela concluiu que o homem devia ser apenas um passageiro da embarcação. Dando-se conta, de repente, do tempo que perdera obser¬vando o espadachim, Kathleen franziu a testa. — Preciso entrar em ação — murmurou para si mesma. Deixando a luneta de lado, desceu da ponte de comando. Ao atravessar a longa tábua que conectava os dois navios, tentou não pensar nos cadáveres espalhados em meio a poças de sangue sobre o convés da embarcação conquistada. — Perdi vários dos meus homens, hoje — disse o capitão Lawrence Thorton, dirigindo-se à tripulação do navio que aca¬bara de capturar. — Se algum de vocês quiser se juntar ao meu bando, dê um passo à frente e seja bem-vindo. Os que não quiserem ficar sob o meu comando serão deixados num bote, à deriva, com seus superiores. Se tiverem sorte, serão devorados pelos tubarões antes de chegarem a terra firme e serem apanhados pelos índios. O capitão pirata riu de sua própria piada enquanto Kathleen lutava contra uma onda de náusea depois de tropeçar num braço cortado na altura do ombro. Embora odiasse tais expedições, ela conseguira convencer Lawrence Thorton a deixá-la entrar a bordo dos navios con¬quistados. Argumentara que, por uma questão de caridade, ti¬nha vontade de ajudar os homens feridos em combate. O ca¬pitão não era nem um pouco caridoso, mas havia considerado a idéia engraçada e permitira que Kathleen levasse seu desejo adiante. Na verdade, embora tentasse mesmo ajudar os feridos, em especial os dos navios capturados, o que ela realmente queria era a chance de recolher pequenas armas que escondia num bolso secreto da anágua. Estava determinada a escapar um dia das gairas do capitão Thorton. E esse dia não demoraria a chegar, prometeu a si mesma enquanto se ajoelhava para pegar, com a maior discrição possível, o punhal enfiado no cinturão de um pirata morto. Ouvindo barulho de água espirrando, Kathleen olhou para trás e viu que os subordina ...

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