Livro: Quem conta em conto...
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Autor - Fonte: Machado de Assis
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Eu compreendo que um homem goste de ver brigar galos ou de tomar rapé. O rapé dizem
os tomistas que alivia o cérebro. A briga de galos é o Jockey Club dos pobres. O que eu
não compreendo é o gosto de dar notícias.
E todavia quantas pessoas não conhecerá o leitor com essa singular vocação? O
noveleiro não é tipo muito vulgar, mas também não é muito raro. Há família numerosa
deles. Alguns são mais peritos e originais que outros. Não é noveleiro quem quer. É ofício
que exige certas qualidades de bom cunho, quero dizer as mesmas que se exigem do
homem de Estado. O noveleiro deve saber quando lhe convém dar uma notícia
abruptamente, ou quando o efeito lhe pede certos preparativos: deve esperar a ocasião e
adaptar-lhe os meios.
Não compreendo, como disse, o ofício de noveleiro. É coisa muito natural que um homem
diga o que sabe a respeito de algum objeto; mas que tire satisfação disso, lá me custa a
entender. Mais de uma vez tenho querido fazer indagações a este respeito; mas a certeza
de que nenhum noveleiro confessa que o é, tem impedido a realização deste meu desejo.
Não é só desejo, é também necessidade; ganha-se sempre em conhecer os caprichos do
espírito humano.
O caso de que vou falar aos leitores tem por origem um noveleiro. Lê-se depressa, porque
não é grande.
II
Há coisa de sete anos vivia nesta boa cidade um homem de seus trinta anos, bem
apessoado e bem falante, amigo de conversar, extremamente polido, mas extremamente
amigo de espalhar novas.
Era um modelo do gênero.
Sabia como ninguém escolher o auditório, a ocasião e a maneira de dar a notícia. Não
sacava a notícia da algibeira como quem tira uma moeda de vintém para dar a um
mendigo.
Não, senhor.
Atendia mais que tudo às circunstâncias. Por exemplo: ouvira dizer, ou sabia
positivamente que o ministério pedira a demissão ou ia pedi-la. Qualquer noveleiro diria
simplesmente a coisa sem rodeios. Luís da Costa, ou dizia a
...
coisa simplesmente, ou
adicionava-lhe certo molho para torná-la mais picante.
Às vezes entrava, cumprimentava as pessoas presentes, e se entre elas alguma havia
metida em política, aproveitava o silêncio causado pela sua entrada, para fazer-lhe uma
pergunta deste gênero:
— Então, parece que os homens.
Os circunstantes perguntavam logo:
— Que é? que há?
Luís da Costa, sem perder o seu ar sério, dizia singelamente:
— É o ministério que pediu demissão.
— Ah! sim? quando?
— Hoje.
— Sabe quem foi chamado?
— Foi chamado o Zózimo.
— Mas por que caiu o ministério?
— Ora, estava podre.
Etc. etc.
Ou então:
— Morreram como viveram.
— Quem? quem? quem?
Luís da Costa puxava os punhos e dizia negligentemente:
— Os ministros.
Suponhamos agora que se tratava de uma pessoa qualificada que devia vir no paquete:
Adolfo Thiers ou o príncipe de Bismarck.
Luís da Costa entrava, cumprimentava silenciosamente a todos, e em vez de dizer com
simplicidade:
— Veio no paquete de hoje o príncipe de Bismarck.
Ou então:
— O Thiers chegou no paquete.
Voltava-se para um dos circunstantes:
— Chegaria o paquete?
— Chegou, dizia o circunstante.
— O Thiers veio?
Aqui entrava a admiração dos ouvintes, com que se deliciava Luís da Costa, razão
principalmente do seu ofício.
III
Não se pode negar que este prazer era inocente e quando muito singular.
Infelizmente não há bonito sem senão, nem prazer sem amargura. Que mel não deixa um
travo de veneno? perguntava o poeta da Jovem Cativa, e eu creio que nenhum, nem
sequer o de alvissareiro.
Luís da Costa experimentou um dia as asperezas do seu ofício.
Eram duas horas da tarde. Havia pouca gente na loja do Paulo Brito, cinco pessoas
apenas. Luís da Costa entrou com o rosto fechado como homem que vem pejado de
alguma notícia.
Apertou a mão a quatro das pessoas presentes; a quinta apenas recebeu um
cumprimento, porque não se conheciam. Houve um rápi ...
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