Livro: Tudo por um beijo Página 3

... Suas preces foram ouvidas quando tempos depois mais uma carta chegou à Mansão Hickory. Jeffrey chamou a todos para uma reunião, Jedidiah logo acusou Eulalie de ter feito algo errado. Mesmo ofendida pela atitude do irmão, ela estava mais curiosa a respeito da reunião inesperada do que em brigas corriqueiras. Assim, colocou em pratica mais um ensinamento de madame Devereaux, arrebitando o nariz com ares de superioridade, levantou as saias e passou pelo irmão com a graça de uma donzela. Entretanto toda a pompa terminou dois passos adiante, ao tropeçar na pon¬ta do tapete, tropicando até apoiar-se em um móvel próximo. No segundo seguinte os charutos caros do irmão mais velho, a garrafa de conhaque, o móvel, e ela própria estavam no chão. Foram precisos três dias para convencer os irmãos, especial¬mente Jed, de que estava plenamente capacitada a viajar para as Filipinas, conforme o pai havia requisitado na carta. Ainda lembrava-se da emoção que a tomara quando Jeffrey lera a caria; o pai a queria nas Filipinas o quanto antes. Iniciou-se, assim, uma discussão de dias. Cada um dos irmãos tinha uma preocupação especial em deixá-la viajar sozinha. Mas havia sido Jed o mais implacável ao dizer que não impor¬tava aonde ela estivesse, acidentes aconteceriam. Todos a encararam com preocupação. Sem dar tempo para que repensassem a idéia de deixarem-na viajar, Eulalie se derramou em lágrimas, imersa nas profun¬dezas do desapontamento. Era a sua única e melhor arma para convencê-los a ceder. Entretanto, Deus parecia estar a seu lado, porque havia sido o sermão da missa de domingo que a livrara das pragas do irmão. O pastor escolhera aquela manhã para falar do quão pecaminosas eram as superstições, e que um bom cristão jamais deveria deixar-se sucumbir. Eulalie teve vontade de se levantar e correr para beijar o padre ao término do sermão. Três meses mais tarde, ali estava ela no quarto reservado na casa do pai em Manila, esperand ...

com a mesma ansiedade que a acompanhara por todos aqueles anos. Uma batida à porta a trouxe de volta dos pensamentos. Josefína, a governanta, entrou no quarto com um pedaço de papel nas mãos. — Lamento, senhorita, mas seu pai irá se atrasar pelo menos até a noite. Eulalie sentiu o estômago embrulhar. Mesmo com os olhos marejados, conteve o pranto. Mais uma olhada para o relógio, um respirar profundo e não lhe restava outra coisa a fazer do que aquilo que já estava tão acostumada: esperar. A mata estava ainda mais densa. O facão já havia perdido o fio. A vegetação bloqueava a passagem de Sam. Assim, ele deitou e começou a se arrastar pelo chão úmido. Alguns lagartos passavam velozes a seu lado, insetos corriam com agilidade pelos caules dos bambus. Folhas e pequenos galhos prenderam-se nos cabelos dele, puxados pela tira de couro do tampão de olho. Sam parou para tirar o galho que havia se embrenhado dentro da gola de sua camisa. Ao quebrá-lo notou um líquido viscoso que sabia ser venenoso. Por sorte não havia tocado sua pele. O som das botas dos guerrilheiros ecoou não muito distante dali. Sam conseguira abrir um pouco mais de vantagem. O suor brotava de quase todos os poros de seu corpo forte, o medo que o fazia encharcar-se ainda mais. Os ouvidos treinados capturaram o sibilar de uma serpente. Imóvel, ele virou a cabeça para um lado e para ou outro bem devagar. Ali estava ela, presa apenas pela metade do corpo em um arbusto. Logo o som dos facões abrindo caminho também se fez presente. Os olhos do pequeno réptil o encararam por alguns segundos para em seguida embrenhar-se novamente na folhagem. Os soldados se aproximavam com maior velocidade. Ainda imóvel, Sam sentiu o coração dar um sobressalto. Estava preso entre a cobra e os guerrilheiros. A rua estreita estava repleta de pessoas das mais diversas etnias, em especial espanhóis, chineses e nativos. A sombrinha cor-de-rosa sobressaía-se brilhante por cima das cabeças m ...

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