Livro: Vítima do desejo Página 3

... dido a casa e odiei mais ainda termos que sair de Little Bramington como se fôssemos leprosos ou coisa parecida. Bem, mas sua mãe havia acabado com o orgulho de seu pai acrescentou Sophie, considerando que, desde que o assunto não machucava a amiga, era sinal de que poderia falar abertamente. Como é que você sabe dessas coisas? Quer dizer. sei que o nome de meu pai está sempre nos jornais e que ele não consegue manter as suas amantes fora disso, mas você só tinha dezesseis anos quando tudo aconteceu. - Não pense que sou uma tonta. Tenho ouvidos, não tenho? E, sem nenhum pudor, revelou a Jancis que, alguns anos atrás, numa noite em que seus pais recebiam visitas, ela ficara a par do caso depois de ouvir a conversa. escondida embaixo da mesa! - Sophie! - escandalizou-se Jancis. - Ora, eu precisava saber de tudo para lhe contar mais tarde. Foi o único jeito, pois meus pais não queriam que eu ficasse na sala. Já estava a ponto de desistir, por não ter ouvido nada que dissesse respeito a seus pais, quando alguém finalmente tocou no assunto. Aí tratei de prestar bastante atenção para poder repetir tudo a você. Só que não tive coragem. Talvez a minha amiga não gostasse de saber que o pai estava sendo motivo de piadas porque logo ele, um dom-juan, estava sendo passado para trás pela própria esposa. Você sabia que sua mãe estava mantendo um romance com Barney Tavistock desde o dia em que ele se mudou para a mansão de Fellows Top, dois anos atrás? A lealdade para com os pais manteve Jancis calada. Entretanto, ela teve vontade de dizer a Sophie que havia muito mais que isso: naquela época, sua mãe já havia se casado com Barney Tavistock e os dois foram morar em Zurique. Mas, quando abriu a boca, foi somente para dizer: - Vamos esquecer essas coisas. Fazem parte de um passado que está morto e enterrado. Enquanto Sophie desfazia as malas, Jancis voltava seus pensamentos para a época em que os pais ainda estavam casados. Por mu ...

to tempo evitara pensar naquilo, mas aquela conversa com Sophie havia feito ressurgir lembranças penosas. Lembranças de seus onze anos, quando viu sua mãe chorar pela primeira vez; dos catorze, quando constatou que as lágrimas eram frequentes, que sua mãe vivia triste e que ficava semanas sem falar com seu pai. No princípio, Jancis achou que a atmosfera pesada de sua casa, aquele constante clima de guerra, fosse unicamente culpa da mãe. Ainda não tinha capacidade de entender por que ela vivia brigando com o marido. Assim foi até completar catorze anos. Era sábado. William e Davy haviam ido acampar e ela combinara com Sophie ir de bicicleta ao encontro deles. Entretanto, um pequeno acidente a impediu de chegar à casa da amiga. Foi obrigada a retornar, com o joelho doendo bastante, após uma queda. Ficou surpresa ao ver o carro do pai, um conhecido industrial, parado em frente ao portão, pois já se habituara à ausência dele nos fins de semana. Nunca perguntou por que ele estava em casa naquele dia, como também nunca quis saber por que trabalhava tanto nos fins de semana, embora mais tarde tivesse compreendido tudo. Naquele dia, ficou contente por ver que o pai estava em casa e entrou para mostrar o joelho machucado à mãe. Mas esqueceu o ferimento assim que ouviu gritos vindos da sala. Nunca mais esqueceria o desespero da mãe, que, gritando de um jeito que nunca tinha visto, acusava o marido de ter outra mulher. Chocada, Jancis ouviu muito mais: havia outras mulheres na vida de seu pai, que admitia aquilo aos berros. Então, sentindo-se mal a ponto de vomitar, Jancis ouviu a voz irónica do pai: - Certo, mas o que você vai fazer? Me deixar? Duvido. É muito moralista para isso. Jancis desmaiou. Voltou a si pouco depois, deitada no sofá e encontrando o olhar preocupado da mãe. - Pode ir, agora - disse ela, voltando-se para o marido. E, mais calma, acrescentou: - Não quero meus filhos respirando o mesmo ar que você. Durante seis me ...

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