Livro: A arte de amar Página 3

... para casa. — Posso? — Ele ficou contente com a sugestão, pela qual não esperava. — Eu gostaria muito. Pelo que vi ao entrar, você tem livros bem interessantes aqui. — Trabalhamos com edições especiais. Se houver algo específico. — Não exatamente. — Ele não parecia ter pressa em ir embora. — Linda loja a sua, não é mesmo? — Acho que sim. Todos os clientes gostam de vir aqui. De fato, Sarah achava sua loja atraente. O edifício era charmoso, e não se podia negar que também havia um ar de tranqüilidade no local. Seu pai amava a loja. Cada vez que pensava em vendê-la, entrava em profunda crise emocional. Arrependimento? Trabalhara tanto para organizá-la e agora tudo chegava ao fim. O que iria ele fazer depois? Ficaria perdido sem a loja. As vendas não andavam bem nos últimos tempos e por várias vezes Sarah pensara em procurar um trabalho em outro lugar. Mas o pai punha defeitos em todos os empregos que ela tinha em vista. — Você entende muito sobre livros — William dizia, e insistia que precisava dela para a restauração de obras antigas. Sarah era boa nisso e o pai confiava plenamente em seu serviço. Além do mais, ele estava freqüentemente fora; comprando, localizando edições, e sentia-se seguro sabendo que a filha ficava na loja. Mas vivia preocupado nos últimos meses. E não queria contar o que estava havendo, nem a ela e nem à tia Margaret, que morava com eles. A carta que chegara dias atrás não esclarecera nada. Pensando no caso, Sarah lembrou-se da súbita palidez que cobrira o rosto do pai quando a lera. Perguntara-lhe do que se tratava, mas ele recusara dizer. Pusera a carta no bolso e tudo o que Sarah conseguira ver de relance fora uma assinatura ilegível e o endereço: Houghton Wood Estate, o que para ela não significara nada. O desconhecido continuava na loja, ao seu lado. Pegara um livro que estava sobre o balcão, e folheava-o com muito interesse. — Gosto de livros antigos — disse. — Há ...

anto mistério dentro deles! Gosto do modo como foram escritos, dos assuntos. Não existe comparação com as montanhas de obras sem valor que nos são impingidas hoje em dia. — Não posso dizer que concordo inteiramente com você — murmurou Sarah. — Alguns livros ilustrados postos no mercado nestes últimos tempos têm uma apresentação maravilhosa e os livros infantis são lindos. E um prazer folheá-los, mesmo sem os ler. — Será? Imagino que por esse motivo as livrarias como a sua estão fechando — disse ele. E, quando Sarah franziu o sobrolho, prosseguiu: — Concorrência demais para cidade tão pequena. Não muitas pessoas estão interessadas pelo tipo de compêndios que você tem aqui. Não vê que está no local errado, escondida nesta aldeia? — Wellbrook não é propriamente uma aldeia. Uma cidade pequena, talvez — protestou Sarah. — Mas não é uma metrópole, concorda? Não acha que seu negócio iria bem melhor se estivesse mais próximo de uma verdadeira cidade? — Concordo que as pessoas não vão à procura de obras antigas como vão a um supermercado — respondeu Sarah. — E não se esqueça de que os aluguéis em cidades grandes são exorbitantes. — Talvez. — O desconhecido continuava examinando tudo, apreciando o velho mas bem cuidado balcão, e as sólidas estantes. — Esta propriedade sem dúvida é boa, mas o local é mais apropriado para uma padaria. Porém acho que já havia uma aqui na ocasião. O homem pensava em voz alta e passava agora a examinar a vitrina e o antigo e lindo relógio num canto da loja. — Diversificação — ele disse em voz alta. — Essa é provavelmente a resposta. Diversificação! — Você parece bem entendido no assunto — observou Sarah, agora ainda mais irritada. — Trabalha com imóveis? Ou está apenas interessado neste? Se me tivesse falado antes, eu o teria encaminhado ao nosso agente. Posso lhe dar o número do telefone dele. — Céus, não. Não vim aqui para comprar ...

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