Livro: Verão em Istambul Página 2

... amento entre eles. Ela tinha vinte e dois anos, na época, e estavam noivos. Era seu primeiro ano como professora de história, e Ned acabara de se tomar sócio da firma onde trabalhava. O futuro parecia tão claro, naqueles dias, que era difícil acreditar que tudo tinha acabado. Por muito tempo Jeanette não viu sentido em continuar vivendo. Tudo lhe parecia uma provação sem fim. Três anos se passaram e, embora o ferimento se curasse, a cicatriz permaneceu. A mãe de Jeanette tinha esperança de que surgisse alguém na vida da filha para ocupar o lugar de Ned. Ela, no entanto, se esquivava completamente de companhias masculinas, e o longo período de solidão acabou fazendo com que se sentisse muito intimidada na presença de rapazes. Por essa época, Mark se mudou para Istambul, convidado para fazer conferências sobre física nuclear na Universidade. Dois meses depois ele escreveu à irmã, sugerindo que ela fosse para a Turquia também, pois havia uma vaga para professora numa escola de Boyglu, e ele poderia consegui-la para ela. Sua mãe exultou com a idéia, pois uma completa mudança de ares seria o ideal para a filha, e Jeanette acabou aceitando a proposta, mais para agradá-la do que por vontade própria. Ao chegar, ela se encantou com o novo lar, situado nas ultramodernas vilas de Ortakõy, o maravilhoso bairro às margens do Bósforo. Somente os que estavam muito bem de vida podiam viver em Ortakõy: a antiga aristocracia ou homens de negócios, como Craig, que era diretor de uma importante companhia de petróleo. Mark, juntamente com Tony, também conferencista convidado pela Universidade, havia tido muita sorte em conseguir alugar aquela casa por um ano, já que os proprietários estavam fazendo um longo cruzeiro pelo mundo. Jeanette jamais se esqueceria de sua primeira impressão da casa. Tinha um imenso jardim, que se estendia até o Bósforo, com uma estupenda vista do estreito. Várias árvores de flores perfumadas erguiam-se entre palmeira ...

imperiais, e o ar tinha um suave cheiro de jasmim. Por trás de Ortakõy, elevavam-se os montes cobertos por jacarandás, eternamente envoltos numa névoa azul. Na casa trabalhava um homem baixo e atarracado, chamado Metat, que cuidava do jardim e ajudava a servir a mesa. Tinha o semblante carregado e infeliz, expressão comum nas classes pobres da Turquia. Além dele havia a governanta, que falava apenas turco, \'para desespero dos novos patrões. Percebendo que Craig fixava os olhos subitamente, como se notasse sua presença, Jeanette dirigiu-se até a mesa, sentando-se. — Vodca? — perguntou Mark, mas ela fez que não com a cabeça. Ele e Tony olharam-na com aprovação, como sempre faziam, e, para surpresa dela, um brilho de admiração passou também pelos olhos de Craig. Sua voz, porém, manteve a frieza peculiar quando a cumprimentou: — Boa noite. Naquele instante Metat surgiu, avisando que o jantar ficaria pronto dali a meia hora. Jeanette levantou-se novamente. Tony e Mark discutiam sobre o trabalho, enquanto Craig voltava a folhear a revista que tinha nas mãos. — Vou dar um passeio, se não se importam — Jeanette avisou, abarcando os três com o olhar. — Vai precisar de um xale — disse Mark. — Estou bem protegida, não se preocupe. O clima estava bastante agradável, e ela se deliciava com a possibilidade de poder sair sem casacos pesados. — Vai fazer falta — insistiu Mark. — A brisa que vem do Bósforo é bastante fria à noite. — Mas tenho certeza de que estou bem. — Deixe Metat ir buscar um agasalho para você — disse Craig, emudecendo-a. Será que ele estava realmente preocupado com ela? Ou estaria irritado por não querer ouvir o conselho do irmão? A interferência pegou-a de surpresa, e Jeanette o olhou, desconcertada. Então, com um sorriso, respondeu que seria mais rápido se ela própria fosse buscar o xale, pois seria difícil explicar a Metat o que desejava. Craig virou-se para o empregado, falando ...

Comentários:

Deixe aqui seu comentário sobre este livro: