Livro: Case comigo outra vez Página 3

... sabor da pele macia. Mesmo ali, sob o brilho do sol do meio-dia, cercado por uma multidão, sentia-se seco, vazio e desesperadamente solitário. Com a ponta do polegar esquerdo, tocou a parte de trás do dedo anular, buscando a aliança de casamento que não estava mais lá, e sentiu um inesperado nó na garganta. Contraiu a mandíbula e afastou os pensamentos, focalizando toda a atenção na segurança de Elysee. Agora, aquela era a sua vida. Sem esposa. Sem um lar verdadeiro. O trabalho era a única coisa que o definia. Era um guarda-costas, um protetor, uma sentinela. Descendia de uma família de heróis de guerra. Estava em seu sangue. No seu DNA. O chanceler da Universidade do Texas pegou o microfone e fez um discurso sobre Nathan Benedict e a nova unidade de Ciências Políticas nomeada em sua homenagem. Em seguida, apresentou Elysee. As pessoas aplaudiram. Elysee era popular. Quando ela sorriu,, os flashes espocaram. A banda premiada de uma escola secundária recrutada para o evento começou a tocar God Bless America. Os olhos de Shane nunca paravam de observar. O cérebro nunca deixava de analisar. Uma assistente entregou à filha do presidente uma tesoura tão grande que ela precisou segurá-la com as duas mãos. Ergueu-a, sorrindo. Elysee se transformava quando sorria. Os suaves olhos azuis adquiriam um brilho surpreendente e a boca fina se alargava. Ela jogou os cabelos para trás num gesto despreocupado. Por um breve momento, parecia tão bonita quanto qualquer modelo de passarela. Elysee cortou a fita. A tira vermelha grossa caiu. As duas escavadeiras começaram a cavar a terra ao mesmo tempo em que o trator acelerava. As pessoas, inclusive os que protestavam atrás da linha de piquete, aplaudiram educadamente. O operador da escavadeira parecia ter dificuldades em manobrar o equipamento. A máquina se movia aos solavancos enquanto a caçamba se erguia. Elysee encontrava-se de pé, perigosamente próxima à extremidade da plataforma. O guindaste ...

balançou no ar. Naquele instante, Shane viu uma expressão de puro pânico na face do operador e percebeu que o homem tinha perdido o controle da máquina. A caçamba moveu-se com rapidez na direção de Elysee. Ele reagiu. Não sentia medo, apenas uma sólida determinação de proteger a filha do presidente a todo custo. Porém, tinha a impressão de estar se locomovendo em câmara lenta, pernas e braços moles. Lançou-se para a frente. Arremessando o corpo sobre Elysee, atingiu-a no ombro. Ela gritou e caiu de joelhos. Girando, Shane virou-se de frente para a escavadeira enquanto procurava a arma. No instante seguinte, a caçamba despencou no ar em direção à terra argilosa. Shane ergueu o braço, com a arma em punho. A caçamba atingiu-lhe a mão direita, derrubando-o da plataforma. Ele ouviu o ruído terrível, mas a dor não foi registrada de imediato. Tentou apertar o gatilho, sem nem saber para onde estava atirando, reagindo apenas por instinto. Mataria por Elysee, se fosse necessário. Mas seus dedos se recusavam a obedecer. Que diabos havia de errado com seus dedos?, ele se perguntou, confuso viu o olhar horrorizado do operador, e Elysee gritou seu nome Ela estaria ferida? Com dor? Alguém a teria atacado? Estaria sendo seqüestrada? O problema com a escavadeira teria sido um ardil para despistar a atenção de seqüestradores? As perguntas se sucediam em sua mente. Pessoas corriam e gritavam, dispersando-se em todas as direções. Shane virou a cabeça, tentando localizar Elysee naquela confusão. Por que não sentia a pistola na mão direita? E, pior ainda, por que não sentia a mão? — Elysee. — O nome dela saiu de sua garganta num murmúrio gutural. Logo depois, a dor explodiu em seu crânio. Sentiu a visão escurecer, mergulhando na inconsciência. Riqueza atrai riqueza. Tish Gallagher repetiu o mantra predileto da mãe, enquanto se contorcia, tentando entrar num caríssimo terninho Channel cinzento. Sua cliente era uma banqueir ...

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