Livro: Os Timbiras Página 4
Autor - Fonte: Gonçalves Dias
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Diz o chefe entre si, – lá, descuidosos
Das folganças de Ibaque, heróis timbiras
Contemplam-me, das nuvens debruçados:
E por ventura de lhes ser eu filho
Enlevam-se, e repetem, não sem glória,
Os seus cantores d’Itajuba o nome.
Vem primeiro Jucá de fero aspecto.
Duma onça bicolor cai-lhe na fronte
A pel’ vistosa;sob as hirtas cerdas,
Como sorrindo, alvejam brancos dentes,
E nas vazias órbitas lampejam
Dois olhos, fulvos, maus. – No bosque, um dia,
A traiçoeira fera a cauda enrosca
E mira nele o pulo; do tacape
Jucá desprende o golpe, e furta o corpo;
Onde estavam seus pés, as duras garras
Encravavam-se enganadas, e onde as garras
Morderam, beija a terra a fera exangue
E, morta, ao vencedor tributa um nome.
Vem depois Jacaré, senhor dos rios,
Ita-roca indomável, – Catucaba,
Primeiro sempre no combate, – o forte
Juçurana, – Poti ligeiro e destro,
O tardo Japeguá, – o sempre aflito
Piaíba, que espíritos perseguem:
Mojacá, Mopereba, irmãos nas armas,
Sempre unidos, ninguém não foi como eles!
Lagos de sangue derramaram juntos;
Filhos e pais e mães d\'imigas tabas
Odeiam-nos chorando, e a glória d’ambos,
Assim chorada, mais e mais se exalta:
Samotim, Pirajá, e outros infindos,
Heróis também, aos quais faltou somente
Nação menor, menos guerreira tribo.
Japi, o atirador, quando escutava
Os sons guerreiros do membi troante,
Na tesa corda flecha embebe inteira,
E mira um javali que os alvos dentes,
Navalhados, remove: pára,escuta.
Volvem-lhe os mesmos sons: Bate-lhe o peito
Os olhos pulam, – solta horrendo grito,
Arranca e roça a fera!. a fera atônita,
Aterrada, transida, treme, erriça
As duras cerdas; tiritante, pávida,
Esgazeando os olhos fascinados,
Recua: um tronco só lhe embarga os passos.
Por longo trato, de si mesma alheia,
Demora-se, lembrada: a custo o sangue
Volve de novo ao costumado giro,
Em quando o vulto horrendo se recorda!
“Mas onde está Jatir? – per
...
unta o chefe,
Que debalde o procura entre os que o cercam:
Jatir, dos olhos negros, que me luzem,
Melhor que o sol nascendo, dentro d’alma;
Jatir, que aos chefes todos anteponho,
Cuja bravura e temerário arrojo
Folgo em reger e moderar nos prélios;
Esse, porque não vem, quando vos vindes?”
– Corre Jatir no bosque, diz um chefe
Bem sabes como: acinte se desgarra
Dos nossos, – andal só, talvez sem armas,
Talvez bem longe: acordo nele é certo,
Creio, de nos tachar assim de fracos! –
Pais de Jatir, Ogib, entrara em anos;
Grosseiro cedro mal lhe afirma os passos,
Os olhos pouco vêem; mas de conselho
Valioso e prestante. Ali, mil vezes,
Havia com prudência temperado
O juvenil ardor dos seus, que o ouviam.
Alheio agora da prudência, escuta
A voz que o filho amado lhe crimina.
Sopra-lhe o dizer acre a cinza quente,
Viva, acesa, antes brasa, – o amor paterno:
Amor inda tão forte na velhice,
Como no dia venturoso, quando
Cendi, que os olhos seus só viram bela,
Sorrindo luz de amor dos meigos olhos,
Carinhosa lho deu; quando na rede
Ouvia com prazer ass ledas vozes
Dos companheiros seus, – e quando absorto,
Olhos pregados no gentil menino,
Bem longas horas, sim, porém bem doces
Levou cismando aventuradas sinas.
Ali o tinha, ali meigo e risonho
Aqueles tenros braços levantava;
Aqueles olhos límpidos se abriam
À luz da vida: cândido sorriso,
Como o sorrir da flor no romper d’alva,
Radiava-lhe o rosto: quem julgara,
Quem poderá aventar, supor ao menos
Haverem de apertar-se aqueles braços
Tão mimosos, um dia, contra o peito
Arquejante e cansado, – e aqueles olhos
Verterem pranto amargo em soledade?
Incrível! – porém lágrimas cresceram-lhe
Dos olhos, – lá tombou-lhe uma, das faces
No filho, em cujo rosto um beijo a enxuga.
Agora, Ogib, alheio da prudência,
Que ensina, imputações tão más ouvindo
Contra o filho querido, acre responde.
“São torpes os anuns que em bandos folgam,
São ...
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