Livro: A esposa comprada Página 2

... ilhar seus conhecimentos e corpo bem delineado com as mulheres que escolhia. Mas, quando o assunto era compromisso, ele se transformava no homem mais arisco que ela já conhecera. — Bem, ele não poderá causar muitos prejuízos ao nosso negócio — Flo falou em tom conciliador. — Nas noites de sábado, tenho de recusar fregueses. Algumas dúzias de noivas não vão fazer tanta diferença, numa cidade em franco crescimento. — Ele garante que está trazendo quinhentas delas: um navio lotado de solteironas amargas, ansiosas para acabar com o bom humor dos bons cidadãos de Seattle — Austin comentou com uma careta, que não chegava a disfarçar-lhe os belos traços. Flo estendeu a mão e afastou uma mecha de cabelos de sua testa. — Ora, Austin, querido — murmurou — se elas são tão ruins quanto você diz, nosso estabelecimento terá mais movimento do que nunca. O humor irreprimível de Austin voltou a dominá-lo. — Tem razão. O fato de um homem estar amarrado, não quer dizer que não possa comer um pouco da grama do outro lado da cerca, de vez em quando. Flo sacudiu a cabeça. — Você é um homem mau, Austin Matthews — declarou com falso ar de reprovação. Austin atirou a cabeça para trás, numa gargalhada. Florence McNeil jamais estivera na Escócia, mas sua voz carregava o tom profundo de seus antepassados. E ela podia aplacar seus piores humores. Os cabelos de Flo deviam ter sido ruivos de verdade, em algum ponto de sua vida. Agora, porém, exibiam uma tonalidade vermelha que podia ser vista a quarteirões de distância. Definitivamente, não se tratava de uma cor que o bom Deus houvesse incorporado a qualquer criatura viva. No entanto, a inteligência e o tino comercial apurado de Flo eram mais que suficientes para compensar sua aparência atrevida. Embora houvesse sido o dinheiro de Austin que dera início aos negócios do Dama de Ouro, ele tinha de admitir que fora a administração de Flo que fizera o negócio prosperar. Era, a ...

ora, um dos estabelecimentos mais bem sucedidos no distrito cada vez mais notório de Skid Road, em Seattle. Caminharam em silêncio por alguns momentos, por entre as luzes do distrito comercial, que brilhavam por trás das janelas de papel das residências construídas às pressas. Ocasionalmente, via-se o brilho da luz através de uma janela de vidro, embora as cortinas fossem raras. Tais amenidades ainda não haviam chegado a Seattle, um porto em franco desenvolvimento. — Como ele planeja encontrar quinhentas mulheres? — Flo perguntou. — Mercer afirma que há uma verdadeira legião de mulheres, no leste, à procura de homens. Ao que parece, a guerra praticamente pôs fim aos pretendentes locais. Flo assentiu com seriedade. A Guerra Civil que arrasara o leste da nação por mais de três anos sangrentos, não chegara a afetar os cidadãos do oeste. Mas era difícil encontrar alguém que não tivesse parentes por lá, e que não houvesse sofrido com a perda de um ente querido. — Bem, elas certamente vão encontrar ampla escolha por aqui — concluiu e lançou um olhar malicioso para o companheiro. — Talvez você devesse considerar a ideia de comprar uma para você, Austin. Afinal, trezentos dólares não representam nada no seu bolso. Austin parou de repente e, segurando Flo pelos ombros, girou-a para encará-lo. Ela parecia bonita e quase jovem, uma vez que a espessa camada de maquiagem não se mostrava à luz fraca da noite. Ele se inclinou e depositou-lhe um beijo ruidoso nos lábios. — Trabalhei duro para ganhar o dinheiro que tenho, querida Flo. E, prometo a você que, se existe algo em que não pretendo gastá-lo, é numa noiva. CAPÍTULO I Seattle, Território de Washington, maio de 1866. "Querida Cassie, Pelo que já lhe contei, você pode concluir por si mesma que, apesar de suas preocupações e daquele editorial horrível do Herald, o Sr. Mercer tem agido como um perfeito cavalheiro. Devo admitir que estou sentindo ...

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