Livro: Desejos Velados Página 2

... pos. Pessoas fantasiadas dançavam e bebiam, borboletas bailando com monstros, sereias aceitando o braço de homens com máscaras de animais. O ar pesado carregava o aroma de festa, fumaça e velas derretidas, corpos perfumados e vinho, tempero e carnes defumadas. A dança terminou, e Kieran recusou o convite seguin¬te. Sentia a cabeça quente sob a peruca e o rosto suado embaixo da máscara. Precisava ir a um dos aposentos reservados para as mulheres, pois lá poderia remover a máscara e se refrescar. Encontrou Emeline sentada perto de uma janela. — Não se sente bem, Emeline? A máscara dourada se voltou para Kieran, e os olhos dela, visíveis por trás das frestas, pareciam brilhantes demais. — Eu estava bem, até que de repente comecei a me sentir fatigada e tonta. Deve ser o calor. — Venha comigo, e vamos tirar a máscara e a peruca. Você precisa de um pouco de água. Emeline assentiu e tentou se levantar, mas sentou-se novamente. — Acho que vou desmaiar. Tenho tido estas indispo¬sições freqüentemente desde que deixamos a Inglaterra. Disse a mim mesma que não era nada, mas agora. não ouso ter esperanças, mas não posso mais ignorar essas sensações. Tenho certeza de que espero outro filho, e temo o que será de mim, estando tão longe de casa, e com a viagem pela frente. E Rogan, ele vai ficar com medo que eu tenha outro aborto, e isso vai atrapalhar suas negociações comerciais. Não suporto a idéia de vê-lo desapontado outra vez. Odeio decepcioná-lo. Emeline nunca revelava nenhum temor quando fica¬va grávida, por isso Kieran ficou nervosa. Mesmo assim, não demonstrou o sentimento, mantendo a voz controla¬da e firme. — Bobagem. Você não o desaponta tentando dar mais um filho a ele. Ao contrário, faz meu irmão mais feliz do que jamais o vi, com ou sem filho. E não se preocupe com os negócios de Rogan. Essas coisas são pouco im¬portantes comparadas ao amor que ele sente por você. Não se preocupe, Emeline. Tudo vai ...

ficar bem. Kieran apontou para a porta, onde Nilo estava po¬sicionado, e fez um sinal pedindo que fosse ajudá-la. Seu guardião e amigo, Nilo era um ex-escravo que ago¬ra era pago por seu irmão, Rogan, para cuidar de sua proteção. Ela não podia mandar o serviçal ir buscar Rogan; sua posição não permitia que tivesse acesso aos aposentos privados. Mandou-o esperar ali, e depois voltou sua atenção para Emeline. — Respire fundo, e eu voltarei em alguns minutos. Kieran correu pelo salão de baile do palácio, àquela altura apinhado, os saltos estalando no piso de mármo¬re e os olhos atentos, procurando por Rogan. Desde a morte do tio, Rogan assumira o papel de du¬que de Eton com impressionante facilidade, cuidando da fortuna da família e fazendo-a crescer com seu conhecimento de comércio, navegação e mercados estran¬geiros. Comentava-se na Inglaterra que ele era mais rico que o rei, e embora Kieran não soubesse se isso era ver-dade, tinha mesmo a impressão de que tudo que Rogan tocava se transformava em ouro. Kieran sentiu cheiro de fumaça de charutos e ouviu vozes e risadas masculinas. Aproximou-se da sala com cautela, consciente de que era uma mulher sem compa¬nhia apropriada, uma presença imprópria em tal ambien¬te. Os homens teriam de perdoar seu desrespeito à eti¬queta. A saúde de Emeline era mais importante, e seu irmão certamente a entenderia e concordaria com ela. Emeline ansiava por um filho desde que se casara com Rogan, e várias gestações interrompidas não haviam en¬fraquecido sua determinação e esperança. Mesmo assim, Kieran reconhecia o perigo de passarem muito tempo em Veneza. Em todas as gestações de Emeline, ela havia abortado no segundo trimestre, e se estava sentindo tonturas desde o início da viagem, já devia estar chegando nesse período de risco. Uma viagem de navio oferecia perigos inerentes para uma pessoa saudável. Não queria nem pensar no que poderia representar para Emeline. Ela abriu a ...

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