Livro: A Casa do Desejo Página 2

... até sentir-se segura para se relançar como Cassandra. A tática fun¬cionou. Portas que antes tinham sido fechadas na cara de Caz Ryan foram abertas com sorrisos para Cassandra Bailey Brown. Remexendo-se, Caz tentou encontrar uma posição melhor, mas só conseguiu comprovar que, enquanto na cidade Cassandra olhava de cima para todos, ali no campo ela não conseguia sequer enxergar por cima dos arbustos. Caz tremia tanto que não conseguia se concentrar. Começava a dar-se conta de que estava presa num carro à noite, e que não havia ninguém para ajudá-la além do homem a quem ela havia cortado na estrada, e que agora desaparecera. Ela nem mesmo conseguia alcançar o celular. Tentou gritar. O silêncio sufocou a audácia de Caz. O silêncio no campo era mais profundo que o silêncio na cidade. Além do uivo do vento proporcionando uma trilha sonora de filme de horror, ela não escutava nada que sugerisse a existência de qualquer ser humano num raio de quilômetros. E se o homem tivesse ido embora? Ali não era Londres, onde os carros não paravam de passar. Era Hawkshead, último marco de civilização antes dos pântanos. Caz estremeceu quando uma sombra se avultou sobre ela. - Não fique parado aí! Faça alguma coisa! - exigiu. O homem não se moveu. Talvez estivesse avalian¬do a situação. A única certeza era de que a confiança de Cassandra não sobrevivera à viagem. O homem se afastou, e seus passos soaram cada vez mais dis¬tantes. - Volte aqui! Não me deixe! - gritou Caz. Por um momento, sentiu-se reconfortada pela sombra, mas agora se sentia pior que antes. Caz devia estar apelando aos instintos bons do homem, não gri¬tando com ele. Afinal de contas, fora ela quem causa¬ra o acidente. Quase deslocando o pescoço, Caz conseguiu olhar pela janela, mas o ângulo era tão ínfimo que só conse¬guiu ver que o homem estava um pouco longe. Con¬tudo, notou que ele era alto e esbelto, com ombros poderosos preenchendo plenamente a jaque ...

a puída. O corpo de Caz respondeu com um estremecimento muito diferente do causado pela tensão da batida. Mas será que aquele homem pretendia ajudá-la? Precisava manter-se calma. Cassandra jamais perdia o controle ou a direção, mas isso em Londres. Ali, em Hawkshead, Cassandra não tinha a menor utilidade. Assim, Caz estava sozinha na escuridão com um estranho. Abraçando-se, continuou a tremer. Cassandra jamais tremeria. Cassandra era forte. Recentemente, fora nomeada diretora da Brent Construction em Leeds, uma das cinco principais compa¬nhias do país. Precisava estar de volta ao escritório na segunda, quando o novo presidente ouviria os relatórios de sua equipe. Seu novo chefe, Brent Jr., transformara um confor¬tável negócio de família numa empresa internacional, e se dizia à boca pequena que ele arrancava sem pie¬dade todos os elos fracos de sua corrente. Caz sabia que negócios são negócios e não esperava qualquer condescendência, mas depois de tanto esforço para chegar ao topo, não queria cair. Era graças ao seu alter ego Cassandra, que Caz estava ali em Hawkshead. Cassandra jamais perdia uma oportunidade de promover sua carreira. Por isso, Caz trocara o frenesi de Londres pela promessa de um cargo melhor e uma casa grande em Yorkshire. A casa em Hawkshead, a vinte minutos de Leeds, fora uma surpresa, a herança de uma tia que não co¬nhecera. Caz, que jamais ganhara nada na vida, her¬dara uma casa. O pensamento deu-lhe forças para outro grito. Fora para ver essa casa que Caz saíra do trabalho em Leeds e viera até Hawkshead. Caz não ouvia nada além dos pios das corujas. Odia¬va a sensação de estar indefesa, ainda mais com a reunião de segunda de manhã pairando no horizonte. Virando o pescoço de novo para olhar pela janela, viu que o homem voltara. Estava de pé acima dela segurando uma tesoura imensa. Por algum motivo, um latejo quente substituiu os arrepios pelo corpo. - Liguei para a emergência - comunicou o es ...

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