Livro: A Senhora do Castelo Página 4

... ido à escuridão que ia envolvendo tudo, pareceram se mover ligeiramente. O mato novo crescia suave sob seus pés, e milhares de flores do campo já ondulavam sob o vento. Matilda tentou se concentrar nesses detalhes familiares para esquecer a dor e a tempestade que se aproximava. Sentia a cabeça dar voltas e mal podia manter as pedras no rumo. — Chegamos, minha senhora. Apresse-se ao máximo. Meg agarrou-lhe a mão, levando-a ao nível do solo. Ao passar pela pedra do altar, Matilda se deu conta de que se encontravam no círculo. Não se lembrava de ter entrado. Ao seu redor, as pedras se colocavam como sentinelas. Mais além, avistava-se o mar, e sentia o gosto de sal nos lábios. A iluminação se enfraquecia, embora soubesse ser dia ainda. Num esforço, tocou a Sacerdotisa. Era mais alta que as outras pedras e tinha um tom azulado notável. Bem no meio surgia uma fenda, formada pelo vento, pelas mãos do homem, ninguém sabia. Todas as outras eram maciças. Apalpou a superfície fria da pedra. Como de todas as outras vezes, sentiu uma energia passar pela mão, pelo braço e se diluir no corpo, renovando-a. Tomando a criança, Matilda a ergueu aos céus. — Peço que a essa criança seja concedida a força da Sacerdotisa! Que viva com saúde! Que sua vida seja digna de uma filha da Sacerdotisa! — Hesitou: tal privilégio deveria ser pago regiamente. — Peço que me leve em seu lugar! Que minha vida seja trocada pela dela, se for possível! — Minha senhora! — Meg estava chocada — Não deveria! Matilda a ignorou, sabia o que tinha visto. Não tinha nada a perder. Que mãe faria menos? — Ouçam-me, Espíritos! — Ergueu a criança e passou-a para Meg pela fenda lisa no meio da rocha. Então, recostou-se junto à pedra, em alívio. — Obrigada — sussurrou. Meg correu dando a volta na pedra com a criança aos braços. Damáris olhava ao redor com interesse. Já não tinha a pele avermelhada e seus olhos fitavam as nuvens escuras. — Min ...

a nossa! É como se já pudesse ver — exclamou Meg. — Olhe para ela, minha senhora! Matilda tocou a face gelada de Damáris. — Tome conta dela, Meg. Faça com que se lembre de mim. — Minha senhora, não fale assim! Rápido! Faça uma prece! Fez uma prece silenciosa, não para si, mas para Damáris. Não acreditava que seu destino pudesse ser alterado. Já haviam quase atingido o castelo quando Owen e seus homens se aproximaram em sua procura. Seu semblante mostrava transtorno e temor. — Matilda! — gritou, abraçando-a. — O que você fez? Ela conseguiu virar o rosto e sorrir, embora não estivesse enxergando direito. — Levei nossa filha à Sacerdotisa. Era o único jeito. Owen dirigiu-se à dama. — Arrume suas coisas e parta! Agora mesmo! Se alguma coisa acontecer a minha esposa ou ao bebê. — Não, não, Owen — protestou Matilda. — Não foi culpa de Meg. Eu a forcei a ir. Não conseguiria passar a criança pela fenda sozinha. Precisava de ajuda. — Sua voz foi sumindo, e perdeu os sentidos. Owen ergueu a esposa nos braços e carregou-a para dentro do castelo. Meg se apressava atrás deles, segurando a criança, quando as primeiras gotas de chuva começaram a cair. Dali a pouco, a tempestade desabou com toda a fúria. Meg nunca vira tempestade assim. Parecia que as paredes do castelo iam desabar sob o ataque dos ventos, relâmpagos e trovões. Podia ouvir os gritos das criadas mais medrosas tentando se esconder da tormenta. Voltou a olhar para a criança. Damáris estava tranqüila, seu olhar percorrendo o castelo e a tempestade lá fora. Ao tomarem a recém-construída escada, Damáris fechou os olhos, suspirou e dormiu. Meg estava espantada, tanto com a criança quanto com sua senhora. Durante as semanas seguintes, sob o olhar cuidadoso de Owen e um batalhão de criados, Matilda e Damáris pareciam se recuperar. Owen começou a ter esperança de que desta vez os acontecimentos seriam diferentes e não haveria necessidade de ...

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