...
CAPÍTULO I
Laura Cambridge ergueu o olhar para o castelo de pedras cinzentas e imaginou o que encontraria lá dentro. O príncipe encantado ou o dragão?
O dragão provavelmente, imaginou, se fossem verdadeiros os boatos que ouvira do pessoal da cidade, na viagem de balsa até a linda ilha. Será que Richard Blackthorne sabia como era temido?, pensou, observando as pedras enormes e as janelas em arco, enquanto o táxi entrava no caminho que conduzia à entrada. A enorme estrutura tinha até ameias, além da torre principal.
Laura via apenas solidão por toda parte.
— Senhora. — disse o motorista, ao parar em frente da casa enorme. — Tem certeza de que é este o lugar aonde quer ir?
Por que todos na ilha perguntavam a mesma coisa, como se estivesse indo para a forca? Blackthorne era apenas um homem, nada mais.
— Sim, tenho certeza, sr. Pinkney — respondeu, sem olhar para o motorista de meia-idade.
— O sr. Blackthorne não é um tipo simpático, como deve saber.
Não é de admirar, já que todos agem como se ele fosse capaz de morder, não acha? — Dessa vez ela fitou-o diretamente, erguendo uma sobrancelha.
O homem corou e então olhou novamente para a casa.
— Os boatos devem ter algum fundamento — resmungou, saindo do carro para pegar a bagagem de Laura.
Ela também saiu do carro e acompanhou-o, subindo os degraus da entrada.
Como uma serva do rei, havia sido contratada para ajudar a filha de quatro anos de Richard Blackthorne a acostumar-se a viver ali. A morar com um homem recluso, que vivia trancado num castelo, longe de qualquer contato humano. Pelo jeito, teria um bocado de trabalho, já que, de acordo com os boatos, ninguém pusera os pés na casa, além dos entregadores, nos últimos quatro anos. Laura sentiu pena da garotinha, que acabara de perder a mãe e tinha sido afastada do pai. Laura estava ali para conhecer o local, antes de a menina chegar.
O sr. Pinkney colocou as malas no chão. Ao virar-se para pagá-lo, Laura percebeu que escrevia algo num pedaço de papel. Assim que lhe entregou o dinheiro, o homem estendeu-lhe o papel.
— Aqui está meu telefone. Se precisar de alguma coisa é só chamar.
O gesto deixou-a comovida, mas não era necessário.
— Ele não é um monstro, sr. Pinkney.
— E sim. Grita com qualquer um que pisar nas terras dele, e quase fez picadinho do pobre garoto que entrega as compras da mercearia. Detesto pensar no que pode fazer com a senhora. — E quando Laura olhou-o com firmeza, o motorista olhou novamente para o castelo e suspirou. — Esta casa foi construída muitos anos atrás, por um homem que a ergueu para a noiva. Ela queria viver como uma princesa, e ele procurou atender esse desejo. Trouxe cada pedra do continente, e muitas coisas vieram da Inglaterra ou da Irlanda, pelo que ouvi dizer. Ela morreu antes que a casa estivesse terminada, ou antes, que o rapaz tivesse chance de casar-se com ela.
Que história triste, pensou ela, mas logo ergueu o queixo.
— Está agindo como se a casa fosse assombrada, ou amaldiçoada.
O sr. Pinkney não disse nada, olhando as pesadas portas duplas de madeira, como se fossem a entrada de uma caverna. Que bobagem, pensou Laura, erguendo a aldrava de bronze para bater na porta. Era a cabeça de um dragão. Bem, sr. Blackthorne, se queria manter as pessoas longe daqui, tem feito um bom trabalho. Ela bateu e esperou.
Imediatamente ouviu-se uma voz, soando no interfone à direita da porta.
— Entre.
A voz era profunda, um tanto rouca, e sem querer, Laura estremeceu, invadida por um sentimento de apreensão.
— Entende o que eu disse? — perguntou Pinkney.
— Bobagem — retrucou ela com firmeza, abrindo a porta e entrando. Um pequeno abajur, colocado sobre uma linda mesa de madeira entalhada, iluminava parcialmente o saguão. Ela colocou a bolsa e a valise de mão no chão e virou-se, vendo que o sr. Pinkney empurrava apressadamente as malas para dentro e se afastava para os degraus. Mas o gest...