Livro: Uma mulher especial Página 2

... a não ouvi-lo direito, envolvida na busca pela erva, cujas folhas fortes ela gostava de mastigar. — Não está me escutando, não é, Whit? — Charlie tentou fitá-la de frente, o que conseguiu apenas por breves instan¬tes, porque a concentração de Whitney estava, de fato, na hortelã. — Estou lhe oferecendo coisas. Tecidos, agora. O que me diz? Para fazer belas roupas. — Detesto vestidos. Charlie respirou fundo e bloqueou-lhe o caminho, impe¬dindo que continuasse a procurar a erva. Alto, parecia maior do que ela podia lembrar. Com a camisa aberta sobre o peito enorme, másculo, sua presença poderosa chegava a confun¬dir Whitney, e até a impressioná-la. Para afastar-se da atração que sentiu de repente, voltou-se e, enfiando as mãos nos bolsos, retomou a trilha por onde tinham vindo. — Vocês, homens, é que ficam com a melhor parte no que se refere a roupas — rebateu, sem olhá-lo. — Calças e botas. Nem mesmo têm de usar uma camisa quando estão trabalhando, se não quiserem. Vestidos. São intoleráveis! Faz idéia do quanto de tecido ás moças têm de usar, apertando-se sempre mais e mais, antes de colocar um vestido por cima de tantas roupas de baixo? Um horror! Nem sei como conseguem se mexer embaixo de tanto pano! Espar¬tilhos, anáguas, saias. Credo! Ela percebeu que Charlie se detivera e voltou-se para sa¬ber o motivo. Ele a observava de forma diferente. Parecia mostrar-lhe que sabia, sim, e muito bem, o que as moças usavam por baixo de seus trajes. — Vem comigo ou ficará aí parado o dia inteiro? — Whitney o desafiou, dando-lhe as costas mais uma vez e seguindo em frente. Charlie observava o suave movimento de seus quadris, tendo de concordar que seria mesmo um pecado cobrir tal beleza com um punhado de saias. Entretanto, seria bom vê-la com roupas femininas, ainda mais quando imaginava as de¬lícias que poderia haver naquele corpo. O brilho nos olhos dele continuava na mente de Whitney, enquanto caminhava, e ...

la se deixava perturbar mais e mais pelo que notara. Charlie não vinha agindo como antes, desde que voltara ao vale, quinze dias atrás, retornando de seus três anos de serviço no Exército, em Forte Pitt. Tinham sido amigos, rivais e companheiros antes de sua partida para ser¬vir o país. Dizia-se que Charlie se aventurara um pouco, no que se referia a mulheres. E tal comportamento devia ter mudado sua anatomia, ela calculava curiosa. — Muito bem, então. — Charlie estava mais uma vez á seu lado, após dar largas passadas. — Eu trouxe uns belos leitões, com minha marca. O que acha? — Temos porcos suficientes, obrigada. — Whitney. — Charlie gemeu, segurando-a por um bra¬ço para que o encarasse. Mas ao vi-la-á, deparou com o sorriso feliz no rosto dela e percebeu que Whitney olhava por trás de seu ombro quando exclamou satisfeita: — Lá está! — E soltando-se, seguiu até o arbusto que escondia o tapete verde de folhas de hortelã. Apanhou um punhado, mas recordou o que viera fazer ali e comentou séria: — Acho que esperarei até depois da cerveja. Enfiou as ervas no bolso e perscrutou os arredores, como para marcar bem o local onde poderia encontrá-las de novo. Em seguida, voltou para junto de Charlie. — Ajude-me a memorizar este local, Charlie, porque es¬tas folhas de hortelã são as mais viçosas que já vi por aqui. E logo ela se afastava outra vez, sem dar chance a Charlie de dizer qualquer coisa. O rapaz a seguiu, disposto a detê-la, mas Whitney fez-lhe um sinal de silêncio, observando: — Estamos quase chegando. E, se não quiser levar uma bala no traseiro, é melhor não fazer ruído algum e esperar que eu dê o sinal. Calado, o jovem se deixou conduzir por entre os arbustos coloridos pelo outono na Pensilvânia. Era o que se chamava \\"verão dos índios\\", com o chão ainda úmido pelas chuvas recentes, recendendo fragrâncias naturais, suaves, com o sol quente pairando sobre a copa alta das árvores de folha ...

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