Livro: A Encantadora Kate Página 3

... olhar pela figura delgada de Kate e balan¬çou a cabeça. Kate pensou ter entendido o gesto. Era baixa e magra demais e devia estar parecendo ridícula no belo traje de noiva. Possuía cabelos vermelhos rebeldes e olhos de uma cor imprecisa, que não eram nem verdes nem azuis. Enfim, era uma mulher sem graça que jamais se sentira bem com sua própria aparência. Essa era Kate Frazer, segundo a opinião de Kate Frazer. Julia murmurou: — Não faz sentido, Kate. — E por que não? Julia suspirou. — Porque lorde Calfield pode ter seus defeitos, mas é um cavalheiro. Os lábios de Kate se curvaram com sarcasmo. — O marquês de Sade também era um cavalheiro. O que isso tem a ver com o assunto? — Tudo, como bem sabe — replicou Julia, franzindo a testa. — Luc não faria uma coisa dessas. Não correria o risco de ser condenado pela alta sociedade e de, talvez, ser processà&o por quebra de compromisso. — O que apenas revela como estava desesperado para escapar de mim. Julia tornou a fazer uma careta. — Ora, Kate! Deixe-o ao menos se justificar! Converse com ele antes de condená-lo. Kate apenas resmungou; não se sentia disposta a ofere¬cer o beneficio da dúvida para lorde Calfield. Não depois de ficar quase uma hora sozinha no altar, ouvindo risadinhas abafadas e cochichos às suas costas. Na verdade, tudo o que desejava era esquecer a existência de Luc. Que fosse para o inferno! Fizera papel de idiota e para quê? Por um noivo que a considerara apenas um mal necessário para obter uma fortuna? Por um pai que estava ansioso para atirá-la nos braços do primeiro cavalheiro que a aceitasse? Para acalmar sua própria insegurança? A vida inteira se esforçara para desempenhar o papel da dama de sociedade perfeita. Depois que sua mãe abandonara a família por causa de um aventureiro charmoso e fora para Paris, tornara-se dolorosamente óbvio que Kate estava sem¬pre sendo examinada e julgada. Do pai aos criados, todos ha¬viam aguardado pa ...

a determinar se herdara algo mais do que apenas os cabelos avermelhados e o corpo delgado da mãe. Ela era lembrada com freqüência de que sangue ruim permanecia nas veias, e que era seu dever provar ser capaz de superar qualquer mau impulso que tivesse. Bem, no momento estava farta de ser a sensata srta. Frazer! Havia feito tudo o que lhe pediram. Seguira todas as regras. Submetera-se com humildade à opinião dos outros. Um dia morreria, e qual seria o epitáfio? "Aqui jaz uma velha solteirona amarga e digna de pena, que morreu sozinha em sua cama fria sem ninguém para pranteá-la." Tal pensamento a fez estremecer da cabeça aos pés. — Não, Julia, não tenho o menor interesse em rever Luc. Mesmo que me procurasse com um saco cheio de desculpas trágicas, não consentiria em me casar com ele. Não depois do que aconteceu hoje. Sem dúvida surpresa com a súbita e incomum teimosia da prima, Julia arqueou as sobrancelhas. — Está nervosa e aborrecida, o que é compreensível — disse em tom conciliador. — Quando tiver a oportunidade de pensar melhor. — Já pensei bastante — interrompeu Kate com um novo brilho desafiador nos olhos. — Talvez pela primeira vez na minha vida. E devo lhe dizer que cheguei a estranhas e desagradáveis conclusões a meu próprio respeito. — O que quer dizer com isso? Kate tentou colocar as idéias em palavras. — Quando fui obrigada a ficar de frente para o altar, pensei no meu futuro. Julia sorriu com compreensão. — Qualquer mulher no seu lugar se sentiria traída, Kate. — Não, foi mais que isso — insistiu. — Percebi, de repente, que nunca fui feliz de verdade. Julia sufocou um grito de espanto, olhando de manei¬ra deliberada em volta do quarto luxuoso que faria uma princesa sentir inveja. — Deve estar brincando! Você tem tudo o que uma moça pode desejar. Riqueza, posição social e um noivo que faz as outras suspirar. Um mês antes, Kate talvez concordasse. Sentia-se segura em seu mundo ...

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