Livro: Soberana dos mares
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... PRÓLOGO 1610 – Nos mares da Irlanda O convés do Admiralty tingira-se de rubro, tanto era o sangue. Embora os marinheiros do navio de Sua Majestade lutassem bravamente, não conseguiam igualar-se aos bem treinados homens que saltavam a amurada, vindos no navio pirata Hawk. Sob o convés, uma jovem acompanhava, cada vez mais aterrorizada, os ruídos da batalha. Os gritos e gemidos dos marinheiros moribundos levavam-na à beira da histeria Embora o capitão do Admiralty houvesse prevenido a todos sobre os perigos daquela missão, a escoltada de duas naus capitânias dera à jovem uma falsa sensação de segurança. No entanto, logo no primeiro dia de viagem, durante uma tempestade, a primeira nau sofrera uma série de avarias e, com dificuldade, navegara em direção a um longínquo ponto de terra. Na véspera do ataque, a segunda nau desaparecera misteriosamente na neblina da noite, causando grande alarme entre a tripulação da fragata. Durante toda a manhã a atmosfera esteve carregada de tensão e nervosismo. Teria tripulação suspeitado que sua vulnerabilidade atrairia ataque piratas àquelas águas perigosas? Ou, pior ainda, teria pressentido que a nau de escolta havia sido deliberadamente atraída para longe, a fim de facilitar o ataque pirata ao navio? Ao ouvir passos se aproximando, a jovem teve de lançar mão de todas as suas forças para controlar o pavor que lhe apertava a garganta. Só então dirigiu-se à criança colocada sob seus cuidados na travessia. —Você não deve fazer nenhum ruído, entendeu? Nenhum ruído. Piscando os olhos, a criança concordou. Sem hesitar, a jovem abriu um guarda-roupa, empurrou-a para dentro e cobriu-a com um manto de tal maneira que não se revelasse qualquer vestígio de forma humana. —Não importa o que aconteça, não importa o que es¬cute, você não vai permitir que eles a encontrem. Entendeu bem? A criança assentiu e o pesado manto moveu-se um pou¬co. Colocando-se contra a porta, a jovem pe ...

maneceu quie¬ta, esperando. De repente, a porta da cabine escancarou-se. Rostos escuros encararam-na; surpresos, pararam um ins¬tante antes de avançarem de modo ameaçador. Atrás de¬les, assomou-se à porta uma figura alta e sombria. —Cadela inglesa —bradou um deles, gargalhando. Agarrou-a com rudeza pelo braço, puxando-a para perto de si. Ao sentir o hálito quente junto à face, ela tentou se es¬quivar. —Não é bonita, mas ainda assim tem um corpo jovem e macio. Tentando a qualquer custo esconder da criança o terror que a dominava, a jovem mordeu os lábios para conter o grito. Lady Montieth fora bem prevenida quanto ao destino das mulheres que caíam nas mãos de piratas. Uma jovem de sua estirpe, cuja família servira a realeza por tantas gerações, tinha plena consciência do que devia fazer. Não lhe restava outra alternativa. Ao ser jogada nos braços de outro pirata, ela tirou do bolso um punhal e, com toda a força, cravou-o no próprio peito; atingiu o coração. Chocados, os homens recuaram. Haviam presenciado a morte de todos os modos possíveis. Estavam imunes ao seu horror. Mas a idéia de que uma delicada inglesa tirasse a própria vida para não ser por eles tocada era inconcebível. A visão do sangue escorrendo pelo delicado corpete do ves¬tido rosa-pálido aturdiu-os. O homem alto de cabelos escuros deu um passo à frente assumindo o comando. Ajoelhou-se e, com os dedos, sen¬tiu a fraca pulsação na garganta da jovem. Observou-a por um longo momento e levantou-se. Quando falou, era com a voz aristocrática de um nobre inglês. —O ferimento é mortal. Ela morrerá em breve. Boney! - Voltou-se para um marinheiro franzino cujas pernas e bra¬ços eram tão finos quanto os de uma menina. As costelas do velho pirata podiam ser contadas através da camisa listrada. —Retire esses homens e traga um catre para que ela possa morrer com dignidade. —Sim, capitão. O velho empurrou os outros, expulsando-os da cabine e, em ...

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