Livro: A Dama da Água Página 3

... a permis¬são para usar aquele manto. Era uma regra que ele mesmo havia criado. Sentia-se ainda ultrajado diante da ousadia daquela desconhecida, quando ela lhe pousou a mão gelada sobre a face. — Você está com febre — diagnosticou ela. — Veio me procurar bem a tempo. Compreende o que eu digo? — ela quis saber, pois ele ainda não havia dito uma única palavra. — Tire essa túnica e me conte qual é o seu problema. Rhoenne não sabia o que ela queria ouvir. — Não posso começar a curá-lo se não souber o que pre¬cisa ser tratado. Há quanto tempo está doente? — ela o inter¬pelou, enquanto erguia a barra da túnica de Rhoenne, de maneira a examinar-lhe o ventre. O vento contra a pele causou-lhe um arrepio. — Você não está bem, mas é grande, forte e está. em excelente forma. — Ela o encarou por um momento. — Não vai me machucar, não é? Entende o que eu digo? Ele assentiu com a cabeça e suspirou. — Ótimo! — ela exclamou, satisfeita. — Sou conhecida como a Dama da Água. Sou uma curandeira e você parece estar precisando de cuidados. Rhoenne fez outro movimento afirmativo com a cabeça. Mal podia crer que pudesse ter tido tanta sorte. Por mais estranha que aquela mulher lhe parecesse, não estava em condições de questioná-la. — Não sou uma bruxa, quero deixar isso bem claro — ela se apressou a esclarecer. Rhoenne arqueou as sobrancelhas em silêncio. — Jamais pratiquei bruxaria — ela fez questão de garantir ainda mais uma vez, enfatizando o que dizia com um movi¬mento negativo do dedo indicador. Rhoenne prendeu a respiração ao vê-la erguer as saias e sentar-se sobre seu peito, colocando uma perna de cada lado. O contato com aquelas pernas ainda úmidas provoca¬ram-lhe tremores ainda mais intensos. Por fim, e pior de tudo, ela colocou as mãos gélidas sob sua túnica, diretamente sobre seu coração. No instante seguinte, ele sentiu o coração bater mais rápido e, constran¬gido, temeu que a D ...

ma da Água pudesse perceber o quan¬to o tinha afetado. Tornando a fitá-la, viu-se forçado a admitir que não havia sido justo ao avaliar, num primeiro momento, a aparência daquela mulher. Ela era muito bonita. Tinha sobrancelhas negras perfeitamente desenhadas, cílios longos e delica¬damente separados em tufos, maçãs do rosto altas e lábios carnudos. Os dentes eram alvos e perfeitos. Ficou curioso para saber a cor dos cabelos dela e sentir a textura dos fios por entre os dedos. — Não vou conseguir trabalhar se insistir nesse tipo de pensamentos, senhor — ela advertiu, enquanto inclinava a parte superior do corpo sobre ele. Rhoenne sentiu-se enrubescer. Aquele procedimento lhe parecia estranhamente familiar, embora nunca o tives¬se experimentado antes. Ele a observou arquear o corpo sobre o seu, absorvendo os primeiros raios de sol da aurora. Sentiu-se novamente sem fôlego, mas dessa vez por uma razão absolutamente nova, à medida que a luz resplandecia sobre as feições da Dama da Água. Ela não era apenas bonita, concluiu, enquanto buscava um adjetivo que pudesse defini-la melhor. — Você foi ferido — ela murmurou baixinho, olhando no fundo dos olhos de Rhoenne. — Um objeto de metal atin¬giu a parte inferior de sua perna e ainda não havia procurado ajuda. Sua intenção era esconder o ferimento, não é mesmo? Nem sequer se deu ao trabalho de lavá-lo. De duas, uma: ou é corajoso demais, ou muito tolo. Se não tivesse me encontrado, seu corpo inteiro estaria envenenado! — ela exclamou, a fim de repreendê-lo pelo pouco cuidado que dedicara a um ferimento tão sério. Ao perceber que Rhoenne a fitava com olhos surpresos, ela deu uma piscadela, fazendo-o enrubescer, sem conseguir disfarçar. — Não precisa ter medo de mim. — Ela procurou dei¬xá-lo mais à vontade. — Sou uma curandeira. É verdade que meus métodos são estranhos, mas asseguro que posso curá-lo. Deseja que eu prossiga? — ela interpelou. Rhoenne assent ...

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