Livro: Antes do adeus

... Claudia Jameson Gentle Persuasion CAPÍTULO I A revista estava lá, junto com o jornal da manhã, no chão em frente à loja. Quando Lorna se inclinou para pegá-los, o carteiro ainda deixou mais alguns envelopes e acenou amavelmente através da vitrine. Instintivamente ela fechou a gola do robe. Havia algo naquele homem que a fazia lembrar-se de fake Dougan e estremecia só de pensar nisto. Não costumava pensar em seu passado, tinha se treinado para isso, mas ele estava lá, trazendo a sua contribuição para a pessoa que ela era hoje. Sempre estaria lá. . . Felizmente, havia alcançado um estágio onde poderia pôr o passado, todo ele, para trás. Cumprimentou o carteiro de volta e pegou os envelopes do chão. Normalmente, só descia depois de estar completamente vestida e maquilada, para que sua imagem refletisse precisamente o que era: a dona da Felina, a butique mais elegante de Windsor. Bem, pelo menos esta era a sua opinião. É verdade que a loja era pequena, mas só tinha roupas cuidadosamente selecionadas, de bom gosto e de boa qualidade. Em pouco menos de um ano, Felina tinha conseguido uma ótima clientela. Lorna oferecia um serviço impecável, conselhos francos e competentes, sempre procurando contentar suas freguesas. Por isso elas não se importavam de pagar caro pelo que compravam. Entretanto, ela não perderia tempo em olhar a loja como geralmente fazia. Esta manhã iria se orgulhar com a vitória de Cathy em vez da sua. Apertou a revista contra o peito e subiu as escadas de volta ao apartamento sobre a butique, pensando que, como ela, sua meio irmã havia trabalhado muito para conseguir alguma coisa e merecia o sucesso que começava a ter. Apesar de estar com apenas dezenove anos, Cathy tivera uma vida muito dura; ambas tinham tido uma vida muito dura. A necessidade de vencer e o instinto de sobrevivência eram tão fortes em Cathy quanto nela mesma. Sabia que não devia se preocupar com Cathy. Mas se preocupava. Talvez até por há ...

ito. Sempre se preocupara com a irmã mais nova e sempre se preocuparia. Sempre a protegera, com todas as suas forças. Lorna sorriu lembrando da irmã, abriu a revista e encontrou as páginas que estava procurando. Lá estava ela entre outras modelos, apresentando vestidos de noite para a moda outono-inverno. Na página seguinte, ocupando toda ela, Cathy mostrava um vestido de coquetel, seu cabelo loiro levantado para o alto da cabeça, o lindo rosto refletindo pura felicidade. Ela parecia belíssima, intocada pela vida. Sentando-se numa poltrona perto do aquecedor de gás, Lorna serviu-se de chá e continuou a olhar as fotos. Elas tinham sido tiradas há várias semanas para essa edição especial de outono, e Cathy havia ficado animadíssima com aquele contrato. O fotógrafo responsável pelo trabalho era Van der Buren. Lorna leu na revista. Então Cathy tinha conseguido ser fotografada para uma importante revista de modas, pensou, fechando seu exemplar. com o tempo, sem dúvida, ela faria capa. Certamente tinha talento para isso. As pessoas muitas vezes comentavam como as duas eram parecidas, embora Lorna não concordasse com isso. Ela era bem alta, mas Cathy era mais alta ainda; era magra, mas Cathy era bem mais magra, e, enquanto Cathy tinha longos cabelos loiros, os dela eram curtos. As duas tinham herdado os lindos olhos verdes de sua mãe. Mas havia, realmente, uma coisa em comum entre ela e a irmã, na opinião de Lorna: ambas atraíam irresistivelmente os homens. Só que Cathy se deliciava com isso, enquanto ela achava que isso só lhe trazia aborrecimento. Quanto às suas atitudes em relação aos homens, as duas irmãs não poderiam ser mais diferentes. Depois de vestir uma roupa verde-escura de lã fina, que tinha sido caríssima mesmo a preço de custo, Lorna se examinou no espelho. Usava uma bela echarpe que completava a sua elegância. Havia dias em que se sentia deprimida demais, sem vontade de se arrumar e se pintar, mas reagia, pois tinha ...

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