Livro: Coração Marcado Página 3

... , enquanto tentava bloquear o fato de que voltaria para uma casa vazia. Um mausoléu silencioso onde tudo, desde o mais delicado ornamento até a adorável sala de música com seu brilhante piano, era uma lembrança dolorosa do marido e amigo que lhe fora tirado cedo demais. — Continue com sua vida quando eu me for — pedira Donal, febril, no leito de hospital, com uma luz brilhando nos olhos que amedrontara Marianne porque lhe mostrara que ele não viveria muito tempo mais. — Venda a maldita casa e tudo que há nela, se quiser! Saia e veja o mundo, encontre pessoas, viaje. viva, pelo amor de Deus, viva por nós dois. E ela o faria. mas ainda não. Ainda estava tentando encontrar seu caminho sem uma bússola num mundo vazio da única pessoa que já gostara dela. Estava seguindo em frente, devagar mas com firmeza. Cantar na rua parecia um lugar estranho para começar. Mas tinha pavor de se apresentar em público e queria superá-lo; assim, de vez em quando, cantava no clube local de folclore sem se despedaçar, e, para ela, no que se referia a continuar a vida, Marianne considerava que aquele era um passo muito positivo. Não só estava enfrentando seu medo e melhorando sua arte, estava dizendo ao universo: Isto é o pior que pode fazer? Tomar meu marido e me deixar completamente sozinha de novo? Bem, apenas olhe! A cada dia tornava-se mais confiante e, mais uma vez, a música a salvava. Donal se sentiria orgulhoso dela, por ter tido a coragem de dar aquele passo tão radical, embora pouco convencional, em direção à própria cura. No entanto, os dois filhos adultos dele do casamento anterior se aproveitaram — considerando-o mais uma evidência de que ela era instável —, um sinal de que não tinha sido uma influência "certa" sobre o pai deles, fazendo-o ignorá-los e deixar tudo o que tinha para ela em seu testamento. E então, do nada, o rosto duro e cinzelado de um estranho substituiu o gentil e familiar rosto do marido, e Marianne ficou chocada ao ...

se lembrar do homem que pusera uma nota de cinqüenta libras em seu boné. Nem por um segundo imaginou que pudesse ser uma nota falsa. Não apenas parecera rico, como se vivesse um estilo de vida de elite, distante demais dos sonhos de uma vida confortável e segura de pessoas comuns, mas também tinha cheiro de riqueza. Falava um inglês perfeito, com um traço de sotaque. sul-americano, talvez? Também se desprendia dele aquele tipo de autoridade que teria feito Marianne se encolher há não muito tempo. Mas cuidar de Donal durante sua longa e fatal doença e depois fazer companhia a ele no hospital por quase dois meses, enquanto ele se agarrava à vida, antes de entrar em coma, despertaram nela o tipo de coragem e tenacidade que estava determinada a jamais perder. Com a caneca de chocolate quente nas mãos, olhou para as chamas da lareira enquanto as feições atraentes do homem que a perturbara se tornavam ainda mais claras em sua mente. Marianne jamais tinha visto olhos com aquele tom de azul. Tinham uma expressão gelada que a fazia se lembrar de um céu de inverno sem nuvens, e embora seus cabelos tivessem tons dourados e avermelhados, seus cílios longos eram daquele intenso castanho-escuro de chocolate derretido. Seu nariz era aquilino, com uma leve protuberância na ponta, e a boca, embora firme e benfeita, era tão severa que parecia que sentiria dor física se sorrisse. Embora tivesse conversado ligeiramente com ele, Marianne tinha a impressão de que ele se cercava de um tipo de defesa totalmente impenetrável. Depois de ter lhe declarado que não cantava apenas por dinheiro, desafiando-o com a pergunta de se não fazia alguma coisa apenas por amor, Marianne se arrependera imediatamente de suas palavras. Encolheu-se de vergonha à maneira grosseira com que o acusara de tentar se sentir bem ao colocar uma quantia tão alta de dinheiro em seu boné. Não devia ter feito aquilo. Como ele poderia saber que, depois da tragédia que sofrera, jurara jamais ...

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