Livro: A Condessa de Hart House Página 2

... struir. — Por que meu pai me deixou estudar arquitetura? Deveria ter sido encanador, eletricista. algo útil. Cento e oitenta e duas pessoas que trabalhavam ali dependiam da propriedade para sobreviver. Eram nove hectares de jardins, gramados, bosques e riachos que necessitavam de cuidados. Outros quatrocentos hectares eram cultivados. O pequeno vilarejo existia principalmente por causa da propriedade, e toda aquela responsabilidade recaía sobre os ombros do conde, além de uma dívida no banco que tirava seu sono. Fazia dias desejava desistir, vender a propriedade com sua história, estirpe, relíquias de família de valor inestimável e seus problemas, e mudar para um loft em Manhattan. Não, Manhattan não. Algum lugar bem mais novo, onde ninguém desse a mínima para realeza, nobreza ou antiguidade. Talvez Los Angeles, ou Sidney. Seu sonho começou a tomar forma ao imaginar praias com garotas de biquíni, bronzeadas, um mar azul e quente, onde ninguém esperava que um solteiro de trinta e dois anos fosse o responsável por um lugar de quase quinhentos, e que já demonstrava sinais da idade. George suspirou. Sentia falta de tanta coisa em Londres que um encanador para consertar o toalete era a menor delas. A morte do pai o havia trazido de volta à Hart House e, por causa de seu luto e dever, não voltara para a cidade. A propriedade ficava a apenas duas horas de Londres, de trem, mas para ele pareciam dois mundos diferentes. — Veja se consegue o telefone de Chumley, Wiggins. Vou ligar para ele. — E quanto às peônias, senhor? Peônias e toaletes. A vida da nobreza era mesmo de invejar. — Falarei com o jardineiro. Talvez possamos colocar um muro entre o playground e o jardim. — Isso acabaria com a vista das peônias, milorde. — Talvez ele possa transplantar suas queridas peônias. — Sim, senhor. George nunca conseguira acabar com a mania do mordomo de chamá-lo de milorde e senhor. Algumas vezes se perguntava como seria capaz de pagar ...

todas as dívidas, se nem ao menos conseguia mudar os hábitos de seus funcionários. — Vamos, diga que tem boas notícias. — Não sei se são boas notícias, milorde, mas há uma jovem que quer vê-lo. — Sério? É bonita? Isso seria uma boa notícia. — Ainda fantasiava com garotas de biquínis. — Não sei senhor, é americana. — Turista? — Algumas vezes os encontrava e os cumprimentava no final dos passeios. — Uma documentarista. — Por que não disse logo? Deixou-a esperando todo esse tempo? — Levantou-se de supetão e colocou um blazer azul-marinho por cima do suéter. — Precisamos impressionar essa mulher, Wiggins. Ela trabalha para uma produtora que fará uma série de programas sobre. bem eu esqueci sobre o que é. Mas o importante é que eles pagarão uma boa quantia pela locação. Poderemos usá-la para pagar o encanador. Além disso, acho que a publicidade vai ajudar a trazer mais turistas e aumentar a receita. Houve certa emoção no rosto de Wiggins, e George soube que o mordomo pensava nos bons e velhos tempos, quando a propriedade tinha mais prestígio e não era apenas um ponto turístico. — Eu o levarei até ela agora mesmo. — Não precisa se incomodar. Irei até lá sozinho. Maxine Larraby examinou a decoração exagerada da sala de estar que parecia um museu. Havia vermelho demais e, se filmassem ali, o documentário seria confundido com um desses programas médicos em que colocam uma câmera no interior de um corpo. Na verdade, não estava muito certa sobre aquele projeto. Hart House possuía uma história interessante e fora um hospital na Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, se não conseguisse achar um ângulo e um fundo que fosse melhor do que aquele cômodo vermelho e cheio de porcelanas, poderia passar para a possibilidade seguinte de sua lista, livrando-se de muitos problemas. Ainda mais se fosse ter de ficar esperando por tanto tempo. Impaciente como sempre, foi até a janela e examinou a paisagem ...

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