Livro: A tortura do desejo Página 2

... m mais magra do que antes, embora não tanto quanto logo depois da separação. Fechou o compacto bruscamente e jogou-o de volta na bolsa. Não queria pensar nisso. Não estava ali para alimentar sentimentalismo inútil. Estava puramente a negócios e não tinha nenhuma intenção de permitir que a emoção se intrometesse. Tudo aquilo acontecera há anos. Se Jonas não tivesse desaparecido, passando vários anos num lugar perdido na América do Sul, já estariam divorciados agora. Mas ainda se sentia agitada. Era fácil dizer a si mesma que não devia pensar, mas o subconsciente tinha a mania de não escutar conselhos. Afinal, talvez até fosse melhor que pensasse no que havia acontecido, na maneira abominável como Jonas se comportara, na humilhação que tinha sofrido em suas mãos. Ainda doía… mas tinha seu orgulho! Tentou desviar os pensamentos, abrindo uma pasta que estava no banco a seu lado. Tirou uma ficha, que começou a preencher. Leu os detalhes impessoais que ela mesma havia escrito com a maior isenção de ânimo possível. “Jonas Hunter é filho do falecido professor Godfrey Hunter, con-ferencista e estatístico. Educado em Winchester e Cambridge, o sr. Hunter fez parte da redação de um importante jornal, logo após terminar o curso universitário, e obteve um grande sucesso como jornalista. Mais tarde, trabalhou em televisão e tornou-se correspondente internacional, baseado principalmente na América do Sul. Voltou recentemente a seu país e escreveu um romance político que causou sensação e que será transformado em filme em breve.” Parou de ler e olhou pela janela. O trem entrava em uma estação, mas não era Achnacraig. O homem de cara vermelha levantou-se e abriu a porta. Com sua partida, só ela e a mulher ficaram no vagão. Julie ouviu um apito. Com um solavanco, o trem partiu. Relutante, ela se forçou a continuar com o trabalho. Afinal, Mark esperava uma boa entrevista. Seu trabalho era bom, sabia disto. Sempre fora bo ...

! Era uma coisa que ela e Jonas tinham em comum, embora, no fim, tivesse sido a causa principal da separação. Mas, agora, não deveria permitir que problemas pessoais interferissem. Umedeceu os lábios e continuou a ler os fatos frios que havia escrito: idade, descrição física, detalhes pessoais, etc. Eram coisas que conhecia. Hesitou. O que precisava saber dele era o motivo para escrever um livro sobre problemas políticos. Baseara a história em acontecimentos reais, em sua própria experiência, refletia seu ponto de vista? Tinha também que perguntar se pretendia escrever outro livro, se, na verdade, não tinha começado e se já escolhera o assunto. Quais as razões para morar naquele castelo tão longínquo na Escócia e, finalmente, seus planos para o futuro. Fez algumas anotações e fechou o fichário. Que situação! Não seria uma loucura estar ali? Será que um emprego valia tamanho sacrifício? Naturalmente, Mark não achava que era sacrifício. Em sua opinião, o casamento com Jonas terminara quando se separaram. E pretendia justamente usar a antiga ligação entre os dois para conseguir uma entrevista, até então negada a todos os outros jornais. Deixara bem claro que, se ela quisesse manter o emprego, devia fazer esse pequeno favor a ele. Guardou o fichário na pasta e puxou o zíper. Quando escreveu a Jonas, pedindo a entrevista, achava que ele recusaria. Por isso aceitara com calma o ultimato de Mark. Afinal, Jonas não queria qualquer tipo de publicidade e estava rapidamente ganhando a fama de ser um solitário, um fato que Julie achava difícil de acreditar. Mesmo assim, esperava que seu pedido fosse descartado, como os dos dois outros repórteres, antes dela. O fato de não ter sido, e de Jonas convidá-la a ir à Escócia a encheram de desespero e, a Mike, de alegria. Para complicar, havia a exigência de que não levasse fotógrafo, que fosse sozinha. Mas a pior parte foi ter que contar à mãe e a… Ângela! Era curioso que, dep ...

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