Livro: A Espiã Que Me Amava Página 2

... ho limpador de chaminés, que vivia à toa lá em seu clube. Não tinha por que passar por tudo isso. De repente, deu-se conta de que estava diante do padre. E, com a impressão de que realmente iria passar mal do estôma¬go, correu a tomar o braço da noiva para entregá-lo à mão do noivo. Ainda bem que quem se casava era sua irmã, Agatha, e não ele. Um mês depois. A luz da iluminação pública projetou-se sobre a pele acetinada daquele belo naco de coxa, compreendido entre os ba¬bados da calçola e da liga, a segurar a meia preta pouco acima do joelho. Foi apenas um vislumbre, inesperado e fugaz, mas que teve o efeito de fazer James Cunnington, que passava pelo parque, parar de supetão. Quanto tempo fazia que não via a coxa desnuda de uma mulher? Três meses? Quatro? A última vez tinha sido na noite em que sua amante dera um jeito de sequestrá-lo, depois que deixara a casa dela ao término de mais uma sessão de pecaminosos prazeres nas mãos hábeis da mulher mais inebriante que já havia conheci¬do. Atacado na rua por um bando de mastodontes, recuperara os sentidos para descobrir-se prisioneiro da linda e depravada lady Lavinia Winchell, espiã francesa e homicida diletante. No final das contas, porém, não só conseguira escapar como também frustrar os planos dela de assassinar o primeiro-ministro. O ferimento a bala ainda não totalmente cicatrizado em seu ombro doía só de ele relembrar o episódio. Menos mal que Lavinia se achasse agora na prisão, sob o jugo da Coroa, de onde sairia para subir ao cadafalso e enfim pagar por todos os crimes que tinha cometido. Ao voltar a atenção ao ponto da rua de onde partira o inopinado assalto ao seu desejo, viu a dama usar a perna par¬camente exposta para subir num banco de pedras a fim de espiar por sobre a sebe alta que fazia o limite entre aquela área do parque e o centro da praça. E, decerto comum olhar de cachorro pidonho, assistiu ao momento em que o amontoa¬do de anáguas, saias e ...

anto tombou sobre as pernas esguias e elegantes, dando fim à experiência mais próxima à sensuali¬dade que tinha em meses. Que pena. Perdido em suas contemplações, demorou a se dar conta do adiantado da hora. Havia muito que o poente cedera lu¬gar à noitinha, e somente os lampiões da iluminação pública ao redor da praça se contrapunham à mais completa escuri¬dão. Estranho. O que fazia uma mulher sozinha num parque tomado pelas sombras no meio de Londres? Verdade que se encontravam em Mayfair, porém até mesmo aquele enclave de requinte e opulência no coração da cidade oferecia seus perigos. Ele próprio fora atacado nesse mesmo parque naquela fatídica noite de tempos atrás. Aproximando-se de mansinho, buscou um lugar de onde pudesse ver melhor a figura envolta num manto pardo que, no momento, parecia tentar se misturar à folhagem da cerca viva. Era evidente que a dama não ouvira seus passos sobre o passeio de lajotas e, portanto, ainda não se dera conta da presença dele por ali. Tudo indicava que ela estava bem mais interessada no que havia do outro lado da sebe de buxos. E, até onde ele sabia, a única coisa que havia do outro lado da cerca e da rua era uma casa. A sua casa. Continuando a avançar silenciosamente, foi colocar-se atrás dela, que, firme no propósito de espreitar fosse o que fosse do lado de lá da sebe, tinha se posto na ponta dos pés. — Posso saber o que está espionando? Com o susto, Phillipa Atwater deu um pulo, e a sola de seus sapatos muito gastos deslizou pelo limo umedecido de orvalho sobre o banco de pedra. Desequilibrada, ela tom¬bou para trás. E certamente teria se estatelado de costas no chão, não fosse o par de braços que correu a ampará-la e levá-la para junto de um tórax largo. Ao ver-se agarrada por um desconhecido em plena escuridão do parque, Phillipa desatou a debater-se. — Ah, então é assim que você recompensa o herói que a poupou de um belo tombo? Ela ficou rija. Por sorte, ...

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