Livro: Vidas em desafio Página 2

... onsiderar como tendo catorze anos, em vez de doze? Adelaide aprumou o corpo e suspirou. Outra vez lá estava ela sonhando acordada. Naturalmente não podia descer para jogar com os dois garotos, e não dava a menor importância a isso. Pelo que tinha dito Beth, a ajudante da cozinha, nas brincadeiras dos dois jovens cavalheiros agora era necessário tirar as roupas. — Eles atingiram a idade em que todo homem precisa de uma mulher para satisfazer seus desejos. Adelaide não estava disposta a tirar nenhuma peça de roupa na frente de ninguém. E, acima de tudo, conhecia o seu lugar. A srta. Carpenter sempre lembrava aos criados da casa que, não importava a idade que tivessem, não deviam buscar aproximação com as pessoas da classe alta. Ela não conteve o riso quando Ron acertou uma forte tacada na bola, que foi atingir a perna do primo. Sentindo-se agredido, Will partiu para cima do outro com os punhos cerrados. Logo os dois trocavam socos e acusações, aos gritos. Ninguém tinha notícia de uma única ocasião em que um daqueles dois garotos havia fugido de uma briga. O sr. Stockman saiu apressadamente da casa e Adelaide recuou da janela. Não queria que ninguém a visse matando o tempo quando devia se ocupar no cumprimento de suas obrigações. Só Deus sabia quantos quartos havia naquela casa para manter uma arrumadeira ocupada. Graças ao bom Deus não era preciso limpar todos os dias os quarenta e três cômodos da mansão. Adelaide pegou o espanador e voltou ao trabalho, ainda pensando nos garotos. Embora costumassem sair das constantes brigas pelo menos com um olho roxo, Ronald e William eram bonitos o suficiente para fazer qualquer menina sonhar. Sempre que se anunciava uma visita dos dois, a srta. Carpenter repetia o sermão que Adelaide já sabia de cor. — Enquanto os jovens cavalheiros estiverem aqui, evite-os o máximo que puder. Eles só criam problemas e graças a Deus nunca ficam muito tempo. Não se deixe enganar pela idade deles, porqu ...

são praticamente homens feitos. — Então a mulher cruzava os braços na frente do peito avantajado. — E não se esqueça nunca de que um homem rico vê apenas um objeto de desejo quando põe os olhos numa criada! Adelaide ocupou-se em tirar o pó do relógio de parede. Precisava ficar longe dos dois garotos, sem dúvida! Desde que o sr. Stockman a tirara do orfanato para treiná-la como arrumadeira, três anos antes, os tais "jovens cavalheiros" agiam como caçadores. enquanto ela era a caça. Não que isso a amedrontasse. Eles não a machucavam, mas não se cansavam de atormentá-la. Infelizmente, e por um motivo que Adelaide não conseguia entender, caçoar dela e fazê-la cair em armadilhas pareciam ser os divertimentos maiores daqueles dois. Na visita anterior Ron havia perguntado quando ela teria melões para mostrar. Os garotos riram a valer ao ouvirem a resposta de que ainda não era época daquela fruta. Depois do acesso de riso, Will pôs as mãos em concha na altura do peito para explicar que a pergunta do primo se referia aos seios dela. Cheia de dignidade, Adelaide declarou que aquilo não era da conta deles. Terminada a arrumação do quarto ela alisou mais uma vez a colcha da cama e olhou em volta. Satisfeita, saiu e fechou a porta. — Ora, ora, primo. Veja só o que encontrei. Adelaide sentiu o coração acelerado ao ver Will. Mesmo assim não iria deixar que ele ou Ron, que vinha logo atrás, a pusessem em alguma complicação. — Sumam daqui os dois! — ela ordenou, com firmeza. — A srta. Carpenter ainda acha que fui eu quem jogou as cinzas da avó de vocês na lareira. Não devia ter deixado que me convencessem a ficar de boca calada. — Nós dois não poderíamos nos sentar durante uma semana inteira — lamentou-se Will. — Vovô teria açoitado impiedosamente o nosso traseiro. — E eu? Podia ter perdido o emprego! — Mas não perdeu — lembrou Ron, com naturalidade. — E isso aconteceu há muito tempo. — Há muit ...

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