You are using an outdated browser. For a faster, safer browsing experience, upgrade for free today.
Os Timbiras

Livro: Os Timbiras

Autor - Fonte: Gonçalves Dias

1 / 20 Próxima

... Gonçalves Dias Introdução Os ritos semibárbaros dos Piagas, Cultores de Tupã, a terra virgem Donde como dum trono, enfim se abriram Da cruz de Cristo os piedosos braços; As festas, e batalhas mal sangradas Do povo Americano, agora extinto, Hei de cantar na lira.– Evoco a sombra Do selvagem guerreiro!. Torvo o aspecto, Severo e quase mudo, a lentos passos, Caminha incerto, – o bipartido arco Nas mãos sustenta, e dos despidos ombros Pende-lhe a rôta aljava. as entornadas, Agora inúteis setas, vão mostrando A marcha triste e os passos mal seguros De quem, na terra de seus pais, embalde Procura asilo, e foge o humano trato. Quem poderá, guerreiro, nos seus cantos A voz dos piagas teus um só momento Repetir; essa voz que nas montanhas Valente retumbava, e dentro d’alma Vos ia derramando arrojo e brios, Melhor que taças de cauim fortíssimo?! Outra vez a chapada e o bosque ouviram Dos filhos de Tupã a voz e os feitos Dentro do circo, onde o fatal delito Expia o malfadado prisioneiro, Qu’enxerga a maça e sente a muçurana Cingir-lhe os rins a enodoar-lhe o corpo: E sós de os escutar mais forte acento Haveriam de achar nos seus refolhos O monte e a selva e novamente os ecos. Como os sons do boré, soa o meu canto Sagrado ao rudo povo americano: Quem quer que a natureza estima e preza E gosta ouvir as empoladas vagas Bater gemendo as cavas penedias, E o negro bosque sussurrando ao longe ___ Escute-me. ____ Cantor modesto e humilde, A fronte não cingi de mirto e louro, Antes de verde rama engrinaldei-a, D’agrestes flores enfeitando a lira; Não me assentei nos cimos do Parnaso, Nem vi correr a linfa da Castália. Cantor das selvas, entre bravas matas Áspero tronco da palmeira escolho. Unido a ele soltarei meu canto, Em quanto o vento nos palmares zune, Rugindo os longos encontrados leques. Nem só me escutareis fereza e mortes: As lágrimas do orvalho por ventura Da minha lira distendendo as corda ...
, Hão de em parte ameigar e embrandece-las. Talvez o lenhador quando acomete O tranco d’alto cedro corpulento, Vem-lhe tingido o fio da segure De puto mel, que abelhas fabricaram; Talvez tão bem nas folhas qu’engrinaldo, A acácia branca o seu candor derrame E a flor do sassafraz se estrele amiga. CANTO PRIMEIRO Sentado em sítio escuso descansava Dos Timbiras o chefe em trono anoso, Itajubá, o valente, o destemido Acoçador das feras, o guerreiro Fabricador das incansáveis lutas. Seu pai, chefe também, também Timbira, Chamava-se o Jaguar: dele era fama Que os musculosos membros repeliam A flecha sibilante, e que o seu crânio Da maça aos tesos golpes não cedia. Cria-se. e em que não crê o povo stulto? Que um velho piaga na espelunca horrenda Aquele encanto, inútil num cadáver, Tirara ao pai defunto, e ao filho vivo Inteiro o transmitira: é certo ao menos Que durante uma noite juntos foram O moço e o velho e o pálido cadáver. Mas acertando um dia estar oculto Num denso tabocal, onde perdera Traços de fera, que rever cuidava, Seta ligeira atravessou-lhe um braço. Mão d’imigo traidor a disparara, Ou fora algum dos seus, que receioso Do mal causado, emudeceu prudente. Relata o caso, irrefletido, o chefe. Mal crido foi! –– por abonar seu dito, Redobra d’imprudência, –– mostra aos olhos A traiçoeira flecha, o braço e o sangue. A fama voa, as tribos inimigas Adunam-se, amotinam-se os guerreiros E as bocas dizem: o Timbira é morto! Outras emendam: Mal ferido sangra! Do nome do Itajubá se despega O medo, – um só desastre venha, e logo Esse encanto vai prestes converter-se Em riso e farsa das nações vizinhas! Os manitós, que moram pendurados Nas tabas d’Itajuba, que as protejam: O terror do seu nome já não vale, Já defensão não é dos seus guerreiros! Dos Gamelas um chefe destemido, Cioso d’alcançar renome e glória, Vencendo a fama, que os sertões enchia, Saiu prim ...

Anterior 2 / 20 Próxima
Comentários:
Deixe aqui seu comentário sobre este livro:
Nome:
Comentário: