Livro: Atração Incontrolável Página 3

... l. As luzes do pinheiro tradicional enviado todos os anos pelo rei da Noruega piscavam. Até onde a vista alcançava, todas as janelas estavam enfeitadas com luzes coloridas. Angie admirou o cenário. Parecia. Encantado. E, então, ela ouviu um ruído familiar de passos no corredor, passos que ela reconheceria mesmo caminhando sobre a neve. Ela se preparou para recebê-lo, afastando os traços de cansaço do rosto e substituindo-os pela expressão de calma e de eficiência que Ricardo se acostumara a esperar da mulher que era o seu braço direito. Mas nada poderia acalmar o coração acelerado de Angie quando a porta abriu e ela viu a face bela e inescrutável. — Ah, Angie. Você está aqui. Ótimo. — Ele jogou o casaco e a pasta sobre um dos sofás de couro, e Angie sentiu um arrepio ao ouvir a voz carregada de sotaque. Os cabelos negros de Ricardo estavam despenteados, como se ele tivesse passado as mãos na cabeça, e o nó da gravata afrouxado, como ela previra. Ele sorriu para ela, pegou uma pilha de papéis e começou a folheá-la. — Traga-me os documentos do acordo de aquisição da "Posara", por favor. — Claro, Ricardo — ela respondeu depressa, enquanto automaticamente pegava o belo casaco de cashmere e o pendurava. Angie imaginou se seu rosto demonstraria sua mágoa. Ele ficara fora durante duas semanas e sequer se dera ao trabalho de cumprimentá-la. Nada de olá ou de como vai? Se alguma das outras secretárias a substituísse, ele teria notado? Porém, boas secretárias não se incomodam por parecerem invisíveis, e ela tinha orgulho de ser uma boa secretária. — A viagem foi boa? — ela perguntou polidamente ao colocar a pasta que ele pedira sobre a mesa. Ele deu de ombros. — Nova York é Nova York, você sabe. Agitada, vibrante, bela. Angie não sabia, porque jamais estivera em Nova York. — Creio que deve ser — ela observou, engolindo a pergunta que gostaria de fazer: se ele encontrara Paula Prentice, a mulher com quem ele apar ...

cera em todos os jornais durante o ano. Paula, com sua beleza loura e bronzeada, seus maravilhosos dentes brancos e cujo corpo fora eleito como o "Mais Desejável" por uma revista masculina. Enquanto Ricardo mantinha o romance com a amante da Califórnia, passava várias semanas em Nova York, e, toda vez que ele voltava, Angie o observava ansiosa, à procura de indícios de que ele fosse anunciar que pretendia se casar com a estonteante Paula. Porém, ele não anunciara. Ela se sentira aliviada ao saber pelos jornais — porque Ricardo jamais discutiria sua vida particular com a secretária — que eles haviam rompido o romance. — E quanto à aquisição da "De Camilia"? — ela perguntou, referindo-se à negociação que fora o motivo da viagem. — Enervante! Frustrante — ele traduziu, arrancando a gravata e olhando para ela. — Eu já havia deduzido, Ricardo. — Ah? — Ele franziu a testa. Sua sensata e tímida secretária passara por frustrações na vida? Ele duvidava. A única frustração que ele a imaginava tendo era não conseguir fazer um novo ponto de tricô, ou que sua televisão quebrasse. Ele a observou friamente. — Você está fazendo algum curso intensivo de italiano? — Não! O meu italiano é precário, mas eu compreendo algumas expressões e imprecações depois de trabalhar tanto tempo com você — ela disse secamente. — Gostaria de um café? Ricardo deu um meio-sorriso. — Eu adoraria. Como adivinhou? Desanimada, Angie percebeu como a voz dele soara mais grave ao pronunciar a palavra adoraria. — Claro que adivinhei, porque. — Porque. — Você é previsível. — Sou? — Tão previsível quanto o nascer do sol. Dentro de um minuto você irá reclamar sobre a festa desta noite. — É hoje à noite? — Ricardo passou a mão na cabeça. — Madonna mia! — Viu? — ela murmurou enquanto se dirigia à caríssima cafeteira que ele importara da Itália. — Totalmente previsível. Ricardo ignorou a pasta de arqu ...

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