Livro: Lágrimas de Xerxes
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Autor - Fonte: Machado de Assis
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Machado de Assis
SUPONHAMOS (tudo é de supor) que Julieta e Romeu, antes que Frei Lourenço os
casasse, travavam com ele este diálogo curioso:
JULIETA. Uma só pessoa?
FREI LOURENÇO. Sim, filha, e, logo que eu houver feito de vós ambos uma só pessoa,
nenhum outro poder vos desligará mais. Andai, andai, vamos ao altar, que estão acendendo
as velas. (Saem da cela e vão pelo corredor).
ROMEU. Para que velas? Abençoai-nos aqui mesmo. (Pára diante de uma janela). Para que
altar e velas? O céu é o altar: não tarda que a mão dos anjos acenda ali as eternas estrelas;
mas, ainda sem elas, o altar é este. A igreja está aberta; podem descobrir-nos. Eia,
abençoai-nos aqui mesmo.
FREI LOURENÇO. Não, vamos para a igreja; daqui a pouco estará tudo pronto. Curvarás a
cabeça, filha minha, para que olhos estranhos, se alguns houver, não cheguem a
reconhecer-te.
ROMEU. Vã dissimulação; não há, em toda Verona, um talhe igual ao da minha bela
Julieta, nenhuma outra dama chegaria a dar a mesma impressão que esta. Que impede que
seja aqui? O altar não é mais que o céu.
FREI LOURENÇO. Mais eficaz que o céu.
ROMEU. Como?
FREI LOURENÇO. Tudo o que ele abençoa perdura. As velas que lá verás arder hão de
acabar antes dos noivos e do padre que os vai ligar; tenho-as visto morrer infinitas; mas as
estrelas.
ROMEU. Que tem? arderão ainda, nem ali nasceram senão para dar ao céu a mesma graça
da terra. Sim, minha divina Julieta, a Via-Láctea é como o pó luminoso dos teus
pensamentos, todas as pedrarias e claridades altas e remotas, tudo isso está aqui perto e
resumido na tua pessoa, porque a lua plácida imita a tua indulgência, e Vênus, quando
cintila, é com os fogos da tua imaginação. Aqui mesmo, padre. Que outra formalidade nos
pedes tu? Nenhuma formalidade exterior, nenhum consentimento alheio. Nada mais que
amor e vontade. O ódio de outros separa-nos, mas o nosso amor conjuga-nos.
FREI LOURENÇO. Para sempre.
...
ULIETA. Conjuga-nos, e para sempre. Que mais então? Vai a tua mão fazer com que
parem todas as horas de uma vez. Em vão o sol passará de um céu a outro céu, e tornará a
vir e tornará a ir, não levará consigo o tempo que fica a nossos pés como um tigre domado.
Monge amigo, repete essa palavra amiga.
FREI LOURENÇO. Para sempre.
JULIETA. Para sempre! amor eterno! eterna vida! Juro-vos que não entendo outra língua
senão essa. Juro-vos que não entendo a língua de minha mãe.
FREI LOURENÇO. Pode ser que tua mãe não entendesse a língua da mãe dela. A vida é
uma Babel, filha; cada um de nós vale por uma nação.
ROMEU. Não aqui, padre; ela e eu somos duas províncias da mesma linguagem, que nos
aliamos para dizer as mesmas orações, com o mesmo alfabeto e um só sentido. Nem há
outro sentido que tenha algum valor na terra. Agora, quem nos ensinou essa linguagem
divina não sei eu nem ela; foi talvez alguma estrela. Olhai, pode ser que fosse aquela
primeira que começa a cintilar no espaço.
JULIETA. Que mão celeste a terá acendido? Rafael, talvez, ou tu amado Romeu. Magnífica
estrela, serás a estrela da minha vida, tu que marcas a hora do meu consórcio. Que nome
tem ela, padre?
FREI LOURENÇO. Não sei de astronomias, filha.
JULIETA. Hás de saber por força. Tu conheces as letras divinas e humanas, as próprias
ervas do chão, as que matam e as que curam. . . Dize, dize.
FREI LOURENÇO. Eva eterna!
JULIETA. Dize o nome dessa tocha celeste, que vai alumiar as minhas bodas, e casai-nos
aqui mesmo. Os astros valem mais que as tochas da terra.
FREI LOURENÇO. Valem menos. Que nome tem aquele? Não sei. A minha astronomia
não é como a dos outros homens. (Depois de alguns instantes de reflexão) Eu sei o que me
contaram os ventos que andam cá e lá, abaixo e acima, de um tempo a outro tempo, e
sabem muito, porque são testemunhas de tudo. A dispersão não lhes tira a unidade, nem a
inquietação a constância.
ROME ...
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