Livro: Uma Lua-de-mel inesquecível Página 2

... e querendo mais. Especialmente porque ela não estava disposta a baixar a guarda. Não depois de David. Com um suspiro, ela foi até a janela. A vista do décimo quarto andar do prédio Fortune era quase inexistente. A visibilidade de acordo com o rádio era zero. O tráfego aé¬reo estava parado. Olhar pela janela era como olhar para o interior de uma nuvem. Um nevoeiro denso abraçava a cidade, lançando tentáculos longos em torno da silhueta dos prédios de Minneapolis. Ela permaneceu de pé, olhando, embora não houvesse nada a ser visto. Olhando e pensando. Sem dúvida, ela se sentia inquieta, irritada. O telefo¬nema de Grant evidenciara isso. Mas o sentimento de inquietude, de insatisfação, se devia mais à morte súbita de sua avó. Kristina ainda não podia acreditar. A morte não era algo em que ela quisesse pensar aos vinte e quatro anos. Não tinha lugar em sua vida. Exceto que ela chegou, respeitável e inesperada, le¬vando alguém que ela amava muito. Sua avó ficaria feliz por Grant. Kristina sorriu para si mesma. Engraçado, ela pensava que Kate Fortune viveria para sempre, como o sol, as ma¬rés. Nunca sua avó dera nenhuma pista de que iria morrer. Nunca ficou doente, trabalhava por horas a fio, sempre incansável. Mas era também calorosa e gentil quando uma neta precisava, Kristina pensou tristemente. Ela tocou o pin¬gente de prata em seu pescoço, com formato de um cora¬ção de renda. Foi feito especialmente para ela, tirado da pulseira de pingentes de sua avó. Foi o pingente que seu finado avô dera a sua avó no dia em que Kristina nasceu. - Chegou outra namorada - dissera Ben Fortune para sua esposa, dando continuidade à tradição de lhe dar um pingente para cada nascimento na família. Quando tocou o pingente, Kristina lembrou da maneira como Kate a abraçara e a deixara chorar por causa de David, a única vez em que permitira que seu coração fosse vulne¬rável. David, que estava muito mais interessado no nome, no ...

inheiro e na herança política dos Fortune do que em seu amor. Quando terminou seu noivado, Kristina passou a noite na casa de sua avó. Ficaram acordadas e conversa¬ram a noite toda. Kate foi a única a ver este lado suave e frágil dela. Kate compreendeu como doía descobrir que ela tinha sido enganada. David e a política se mereciam. Mas sua avó não merecia o que lhe aconteceu. Kate Fortune foi uma mulher magnífica, mesmo quan¬do já estava próxima dos setenta anos. Não envelheceu da maneira que as outras pessoas envelhecem. Não havia ru¬gas nem sinais da passagem do tempo, como mãos que tremem ou uma mente que fica progressivamente mais vaga e débil. Kate Fortune personificava a essência e a vibração da vida. Era por isso que ter sua vida arrancada em um desastre de avião parecia impossível. O insulto máximo. Kristina não podia acreditar. Mas, ainda assim, ela estava certa de que, se sua avó tivesse escolhido uma maneira de morrer, seria aquela. Es¬colheria sair no esplendor da glória, caindo em algum lugar misterioso no meio da selva e deixando o resto da família pensando em como sentiam falta dela. Sua garganta se estreitou com as lágrimas que insisti¬am em surgir. Lágrimas que não se permitiu verter. Kate Fortune não desejava lágrimas. Gostaria que todos conti¬nuassem a viver e a construir um legado ainda maior do que aquele que ela trabalhara tanto para dar a eles. O su¬cesso dos Fortune se devia muito aos esforços de Kate e Ben. Talvez ainda mais a ela, que continuou a expansão mesmo depois da morte do marido. Deus, como sentia falta dela! Kristina suspirou novamente. Precisava sair por alguns dias. Olhou para o documento oficial em sua mesa, que havia estudado pela manhã. Talvez precisasse de mais do que apenas alguns dias. Pensou em Grant e Meredith e seu casamento próximo e na lua-de-mel a seguir. Seus olhos brilharam. Por que não? Com o entusiasmo que era a marca de tudo o que fazia, virou-se para sua mesa e ...

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