Livro: Um impostor em minha cama Página 2

... o a um homem com quem tivesse algumas afinidades. Se o amor acontecesse depois disso, então se consideraria uma pessoa de sorte. Porém, todos esses planos se dissolveram com a morte do pai e com a revelação de que ele morrera na miséria. Pior ainda, que sua mãe sabia da precária situação financeira da família. As emoções de Meriel variaram de tristeza a um pouco de raiva, que nunca desapareceu por completo. Como não conseguira perceber os sinais evidentes da catástrofe que se aproximava? A casa em que nascera havia sido comprada por um primo distante, que logo viria tomar posse dela. Meriel e a irmã Luísa tinham empregos garantidos como preceptoras, mas os salários não eram tão bons quanto imaginavam. Victoria, a outra irmã, fora obrigada a vender objetos da família para sustentar a mãe, tão devastada pelos acontecimentos que mal saía da cama. Contudo, um pouco de esperança surgira na semana anterior. Victoria ia se casar. Fora uma surpresa o pedido do visconde! Assim, a mãe teria um lugar para viver. Isso aliviou um pouco Meriel, que enviava boa parte de seu parco salário para casa, nos últimos meses. Perdera seu primeiro emprego de preceptora devido ao ciúme de sua senhora. Meriel, desde então, aprendera a esconder os belos cabelos dourados num penteado severo, a mascarar os belos olhos azuis atrás de óculos e a vestir-se da forma mais simples possível. Felizmente, nesse novo emprego não havia uma duquesa para implicar com ela. Uma das razões que fizeram com que aceitasse a posição. O pequeno Stephen vivia só com os empregados. O pai dele, o duque de Thanet, passava a maior parte do tempo em Londres, centro de todas as reuniões de negócios e de prazer. Talvez fosse mesmo melhor Stephen não ser exposto a tal tipo de comportamento, pensava ela. O capim alto que arranhava suas saias deu lugar a uma grama bem aparada que chegava até a Mansão Thanet, construída aos pés dos penhascos. Magnífica residência de três a ...

dares, com uma torre que abrigava a grande escada principal e com centenas de janelas brilhando ao sol. Meriel crescera em meio a riquezas, mas isso era como um palácio para ela. Na primeira semana de trabalho, perdera-se quase todos os dias. Começando a descer a colina, lembrou-se de sua ingenuidade ao assumir o novo cargo. Sempre admirara a própria preceptora, que despertara nela a vontade de aprender. A matemática transformara o mundo em um lugar lógico, e pretendia transmitir isso a seu aluno. Entretanto, deparara com um garoto de seis anos de idade, que andava pela propriedade sem nenhum tipo de freio. A mãe morrera ao dar à luz, deixando-o aos cuidados de um pai ausente e de empregados antigos que o amavam. Meriel esperara resistência, até porque o garoto a informara de seu título — marquês de Ramsgate —, mas mostrara-se gentil e curioso, e, dentro de poucas semanas, ela já havia conquistado a confiança do pequeno. Então, chegou a notícia de que o duque estava voltando para Thanet para recuperar-se de recente enfermidade. Os criados não falavam abertamente do tipo de doença que o acometera, mas os rumores eram de que o duque estava se consumindo. Stephen parecia triste e preocupado, e um instinto maternal fez com que Meriel tivesse vontade de acolher e de proteger aquela criança. Estava já na metade da descida, quase nos jardins, quando avistou um cavaleiro vindo em direção à casa. Protegendo os olhos com a mão, fixou o olhar na figura que se aproximava, mas tudo o que pôde distinguir foi que ele cavalgava com maestria. Ele evitou o pórtico que abrigava a entrada principal da mansão e dirigiu-se para as laterais do edifício, na direção da entrada dos empregados. Mas o cavaleiro não cavalgava como um criado, e estava muito bem vestido para ser um deles. Parou o cavalo e contemplou a mansão. Quando tirou o chapéu, Meriel reconheceu a figura imponente do duque, que conhecera por ocasião da entrevista, cerca de dois mes ...

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