Livro: Nos Braços do Guerreiro Página 2

... , nas Terras Más, onde ainda pre¬cisavam finalizar o trabalho de secar e estocar a carne caçada antes de retornarem às sagradas Colinas Negras, Falcão da Guerra deduziu que não teriam tempo para ir até lá e retornarem a tempo de investir contra o invasor. Por isso, respondeu ao filho do chefe de guerra Mocho Azul: — Se fizermos isso, Arco Torto, eles estarão fora de nosso alcance quando voltarmos para cá. Escolho atacá-los agora pela segurança e sobrevivência de nosso povo e aliados. Se minha decisão for errada, aceitarei ser punido por ela, ainda que esse castigo seja o desterro ou a morte. Os casacos azuis serão li-quidados de modo rápido e misericordioso; não iremos tortu¬rá-los pelas palavras mentirosas e pelas ações perversas de seus líderes. Os demais assentiram. Respirando fundo, Falcão da Guerra concluiu: — Uma mulher viaja com eles. Não deve ser machucada, vou fazê-la prisioneira. Vocês concordam? — O filho mais novo do chefe Urso em Pé dos Oglala Escudo Vermelho es¬perou que os companheiros expressassem sua concordância, depois os instruiu: — Venham, vamos reunir os demais e nos preparar para investir contra os brancos. Nosso destacamento de caça deve se tornar um destacamento de guerra a fim de salvas nossas terras e nosso povo. Falcão da Guerra tinha os olhos fixos no avanço do inimigo: os intrusos e as carroças passavam agora pela área plana em meio às pradarias, por onde inúmeros Escudo Vermelho já es¬tavam espalhados. Quando o alvo chegou a um determinado ponto, a ofensiva foi desfechada e, sem demora nem falhas, os guerreiros lançaram-se de seus esconderijos, disparando um enxame de flechas contra os soldados estarrecidos. O assalto pegou o adversário completamente desprevenido e, um após o outro, os homens que vestiam uniformes azuis despencavam das selas de seus cavalos. Alguns deles ainda conseguiram sa¬car de suas armas e dispará-las, mas os tiros apressados e sem tomada de pontaria perdiam-s ...

no ar. Falcão da Guerra foi ao encalço do líder do grupo. Sem tempo para tirar da bainha de couro sua vareta de fogo e pre¬pará-la para disparar, o oficial sacou de uma espada e, girando a lâmina reluzente acima da cabeça, pôs-se a gritar impropé¬rios. Ignorando-lhe o laivo de coragem, o bravo Oglala aba¬teu-o com duas flechas disparadas com rapidez e precisão es¬pantosas. Depois, sem perda de tempo, galopou em direção ao próximo adversário. Não podia dar ao inimigo uma só chance de sobrevivência. Completamente aturdida, Caroline Sims assistia, imóvel, ao embate entre os soldados e os homens que tinham os corpos brônzeos protegidos apenas por calções e sapatos de couro mole, seus longos cabelos negros fustigados pelo vento. Eram como demônios cuspidos sem aviso das entranhas da terra. Talvez do próprio inferno. O barulho ao redor era apavorante: gritos e pragas, disparos de armas de fogo, relinchos de cavalos assustados, o troar fre¬nético de cascos e ferraduras de encontro ao solo. Poeira e relva destroçada erguiam-se no ar, flechas de pontas afiadas produziam um zunido de morte, sem que fosse possível preci¬sar de onde partiam ou aonde iriam se cravar. Quando Caroline virou-se sobre o assento duro, o sol, cuja posição indicava se¬rem duas horas da tarde, cegou-a momentaneamente, obrigando-a a cobrir a testa com a mão para que pudesse acompa¬nhar o que se passava diante de seus olhos assombrados. O medo que sentia era intolerável, com a boca e a garganta secas, tinha a sensação de estar vivendo o pior pesadelo que jamais sonhara, no qual simplesmente não conseguia mover um mús¬culo sequer. O condutor da carroça em que ela viajava tombara morto ao chão antes mesmo que os cavalos estancassem. Olhando ao redor com uma expressão abismada, Caroline deu-se conta de que não tinha para onde fugir ou se esconder, pois havia índios por todos os lados. Ainda que tivesse um rifle ao alcance da mão, estava certa de que seria ...

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