Livro: Cativa Página 3

... dele ame¬açara sair do controle e Felicia gemera um pequeno protesto ao calor de um beijo, mas as palavras dele a confortaram. Mesmo agora, mal conseguia acreditar que alguém a amava. Afinal de contas, refletia humil-demente Felicia, ela não tinha nada de especial. Mi¬lhares de outras garotas tinham pele sedosa e cabelos cor de cobre, e inúmeras outras possuíam corpos ma¬gros e elegantes. Ela não tinha nada de mais. Faisal lhe dissera que ela era muito modesta. Que seus olhos eram verdes como um oásis depois da chu¬va e seu cabelo tinha a cor da areia queimada pelos raios do sol. Comparara o corpo dela ao movimento de um falcão durante o voo e lhe dissera que, com sua pele branca como seda e a boca macia e frágil, Felicia era a alegria do coração dele. Apesar dos protestos de Felicia, Faisal já lhe com¬prara uma aliança, com uma esmeralda, para combinar com os olhos dela, e tão valiosa que, ao vê-la, Felicia perdera o fôlego de espanto. Dez dias antes, Faisal escrevera para a família no Kuwait contando quais eram suas intenções. Ao lon¬go das semanas, Felicia ouvira muita coisa sobre a fa-mília de Faisal, sua mãe e as duas irmãs, e a vida que tinham. Mas, a maior parte do tempo, Faisal falara so¬bre o tio que, depois da morte do pai, se transformara em chefe de sua família. Embora nunca houvesse dito diretamente, Felicia sentia haver certa animosidade entre Faisal e o tio, e achou que o homem mais velho nem sempre aprovava as ações do mais novo. Felicia já sabia que Faisal descendia da família go¬vernante do Kuwait por parte da mãe e do tio, e que este fizera muito pela família enlutada, até mesmo a ponto de trazê-la para sua própria casa e assumir toda a responsabilidade pela educação de Faisal e das irmãs. A tribo a que Faisal pertencia viera originalmente do deserto. Eram guerreiros ferozes e orgulhosos, com um longo histórico de guerras tribais e derramamento de sangue. Até a época do bisavô de Faisal, as tribo ...

haviam promovido guerras umas contra as outras. E Faisal contara a Felicia que a avó do tio fora uma in¬glesa, encontrada no deserto por um chefe tribal com olhos de falcão, cuja ação rápida provavelmente lhe salvara a vida. Ela era filha de um explorador e, con¬tinuou a explicar Faisal, como recompensa por seu pronto resgate, o chefe tribal tomara a mão da refém em casamento. Felicia achara a história inacreditavelmente român¬tica, mas guardara a opinião para si mesma. Queria perguntar a Faisal mais coisas a respeito do casal e sen¬tia um leve conforto pelo fato de já haver sangue in¬glês correndo nas veias da família para a qual entraria. Nos dias atuais, a família de Faisal não mais vagava pelo deserto, porque o avô materno dele havia funda¬do um banco mercantil justamente quando o petróleo fora descoberto no Kuwait e, agora, esse banco tinha escritórios em Nova York e Londres, controlando um império financeiro tão vasto e complexo que a cabeça de Felicia dava voltas sempre que Faisal tentava lhe explicar como funcionava. Como ele mesmo contara, não sem uma ponta de aborrecimento, esse império era controlado diretamente pelo tio, seu maior acio¬nista e que, portanto, tinha o poder de manipular Fai¬sal como empregado, da mesma forma que um peão no tabuleiro de xadrez. Felicia entendia perfeitamente que Faisal achasse a situação irritante. Ela também sofrerá com a atitude ditatorial de um rude tutor. No entanto, até ela estra¬nhara algumas observações iradas de Faisal a respeito do tio. Faisal era um jovem extremamente rico, e tinha tudo o que precisava para tornar sua vida mais confor¬tável. Se seu tio insistia para que ele aprendesse sobre os negócios desde o escalão mais baixo, isso não era, no longo prazo, um método razoável para prepará-lo para as responsabilidades que um dia teria de assumir? Porém, naquele dia, Faisal parecia mais inclinado a reclamar do tio que o normal e uma súbita intuição fez com ...

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