Livro: Um homem sem passado Página 2

... enny. Suas inseguranças estão tomando conta de você. Conheço esse tipo de distúrbio de per¬sonalidade. Há poucos dias, assisti a uma reportagem na televisão. — Eu é que tenho distúrbio de personalidade? Contendo o riso, ela pegou a bandeja. — Bem, de certo modo sim. Você é um desses que desconhecem tudo que não tenha utilidade imediata. — Ah! Então, sou eu quem desconhece a realidade? Eu que não me preocupo com o futuro? Pois saiba que você nunca viu cara sensato. — Oh! — riu-se Frankie, afastando-se. Em seu caminho, contornando mesas e equilibrando a bandeja, pensou que as frequentes críticas de Benny não a incomodavam. Desde que herdara do avô o Silver Duck, cinco anos antes, não havia passado tanto tempo num lugar como Slocum Springs. Não fosse o coração generoso de Benny, certamente já teria partido. Con¬tudo uma hora mais tarde, quando saiu do bar, as palavras do chefe ainda lhe ecoavam na mente. Já ao volante de Petúnia, concluiu que, a menos que tivesse muita paciência, não conseguiria fazer com que enten¬dessem ou sequer respeitassem sua filosofia de vida. Tinha vinte e sete anos. Se não conseguisse convencer as pessoas a dar mais valor ao meio ambiente, em que mundo passaria a velhice? Oh! — exclamou, pisando repentinamente no freio. Não teria como evitar atropelar o inesperado vul-to a sua frente. — Meu Deus! No entanto, ou por obra do anjo da guarda, ou porque a velha caminhonete se encontrava em melhor estado do que ela supunha, conseguiu parar a tempo. Suspirou com alívio. Que significava aquele homem completamente nu em plena pista, tentando cobrir o corpo com um punhado de folhas? \\"Caramba!\\" Seria brincadeira de algum cliente do bar? Contornando a pick-up vermelha, o estranho se aproximou da janela. Frankie baixou o vidro. - Muito prazer, sr. Adão. - Você me conhece? Claro! Desde menina. - Estou brincando, se não notou. Costuma vestir-se sempre assim? O desconhecido fitou nela os olhos m ...

ito azuis. - Pode me ajudar? - Não sei como. Ele olhou a sua volta. Frankie notou que estava ferido. Impressionada, puxou o freio de mão, abriu a porta com cuidado e desceu. Aproximando-se, percebeu que o ho¬mem estava tremendo. Mal podia se manter de pé. - Que aconteceu? - Eu. não sei ao certo. Quando acordei. Não tenho certeza. - De onde é? Ele apontou vagamente numa direção. Nada havia lá, só a escuridão e alguns barrancos. - Hum. — fez ela, voltando a pensar que lhe es-tavam pregando uma peça. — Quem é você? Era visível a aflição estampada naquele rosto ba¬nhado em suor. Ele a mirou hesitante: — Adão? Num gesto involuntário, Frankie lhe tocou a têm¬pora ensanguentada. — Está ferido. Não se lembra de nada? — Não. — Tenha calma. Vamos descobrir. Primeiro, deixe-me ajudá-lo a entrar na caminhonete. Depois vou dar uma olhada no barranco. Talvez encontre uma pista. Ele permaneceu imóvel. Parecia desnorteado. Fran¬kie se lembrou de quando teve de sair de casa para procurar o primeiro emprego. Também se sentira sem rumo. Amparando-o pelo braço, ajudou-o a contornar o veículo e entrar. Não foi fácil. O homem devia ter um metro e oitenta, talvez mais. Constrangida, ela tentava não olhar para seu corpo nu. Apressou-se a lhe entregar uma manta que trazia no banco traseiro. — Tome. Pode ser que lhe irrite um pouco a pele. É de Maury. Ele costuma dormir aqui. Mas não tenho outra coisa. O estranho olhou para fora como se o estivessem recriminando por aceitar a coberta. — Podemos dividir. Uma vez mais, Frankie olhou para ele com descon¬fiança. Tirou do porta-luvas uma caixa de lenços des¬cartáveis com que limpasse a ferida. Depois, acendendo uma lanterna, aproximou-se do barranco na esperança de encontrar a roupa ou qualquer outra coisa capaz de identificá-lo. Achou uma lata de cerveja, um palito de picolé, pontas de cigarro, enfim, nada que a ajudasse a desvendar o mistério. Retornou. O olhar perdid ...

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