Livro: Casamento em tres atos Página 2

... que os pais haviam morrido de febre, dez anos atrás, ele era a única família de Emma e estava contente pela irmã ter se en¬caminhado ao casamento de maneira tão alegre e despreocupada. — Minha irmã gosta de Sir Weldon desde quando estava no berçário e, para sua felicidade, ele sente a mesma admiração por ela. — Dizem que os melhores casamentos são aqueles que surgem já no berço, milorde. — Dawkins, é exatamente onde eu ainda a vejo — disse Ross. — Mal posso crer que já tem idade suficiente para se casar. Enquanto eu estive fora, ela completou 17 anos. Dezessete, pode acreditar? Quando eu parti, Emma ainda subia no celeiro para procurar por gatinhos, sem ligar para os pedaços de palha que ficavam pre¬sos nos cabelos e na touca. — O tempo voa, milorde. E você ficou afasta¬do da Inglaterra por um bom tempo. — Quase três anos. — Ross olhou para a janela para ver como ia o reparo da roda de seu coche. Sua designação como astrônomo numa viagem de pesquisa patrocinada pela Marinha o levara ao redor do mundo sem maiores in¬fortúnios — isto é, até estar a 16 quilômetros de Howland Hall e uma roda de seu coche se quebrar numa vala. Aquela ironia aumentava a impaciência de Ross, mas as duas canecas daquela boa cerveja — ah, o que ele e o res¬to da tripulação do Perseverance não teriam dado por um gole disso em Buenos Aires ou em Honolulu! — tornavam a espera mais su¬portável. E para ser honesto, Ross admitia que esse re¬gresso ao lar seria diferente dos anteriores. Era fato que nunca se ausentara de Howland Hall por tanto tempo. No meio do Oceano Pacífico, o tempo não importava, dias e noites se seguiam um após outro. Ao reencontrar Emma em Londres duas se¬manas antes, ficara chocado com a mudança ocorrida nela. Desde sua partida, ela termina¬ra os estudos e se tornara uma mulher cresci¬da, uma beldade. Estava pronta para se casar, ter filhos e sabe mais Deus o quê, enquanto aos 30, o próprio Ross conti ...

uava um andarilho so¬nhador, mais ocupado com as estrelas no céu do que com os mortais aqui na Terra. A cada manhã, o espelho mostrava que ele parecia o mesmo — afável, agradável, um pou¬co desalinhado e distraído, o suficiente para provar que era um cavalheiro, mas não vestido com apuro. Certamente havia visto e aprendido muito sobre o mundo, mas não tinha evoluído, crescido ou mudado, ou o que mais fosse es¬perado de um homem. E, apesar da cerveja de Dawkins, a ideia lhe parecia preocupante. Ross suspirou novamente, correndo os dedos pelos cabelos. — Aí está meu problema, Dawkins. O que oferecer a minha irmã como presente de casa¬mento? Como presentear uma jovem dama que sempre teve de tudo? — O que oferecer, o que oferecer. — O dono do bar passava seu pano sobre o balcão num lento círculo. — Uma panela de ferro não ser¬viria para Lady Emma. Que tal uma jóia? As mulheres não gostam tanto de jóias? — Emma já tem mais enfeites do que seria capaz de usar — disse Ross. — E, antes do ca¬samento, pretendo deixar que ela escolha o que quiser dentre as jóias de nossa mãe guardadas no cofre. — É um cavalheiro muito generoso, milorde. — Dawkins franziu a testa, pensativo. — Um vestido novo, ou então um chapéu com plumas raras? — Já lhe dei liberdade para que cuidasse do enxoval com a costureira. — Ross lembrou-se das contas enviadas por seu nervoso contador. — Eu disse que não era necessário medir gas¬tos, e Emma não se fez de rogada. Se Weldon tiver pulso firme, não precisará comprar nem mesmo um par de meias para Emma nos próxi¬mos cinco anos. — Talvez um pequeno trole, milorde, com pôneis para puxá-lo? — É o presente que Weldon lhe dará. — O sorriso de Ross estava começando a se transformar em um esgar desesperado. — Ela me escre¬veu uma carta só para contar sobre isso. — Deve ter trazido algo raro de suas viagens, milorde. Uma concha do mar, um chifre de uni¬córnio ou qualque ...

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