Livro: A dama do meu coração Página 2

... �quete do rei, tornando-os fiel à moda da época. Também quero deixar claro que me vali de uma licença poética para inverter dois dos fatos históricos em favor do ro¬mance dos personagens centrais: o banquete do rei aconteceu em 24 de junho e a Missa na arena dos torneios foi celebrada em 23 de junho. Não, eu não inventei a história do dragão e dos fogos de artifício ela realmente aconteceu assim, embora ninguém saiba quem foi o responsável por isso. Tori Phillips CAPÍTULO I "Todas as mulheres com esse temperamento foram cortejadas! Ou será que todas as mulheres com esse temperamento foram apenas subjugadas?" RICARDO III Segunda-feira, 11 de junho de 1520 - Acampamento Inglês - Campo do Pano de Ouro, Vale D\'Or entre as cidades de Guines e Ardres, França. Rosie tentou firmar o pé descalço sobre a madeira áspera da tampa do barril e cambaleou ligeiramente. Enchendo-se de coragem, ergueu o queixo e encarou o inferno que era a realidade que se apresentava diante de seus olhos assustados. Apesar de a noite estar quente e agradável, seu corpo estremeceu sob a saia empoeirada e rota. A apreensão fê-la sentir um terrível frio na barriga. Pressionando os lábios até formarem uma linha dura, esforçou-se por ignorar as faces voltadas em sua direção, mas essa era uma tarefa quase impossível. A lúgubre platéia constituía-se de homens que a observavam com indisfarçável desejo. Todos haviam se reunido do lado de fora da tenda de Quince, com o único propósito de darem um fim à inocência de uma pobre virgem: ela própria. Rosie engoliu em seco, então passou os dedos por entre os cabelos emaranhados, afastando-os dos olhos. Tinha decidido que não os deixaria perceber o quão aterrorizada estava. Porém, não conseguia esquecer que dentro de poucas horas seria violentada por um desses homens de sorriso asqueroso e olhar demonía¬co. Com certeza, ali estaria o começo de seu fim. Pouco atrás dela, Peter Quince, o alcovi ...

eiro, bateu-lhe nas costas com um bordão improvisado, trazendo-a de volta à dura realidade que a afligia. — Sorria maldita! — rosnou Quince por entre lábios semicerrados. — Mostre a eles que você tem todos os dentes. Aturdida, Rosie exibiu um arremedo de sorriso. Imediatamente, o burburinho de vozes transformou-se em assobios e comentários obscenos. Os in-teressados em dar um lance pela mercadoria ofere¬cida aproximaram-se ainda mais do barril, trans-formado em um palco improvisado. — Mostre-nos a mercadoria como se deve, Quince! — gritou alguém, no tom arrastado característico da embriaguez. Aproveitando a deixa, muitos outros assobiaram e fizeram a mesma exigência. Rosie tentava desesperadamente ignorar o mar de rostos asquerosos. Era impossível. Unindo as mãos, mergulhou as unhas na carne macia e fez o que pôde para controlar os tremores que lhe sacu¬diam o corpo jovem. Todavia, logo um outro homem ergueu a voz acima das demais: — Ilumine-a melhor! Deixe-nos ver se a mocinha é tão inocente quanto você diz! — Isto mesmo! — concordou alguém. — Eu até já me esqueci de como é uma virgem. Rosie estremeceu. Nem mesmo Quince sabia que ela havia perdido a virgindade há algum tempo. Por um instante, foi dominada pela lembrança do rosto bonito daquele que a seduzira. Simon Gadswell e suas promessas mentirosas eram a razão de ela es¬tar ali agora, sendo leiloada como se fosse um animal doméstico, ou mesmo um objeto de uso pessoal da¬queles homens rudes, que poderia ser usado e jogado fora sem o menor pudor. Sim, não demoraria muito e seria vendida para o maior lance da noite. Então teria de ser esperta o bastante para usar o sangue de porco que man¬tinha escondido num frasco preso à cintura da saia. Isto porque, se não sangrasse como uma virgem, Quince a espancaria sem a menor piedade. Como se para confirmar que ela estava certa em temê-lo, o grotesco alcoviteiro empurrou-a para fren¬te em seu palco improvisado ...

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