Livro: A Favorita do Príncipe Página 2

... lealdade com que sempre me serviu. Bernhard inclinou-se respeitosamente, sabendo muito bem que seria inútil opor-se ao indomável espírito de seu soberano. Um estrépito cada vez mais próximo o fez endireitar-se com um sobressalto. Três cavaleiros atravessavam a clareira a toda velocidade. O que vinha à frente estacou diante do príncipe e desmontou. Era pequeno e esbelto, de aparência gentil, mas seus olhos escuros lan¬çavam faíscas. — Pronto para o desafio? — perguntou, num tom desdenhoso e autoritário. — Senhor — interpelou-o Bernhard. — É dever de um padrinho tentar a reconciliação dos adversários. — Só tenho uma resposta para isso — cortou Gorstein, assumindo uma atitude arrogante de desafio. — A nossa disputa ainda não terminou! A Favorita do Príncipe — Saberei retribuir desprezo com desprezo, golpe com golpe — declarou Klaus calmamente. Gorstein arreganhou os dentes num sorriso de zombaria. — Nesse caso, à luta! As espadas foram desembainhadas. Os duelantes assumiram as suas posições no centro da clareira e prepararam-se para o encontro, aguardando o sinal com as armas erguidas. — En garde! Estimulados por recíproca animosidade, os dois homens lança¬ram-se um contra o outro, rompendo a quietude do campo com o retinido do aço. Klaus lutava com a máxima coragem e, durante algum tempo, conseguiu devolver os golpes de Gorstein com a mesma destreza e rapidez. Mas seu objetivo era desarmar, não matar, o que o deixava em desvantagem contra um adversário inescrupuloso. Entretanto, animado pelo desespero, pois sabia que sua vida e sua honra dependiam do resultado do combate, reuniu suas forças e continuou a oferecer resistência. O suor escorria-lhe da testa e, apesar de todo o seu vigor e bravura, começava a sentir-se exausto pela violência dos esforços que empregava, para defender-se de um braço que produzia a morte. Gorstein aproveitou-se para, num movimento impetuoso, desfe¬char-lhe um golpe vi ...

lento, que teria acabado com sua vida. Klaus, porém, teve presença de espírito suficiente para desviar o corpo da espada, demonstrando na defesa obstinação igual à fúria de seu ata¬cante. Bernhard, sensível à perigosa situação do príncipe, lançou um grito de protesto: — Golpe de covarde! A sua advertência não foi ouvida. Gorstein, contrariando as regras, lançou-se a um novo e traiçoeiro ataque. Klaus sentiu o frio da lâmina rasgar-lhe a carne do braço e apertou os dentes. Porém, anos de treinamento, somados a um forte instinto de conservação, deram-lhe forças para neutralizar uma estocada que poderia ser fatal. — Sangue! — gritou Bernhard. — Considere-se satisfeito, Gors¬tein! — Jamais! rugiu o outro, já sentindo o sabor da vitória. — Lutarei até a morte! — Pois que assim seja! — revidou Klaus. Os seus olhos brilhavam no rosto sem cor. — Afaste-se, Bernhard. Dando prova da mais soberba coragem, e sem se importar com o sangue que lhe escorria ao longo do braço, lançou-se ao ataque com redobrado furor. Mas seu antagonista furtou agilmente o corpo e desviou-se de sua arma um momento antes que ela o atingisse. Depois, com um giro hábil do pulso, fez sua espada tombar por terra. Klaus recuou, o peito a descoberto. A luz da vitória já iluminava as feições de Gorstein, que se lançou para a frente visando-lhe o coração. Nesse instante, um tiro explodiu de algum ponto dentre os arbustos que rodeavam a clareira. Um segundo após, Gorstein caía ao chão, uma mancha vermelha alargando-se sobre o peitilho da camisa bran¬ca. Fora mortalmente atingido no coração. CAPÍTULO UM Naquele verão agitado de 1865, a grande sensação da temporada londrina eram as festas deslumbrantes oferecidas pelos príncipes de Gales. Determinados em fazer da vida um culto ao prazer, o jovem casal recebia em seus lalões o que havia de melhor na sociedade de Londres. Seus convites, muito disputados, eram um atestado de int ...

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