Livro: Promessas de casamento Página 3

... is. Só então, Roselynne saciou a sede e passou o balde para o prisioneiro seguinte. Terminada a movimentação, ela voltou a sentir o cansaço misturado ao remorso por seu maldito temperamento explosivo. Quando a tropa tinha aparecido para prender o pai por subversão, ela agira num impulso ao tentar impedir que ele, um homem fino, pastor e erudito, fosse acorrentado como um criminoso qualquer. O soldado a agredira e o pai, querendo defendê-la, também tinha sofrido uma coronhada na cabeça, o que lhe custara a perda da lucidez. Durante os quinze dias levados para reunir os outros prisioneiros e vir a Londres, ele não tinha falado uma única vez. Era uma tristeza imensa ver-lhe a inteligência brilhante tão apagada. Com olhar pesaroso, viu a caravana desaparecer a noroeste, rumo à terra linda onde nascera. Voltaria, um dia, a dormir numa cama confortável e sonhar com um bandoleiro bonitão que, após raptá-la, a levaria para uma terra exótica como acontecia nos romances?, imaginou. Ela e Charles remariam, outra vez, no lago Ullswater, enquanto conversavam sobre o futuro? Beau St. Clair sorriu ao ver a confusão do pátio abaixo acalmar. Com o gesto, o lábio inferior, machucado, sangrou um pouco. O corpo todo ainda estava muito dolorido por causa da sova dada pelo carcereiro e seus subalternos. Esticou-se na cama e fechou os olhos. Seria muito bom se tivesse umas mulheres para se divertir antes de dormir um pouco. Talvez isso lhe acalmasse os pensamentos sobre a situação e o ajudasse a ter um sono tranqüilo. Pensou na moça lá do pátio. Era bonita o suficiente para proporcionar prazer. Sua coragem em defender o velho, a quem estava acorrentada, demonstrava firmeza de caráter. Todavia, não era esse o aspecto de sua personalidade que o interessava no momento. O corpo reagiu excitado pela primeira vez desde a prisão, por assassinato, quatro meses atrás. Seria enforcado a 3 de junho, daí a dezenove dias, data que se aproximava num mi ...

to de rapidez terrível e morosidade surpreendente. Também pela primeira vez, teve consciência plena de que ia morrer. Ele, Beauregard St. Clair, na flor da idade, deixaria de existir?, indagou-se incrédulo. Morrer aos vinte e nove anos, num país estranho, sem mulher ou filhos para lamentar-lhe a sina e continuar o nome de família, parecia muito injusto. O corpo protestou contra a extinção com um calor indicativo de que ainda era um homem vivo, funcionando plenamente. Se pudesse gozar umas poucas horas de prazer antes de o carrasco lhe colocar a corda no pescoço, já seria um consolo. Ao menos por enquanto. Irrequieto, levantou-se e foi até a janela. Os prisioneiros, sentados nas pedras sujas, comiam a primeira ração do dia: pão amanhecido e água. A moça tentava convencer o velho a se alimentar e, ao mesmo tempo, comia sua porção. Não dava mordidas, mas picava o pão em pedacinhos que levava à boca. Com certeza, tinha trabalhado numa mansão e adquirido as maneiras das pessoas finas. Beau imaginou como seria a silhueta dela sob as roupas imundas e em péssimo estado. O xale, quente demais para essa época do ano, escondia os seios de seus olhos curiosos. Ah, deveriam ser fartos para satisfazer um rei. Quentes e macios, com mamilos rosados que ele beijaria até deixá-la incendiada de paixão. Fitou-lhe o rosto. Severo demais para prometer interlúdios amorosos entre ambos. Os cabelos castanhos prendiam-se num coque à nuca. O rosto oval era do tipo escolhido por pintores como modelo para retratos de santas. Ele riu alto. Esperava que ela não tivesse tal inclinação religiosa. A troco de uma moeda, o carcereiro a traria para passar a noite com ele. Então, lhe indagaria a preferência: apenas ele ali nessa cela, ou muitos na comum? Precisaria também comprar-lhe um banho. - Bowes! - gritou pela janelinha da porta. - Bowes, venha cá! Tenho um servicinho para você. Roselynne estremeceu ao transpor a porta de entrada. Newgate. As h ...

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