Livro: Os Timbiras Página 5
Autor - Fonte: Gonçalves Dias
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maus os caitetus, que em varas pascem,
Somente o sabiá geme sozinho,
E sozinho o Condor aos céus remonta.
Folga Jatir de só viver consigo:
Em bem, que tens agora que dizer-lhe?
Esmaga o seu tacape a quem vos prende,
A quem vos dana, afoga entre os seus braços,
E em quem vos acomete, emprega as setas.
Fraco! não temes já que te não falte
O primeiro entre vós, Jatir, meu filho?”
Despeitoso Itajubá, ouvindo um nome.
Embora o de Jatir, apregoado
Melhor, maior que o seu, a testa enruga
E diz severo aos dois qu’inda argumentam
Mais respeito, mancebo, ao sábio velho,
Qu’éramos nós crianças, manejava
A seta e o arco em defensão dos nossos.
Tu, velho, mais prudência. Entre nós todos
O primeiro sou eu: Jatir, teu filho,
E forte e bravo; porém novo. Eu mesmo
Gabo-lhe o porte e a gentileza; e aos feitos
Novéis aplaudo: bem maneja o arco,
Vibra certeira a flecha; mas.(sorrindo
Prossegue) afora dele inda há quem saiba
Mover tão bem as armas, e nos braços
Robustos, afogar fortes guerreiros.
Jatir virá, senão. serei convosco.
(Disse voltado para os seus, que o cercam)
E bem sabeis que vos não falto eu nunca.
Altercam eles nas ruidosas tabas,
Em quanto Jurucei com pé ligeiro
Caminha: as aves docemente atitam,
De ramo em ramo – docemente o bosque
À medo rumoreja, – à medo o rio
Escoa-se e murmura: um borborinho,
Confuso se propaga, – um rio incerto
Dilata-se do sol doirando o ocaso.
Último som que morre, último raio
De luz, que treme incerta, quantos entes
Oh! hão de ver a luz de novo
E o romper d’alva, e os céus, e a natureza
Risonha e fresca, -- e os sons, e os ledos cantos
Ouvir das aves tímidas no bosque
Outra vez ao surgir da nova aurora?!
CANTO SEGUNDO
Desdobra-se da noite o manto escuro:
Leve brisa subtil pela floresta
Enreda-se e murmura, – amplo silêncio
Reina por fim. Nem saberás tu como
Essa imagem da morte é triste e torva.
Se nunca, a sós contigo, a pressentisse
Longe
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este zunir da turba inquieta.
No ermo, sim; procura o ermo e as selvas.
Escuta o som final, o extremo alento,
Que exala em fins do dia a natureza!
O pensamento, que incessante voa,
Vai do som â mudez, da luz às sombras
E da terra sem flor, ao céu sem astro.
Simelha a graça luz, qu’inda vacila
Quando, em ledo sarau, o extremo acorde
No deserto salão geme, e se apaga!
Era pujante o chefe dos Timbiras,
Sem conto seus guerreiros, três as tabas,
Opimas, – uma e uma derramadas
Em giro, como dança dos guerreiros.
Quem não folgara de as achar nas matas!
Três flores em três hastes diferentes
Num mesmo tronco, – três irmãs formosas
Por um laço de amor ali prendidas
No ermo; mas vivendo aventuradas?
Deu-lhes assento o herói entre dois montes,
Em chã copada de frondosos bosques.
Ali o cajazeiro as perfumava,,
O cajueiro, na estação das flores,
De vivo sangue marchetava as folhas?
As mangas, curvas à feição de um arco,
Beijavam-lhes o teto; a sapucaia
Lambia a terra , – em graciosos laços
Doces maracujás de espessas ramas
Sorriam-se pendentes; o pau-d’arco
Fabricava um dossel de cróceas flores,
E as parasitas de matiz brilhante
A úsnea das palmeiras estrelavam!
Quadro risonho e grande, em que não fosse
Em granito eu em mármore talhado!
Nem palácios, nem Tôrres avistaras,
Nem castelos que os anos vão comento,
Nem grimpas, nem zimbórios, nem feituras
Em pedra, que os humanos tanto exaltam!
Rudas palhoças só! que mais carece
Quem há de ter somente um sol de vida,
Jazendo negro pó antes do ocaso?
Que mais? Tão bem a dor há de sentar-se
E a morte revoar tão solta em gritos
Ali, como nos átrios dos senhores.
Tão bem a compaixão há de cobrir-se
De dó, limpando as lágrimas do aflito.
Incerteza voraz, tímida esp’rança,
Desejo, inquietação também lá moram;
Que sobra pois em nós, que falta neles?
De Itajubá separam-se os guerreiros;
Mudos, às portas das sombrias tabas,
Imóve ...
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