Livro: A Encantadora Kate Página 2

... ém, Kate mal prestava atenção nos seus sa¬patos de cetim jogados sobre o tapete com motivo floral; ou como as janelas em estilo gótico refletiam a pálida luz do sol de novembro. Longe de se sentir calma, Kate procurava alguma coisa para atirar na parede. De preferência, seu noivo. Maldito Lucius Jonathon Duval, conde de Calfield! Já fora ruim saber que Luc iria se casar com ela apenas por interesse, pois receberia um vultoso dote de seu pai. Durante seu curto noivado, Luc a visitara só meia dúzia de vezes. E mesmo assim, Kate tinha certeza, apenas para se assegurar de que ela não mudara de idéia. E agora. aquilo! Aproximando-se de uma mesinha que exibia a coleção de bibelôs chineses, presente de casamento da tia de Luc, Kate estava para dar meia-volta e retornar às suas passadas, quan¬do estacou de repente. Por um instante fitou os pequenos objetos inúteis, e então fez o inesperado. Erguendo um dos bibelôs da mesa, Kate se voltou e o atirou na porta. Para sua surpresa, o som da porcelana se espatifando lhe causou uma enorme satisfação. Talvez não tão grande como seria se pudesse fazer aquilo com a formosa cabeça de Lucius Calfield, mas naquele momento precisava desabafar com o que tinha à mão. Pegou outro bibelô e fez o mesmo com um gesto rápido. Porém, antes que o objeto caísse no chão, a porta do quarto se abriu, e uma jovem morena e alta se curvou depressa diante do ataque, soltando um gritinho. — Kate! Julia Alexander se aprumou para fitá-la com um olhar que revelava o medo de que Kate tivesse enlouquecido. — Você está bem? Kate curvou-se para examinar o vestido de noiva que custara uma fortuna a seu pai e que ela ainda tinha no corpo. — Oh, estou ótima! — respondeu, irônica. Julia a encarou com dúvida. — Tem certeza? — Por que não estaria? — Lançou um sorriso amarelo à prima. — Adoro passar horas com papelotes nos cabelos, me sentindo agarrada e puxada de um lado para o outro, sufocan¬do de ...

tro de um espartilho que mais parece uma ferramen¬ta de tortura, e tudo para ficar de pé sozinha no altar diante de centenas de pessoas que compareceram para testemunhar minha humilhação. Julia fez uma careta. — Desculpe, querida. Foi uma pergunta ridícula, conside¬rando as circunstâncias. Kate deixou escapar um suspiro. — Não, sou eu que peço desculpas. Não deveria ser sar¬cástica com você. Esse fiasco sem dúvida não foi culpa sua. Julia deu um passo à frente, preocupada. — Quer conversar a respeito? Kate deu de ombros e cruzou os braços. — Conversar sobre o quê? Fui rejeitada, e pronto. Não há o que comentar. Os lindos olhos escuros de Julia, que Kate sempre inve¬jara em segredo, se estreitaram. — Tem certeza? — Como assim? — Tem certeza de que lorde Calfield a rejeitou? Kate piscou diversas vezes, imaginando se a prima andara provando o champanhe que seu pai comprara para ser servi¬do após a cerimônia de casamento. Era a única explicação para ela fazer aquele comentário. — Acho que é mais do que óbvio, não, Julia? — Mas. e se houve algum imprevisto que o tenha impedido de vir? Algum motivo grave? Kate sorriu com ironia. — Acha que ele talvez tenha sido capturado por pira¬tas? Ou quem sabe enlouqueceu, e está vagando sem rumo pelas campinas? — Claro que não! Mas pode ter acontecido um acidente. Kate franziu os lábios. Podia ser ingênua para uma moça de vinte e quatro anos, mas não era imbecil. Enchendo-se de paciência, respondeu; — A casa dele fica a menos de três quilômetros da igreja. Se tivesse acontecido um acidente, nós saberíamos. Julia ergueu os braços. — Ele pode ter adoecido. — E nenhum criado teria vindo me avisar? Realmente, Julia, você está tentando tirar leite de pedra. A verdade é dolorosa, porém óbvia. Meu noivo acabou chegando à con¬clusão de que o generoso dote que lhe era oferecido não valia o sacrifício de se casar comigo. Julia passeou o ...

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