Livro: Um perigo de mulher Página 2

... carreira, nunca deixe minha Kate ouvi-lo falar assim de uma mulher. — Nem minha Caro — acrescentou Drew. — Ouvi dizer que uma ex-princesa aborrecida pode ser tão perigosa quanto uma rainha com uma coroa e um império. — Deve prestar atenção às suas palavras, Aberdeen — disse Ross, distraído pelo barulho que vinha da direção da Trafalgar Square. — Seus gentis avisos não são necessários, cavalheiros — in¬formou o primeiro-ministro. Ross ia fazer outro comentário, mas agora encontrava-se real¬mente intrigado pelos ruídos vindos de fora. Levantou-se, afastou as cortinas e espiou pela janela. Que diabos estava acontecendo? Um amontoado de gente havia se formado na parte alta de Whilehall, e agora caminhava em direção ao almirantado. Quatro pessoas lado a lado, à frente, encabeçavam seis linhas de mani¬festantes e traziam uma faixa, que Ross não conseguiu ler aquela distância. Muito estranho! Pois a turba era formada apenas de mulheres. — Não consigo entender o que há de errado com essas jovens de hoje em dia — comentou Weldon. — Parecem pensar por si próprias. Não mostram respeito algum pela opinião de um homem mais velho. — Isso é culpa da permissividade dos pais — opinou Aberdeen. Dê uma polegada a uma mulher e ela tomará o quarteirão inteiro. De fato, pelo menos toda a Whitehall, pensou Ross, mal con¬tendo uma risada ao conseguir, por fim, ler o conteúdo da faixa: \\"Direitos da Mulher! Liberdade! Igualdade! Fraternidade!\\". E na vanguarda, um cartaz sobressaía: \\"Direito de Voto às Mulheres!\\". O audacioso aviso era carregado pela mulher mais linda que Ross já vira. Parecia exuberante, embora a distância não permi¬tisse que o conde visse todos os detalhes do rosto feminino. Ele distinguia, porém, uns cabelos louros radiantes, mesclados de fios acobreados, presos em um coque. Alguns cachos dourados mol¬davam-lhe a face. O queixo era perfeito e erguia-se em uma atitude de desafio. Os seios ...

deslumbrantes destacavam-se orgulhosos. — Saiam da rua, suas lunáticas! — gritou um cocheiro que tentava trafegar. O homem as ameaçava erguendo um dos punhos, mas o líder do grupo não esboçou nenhuma reação, a não ser por um sorriso sutil, quase imperceptível, que se formou em seus lábios carnudos e sedutores. Girando nos calcanhares, a dama observou as tropas que se formavam atrás da passeata. — Mulheres da Inglaterra, uni-vos! — gritou a admirável dama, balançando o cartaz e exortando as companheiras, que tam¬bém começaram a gritar, erguendo os punhos: — Uni-vos! Uni-vos! Uni-vos! — Que diabos está acontecendo lá fora, Blakestone? — berrou Aberdeen do outro lado do salão. — Parece o início de um tumulto — respondeu Drew, erguendo-se e dirigindo-se à janela. — Ah, o sexo frágil foi à guerra! — Aterrorizante, não é mesmo? — disse Ross, feliz de ter nascido homem naqueles tempos modernos, pois bem no íntimo sentia uma espécie de culpa pela opressão imposta às mulheres, e admirava aqueles corações subjugados clamando por justiça. — Santo Deus! Jared, aquela não é a esposa do velho Tosser Maxton? — Drew apontou para uma jovem que passava bem em¬baixo da janela do almirantado. — Lá, com aquele imenso chapéu verde. Jared juntou-se a eles na janela. — Como posso saber? Tudo que consigo ver é o chapéu. Mas Ross, de fato, reconhecera a mulher de Tosser. — E se não estou enganado, cavalheiros, a dama que está ao lado dela é a mãe do coronel Broadhurst. — Deus do Céu! — exclamou Claredon com uma careta. — Será que todas ficaram loucas? A essa altura, todos os homens que se encontravam no salão já estavam aglomerados na janela, tecendo comentários acerca do ultrajante espetáculo que aquelas mulheres ofereciam, marchando e protestando contra os homens. — O que significa tudo isso? — bradou Aberdeen como se estivesse num comício dos Comuns. — Algum tipo de protesto, a ...

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