Livro: Amor Selvagem Página 3

... avorado. Trêmulo, segurou a bainha da camisola, mas não a levantou. Suava frio. — Donovan? Carol esperava em verdadeira agonia, mas ele não con¬seguia fazer o exame. Passou as mãos pelos cabelos e afastou-se da cama. — Espere um pouco. Volto já. Tente relaxar e não faça força. Em poucos passos, atravessava a cabana e saía para a varandinha. Respirou fundo o ar frio e estremeceu. Olhou para o céu, de onde a neve continuava a cair, e rezou: — Deus amantíssimo, durante anos, tentei não per¬turbá-lo, mas agora, preciso de sua ajuda. Tenho de salvar duas vidas e sou incapaz de fazer isso sozinho. Não peço por mim, pois não mereço bênção alguma. Mas Carol é uma boa mulher que nunca fez mal a ninguém. Além do mais, tem três filhos órfãos de pai, quatro contando com o bebê. Frustrado, Donovan calou-se. Deus sabia contar. Pre¬cisava entrar e ajudar Carol em vez de ficar ali como um covarde. Lançou um último olhar desesperado para o céu e murmurou: — Por favor, apenas. O ruído de patas o interrompeu. Podia ouvi-lo subindo pela ravina e cada vez mais próximo. Prendeu a respi¬ração e, logo depois, via um mulo cinzento e grande surgir de entre as árvores. Vislumbrou duas silhuetas, uma pe¬quena, montadas no animal. Quando este parou, Annie pulou para o chão. — Tio Donovan, eu trouxe miss Sarah. Mamãe está bem? — Está, sim — mentiu ele. — Entre e tome conta de Katy e Samuel. Vou levar o mulo ao telheiro. Depressa, ele desceu os degraus da varanda e aproximou-se da parteira que, com uma sacola de lona na mão, acabava de desmontar. Seu alívio era tão grande que sentiu vontade de estreitar a moça empertigada entre os braços e beijar-lhe a boca. Mas apenas disse: — Até que enfim! — Sinto muito. Acabei de fazer o parto de Minnie Hawkins lá em Panner Creek e não pude vir antes. Como está Carol? — Mal. Acho que o bebê está virado. Só espero que a senhora não tenha chegado tarde demais. Num pass ...

firme, miss Sarah dirigiu-se à escadinha da varanda, protegendo a sacola sob a capa. Por sobre o ombro, pediu: — Por favor, cuide de Nabucodonosor. Dê-lhe uma por¬ção de aveia. Depois, lave bem as mãos. Vou precisar de sua ajuda. Enquanto cuidava do mulo, Donovan ouviu a parteira dando ordem a Annie para levar os irmãos à cabana de Ike Ordway, o vizinho mais próximo na ravina. Quando já havia tratado do animal, viu as crianças se pondo a caminho. Elas usavam os casacos feitos por Carol com pedaços de cobertores velhos. Na varanda, Donovan usou a água de um balde e sabão de cinza para lavar as mãos. Tudo ia dar certo, pensou ao esfregar bem os vãos dos dedos. A parteira tinha che-gado e saberia o que fazer. Ao mesmo tempo, sentia-se inquieto. Preferia que ela fosse mais velha, com uns quarenta anos e um bando de filhos. Mas era solteira e bem jovem ainda. Pouco depois, ele entrava na cabana e via Sarah Par¬ker, de costas e perto do fogão, enrolando as mangas da blusa cinzenta. Estranho. A primeira ideia que lhe ocor-reu foi de como, vista de costas, ela era atraente. A luz da lamparina refletia nos cabelos brilhantes, presos à nuca num coque. As roupas grosseiras não podiam dis-farçar a graciosidade do torso bem feito que terminava nas curvas arredondadas dos quadris. Estimulado pela sensação de já a conhecer, Donovan a estudou. A silhueta o ligava a um elo perdido na me¬mória. O que seria? Um gemido de Carol interrompeu-lhe as reflexões. Sa¬rah Parker virou-se e o encarou como se soubesse que ele a observava. — Já examinei Carol. A criança está sentada. — Nesse caso, terá de virá-la. Será capaz? — indagou ele. — Espero. Apesar do pincenê, Donovan notou a aflição em seus olhos cinzentos. As mãos tremiam um pouco ao ajeitar as mangas arregaçadas da blusa. Embora fosse parteira, ela não o tranquilizava. — Já fez um parto como este antes? — ele quis saber. — Não. Mas sei como fazê-lo. Li num livro ...

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