Livro: A prova do pecado Página 2

... melhor, se desabafar com al¬guém. Está cientificamente provado que é mais fácil fazer confidencias a estranhos. — Não para mim — ela discordou em tom inamistoso. — Vá embora, quero dizer, vá em frente, por favor. — Ótimo, assim está melhor. — Melhor? — E, agora você parece estar zangada, não só desolada. O jeito dele falar quase descontrolou Carla novamente. Ela precisou cerrar os punhos e respirar fundo, lutando contra a vontade de chorar. — Diga-me por que está aqui sozinha e em prantos, quan¬do lá dentro é só alegria — ordenou a voz. — Daqui se pode ouvir o som da música! Carla apertou os dentes numa raiva silenciosa. — Se não quer dizer — ele continuou — posso tirar mi¬nhas próprias conclusões. Lembrando-se de que aquele homem era um dos convi¬dados, Carla reprimiu o desejo de mandá-lo para o inferno com suas conclusões. — Deixe-me pensar — ele murmurou. — A festa é para comemorar um duplo noivado. Um casal de irmãos e seus respectivos pares. Para mim, ou você é a noiva que se ar¬rependeu do compromisso, ou está secretamente apaixonada por um dos envolvidos. Carla ficou pasma. O estranho acertara o alvo com pre¬cisão fantástica. — Está bem. Vejo que não está disposta a confidenciar. Vou entrar para cumprimentar os anfitriões, já que suas lágrimas secaram. Adeus, Niobe, fique tranqüila que seu segredo está seguro comigo. Juro que nunca direi que ouvi uma virgem chorando sob os loureiros — a voz concluiu. Tensa, Carla ouviu-o afastar-se, seus passos ecoando no caminho de cascalho. Esperou alguns minutos e saiu do esconderijo. Ergueu o olhar e observou a casa que, em seu estilo gótico vitoriano, destacava-se contra o céu escuro da noite. Lá dentro, as luzes brilhavam e a música ecoava como um coração gigante a pulsar. Odiando ter que voltar para a festa, Carla deu um suspiro de desabafo. Sabia que se ficasse mais tempo por ali, cer¬tamente alguém iria procurá-la. O ...

esastre seria maior se a vissem naquele estado. Silenciosamente, voltou apressada para casa, devolveu o casaco para o cabide e, na ponta dos pés, subiu ao quarto. Dez minutos depois, descia a escada. Completamente re¬feita, maquilagem retocada, olhos brilhantes e o sedoso ca¬belo ruivo todo arrumado, ela sorriu ao aproximar-se da mãe, Gween Lawrence, que se encontrava num grupo de amigos. — Carla! — a mãe exclamou. — Onde estava? Por que não está dançando? — Ainda não fui convidada — ela respondeu alegremente, desequilibrando-se de leve nos sapatos de salto alto, quando fitou um homem alto que não conhecia. Sorrindo, Gween apontou para o estranho. — Não precisa cair, querida. Quero que conheça nosso novo vizinho. O homem inclinou a cabeça. — Peter Audley, muito prazer. Carla sentiu o coração bater descompassado. Aquela voz era inconfundível. — Carla Lawrence — ela respondeu. — Seja bem-vindo a Little Compton. Seus olhares se encontraram por um momento e Peter Audley sorriu. — A música mudou para um ritmo mais suave, que posso enfrentar. Se por milagre ainda não tiver parceiro, quer dançar comigo? Um pouco confusa, Carla se viu inclinando a cabeça num consentimento relutante. Desejou nunca ter saído do quarto, mas seguiu na frente de Peter Audley para juntar-se aos outros que dançavam na sala de visitas. A festa estava no auge. A mobília fora toda encostada contra as paredes e, ligada ao ambiente de jantar por uma porta em arco, a sala transformara-se num salão de baile. No exato momento em que os dois começaram a dançar, a intensidade das luzes foi diminuída. Convidados que es¬tavam espalhados foram se chegando aos pares, atraídos pela música romântica e a penumbra. Por sobre o ombro de Peter Audley, Carla viu de relance seu irmão Marcus e Lisa, dançando agarrados. No outro lado, a irmã Jessica, ou Jess, como era chamada em família, dançava nas mesmas condições com o futuro marido, o dr. Davi ...

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