Livro: Coração mercenário Página 2

... alhada — vendável. Sir Simon a quer tanto, minha querida, que não pensou duas vezes antes de abrir mão do que havia de mais valioso em seu dote, só para poder tê-la. Ele a terá. E eu terei Siere e tudo mais: o título, as terras, tudo. — Siere é minha! — Rosaleen retrucou, furiosa. — Sir Simon não tem o direito… você não tem o direito de tirá-la de mim! — Eu tenho todo o direito, Rosaleen — ele segurou-lhe o queixo com força, provocando-lhe lágrimas nos olhos. — Nunca pense o contrário. Agora, vai fazer o que eu mandar, ou terei de lhe dar outra lição, como a que dei pela manhã. Sir Simon virá apanhar a noiva antes que o dia termine. Trate de comer, banhar-se e preparar-se para recebê-lo. Quando o padre chegar, virei buscá-la. Até lá, vai se comportar e pensar na melhor maneira de agradar seu futuro marido, bem como seu dedicado tio. Não vai, Rosaleen? Ela fechou os olhos. — Sim. — Ótimo. Vou deixá-la com Jeanne, para que possa se arrumar. — Sir Anselm foi até a porta e virou-se para a criada, antes de sair. — Trate de deixá-la linda, Jeanne, ou vai conhecer o desagrado de seu senhor. — S-sim, m-meu senhor. Assim que ele saiu, Rosaleen soltou o ar que prendera no peito. Tentou sentar-se. — Jeanne, por favor… A criada aproximou-se depressa, pálida, e ajudou Rosaleen a levantar-se. — Ah, minha senhora! — Jeanne explodiu em lágrimas. Rosaleen não respondeu. Uma vez sentada, levou uma das mãos à testa suada, na tentativa de fazer cessar a tontura, enquanto a outra mão segurava contra os seios o que restava de seu vestido. Os ferimentos em suas costas queimavam como fogo, e ela sentiu a pele repuxar, coberta de sangue seco. Desejando que a devotada criada parasse de chorar, pois sua cabeça latejava, murmurou: — Jeanne… preciso de um pouco de ungüento e ataduras para cobrir os ferimentos. E, também, roupas limpas. Algo bem simples e discreto. Então, vou precisar da sua ajuda. Jeanne — ...

encarou a menina assustada —, fugirei antes que meu tio venha me buscar. Tenho de fugir. Você compreende? Vai me ajudar? Prometo que ninguém suspeitará de você. Não sofrerá qualquer punição. De olhos arregalados, Jeanne sacudiu a cabeça. — Como conseguirá fugir, minha senhora? Seu tio colocou guardas em todas as portas. Nem sequer sairá dos seus aposentos, sem ser apanhada. E suas costas, minha senhora… Não irá muito longe, assim. Embora não pudesse discordar, pois a dor parecia tornar-se ainda mais insuportável, nada faria Rosaleen ficar em Siere e ser conivente com a própria ruína. — Isso — ela afirmou — é problema meu. Tudo o que preciso é de sua ajuda. Cuidarei do resto. Juro que meu tio nunca sequer desconfiará que você me ajudou, e juro que ele jamais terá Siere. Prefiro morrer a entregar-lhe minha propriedade. E prefiro morrer por minhas próprias mãos a casar com Simon de Denning. Vai me ajudar, Jeanne? — Para onde irá, minha senhora? E como vai evitar que seja apanhada? Sabe muito bem que seu tio e sir Simon sairão à sua procura, antes que consiga ir muito longe. Por favor, minha senhora — Jeanne implorou —, não faça isso! Eu não suportaria vê-la ser castigada de novo. Da próxima vez, sir Anselm será capaz de matá-la! A determinação venceu o medo que ameaçava tomar conta de Rosaleen. — Já disse que prefiro morrer a me casar com Simon de Denning, — repetiu —, e falo sério! Encontrarei um meio de não ser apanhada. — Pôs-se de pé com esforço, segurando o que restava do que já havia sido um de seus mais belos vestidos. Jeanne ajudou-a, mas Rosaleen não conteve um gemido de dor. — E quanto e onde irei — continuou, caminhando lentamente até a penteadeira — ora, é claro que me apresentarei ao rei Henrique. Ele deverá me ajudar, pois meu pai era um dos favoritos do pai dele, além de ser o Conde de Siere. Só por esse motivo, ele deve me ajudar. — Sentou-se diante do espelho. � ...

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