Livro: A Mensageira das Violetas Página 3
Autor - Fonte: Florbela Espanca
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DANTAS
Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?
Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade.
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!
Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito.
Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!
AOS OLHOS DELE
Não acredito em nada. As minhas crenças Voaram como voa a pomba mansa, Pelo azul do ar. E assim fugiram o As minhas doces crenças de criança.
Fiquei então sem fé; e a toda gente Eu digo sempre, embora magoada: Não acredito em Deus e a Virgem Santa É uma ilusão apenas e mais nada!
Mas avisto os teus olhos, meu amor, Duma luz suavíssima de dor. E grito então ao ver esses dois céus:
Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa Que criou esse brilho que m\\\'encanta! Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!
DOCE CERTEZA
Por essa vida fora hás-de adorar
Lindas mulheres, talvez; em ânsia louca,
Em infinito anseio hás de beijar
Estrelas d´ouro fulgindo em muita boca!
Hás de guardar em cofre perfumado
Cabelos d´ouro e risos de mulher,
Muito beijo d´amor apaixonado;
E não te lembrarás de mim sequer.
Hás de tecer uns sonhos delicados.
Hão de por muitos olhos magoados,
Os teus olhos de luz andar imersos!.
Mas nunca encontrarás p´la vida fora,
Amor assim como este amor que chora
Neste beijo d´amor que são meus versos!.
VERSOS
Versos! Versos! Sei lá o que são versos.
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma.
Versos!. Sei lá! Um verso é o teu olhar,
Um verso é o teu sorriso e os de Dante
Eram o teu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!
Meus versos!. Sei eu lá também que são.
Sei lá! Sei lá!. Meu p
...
bre coração
Partido em mil pedaços são talvez.
Versos! Versos! Sei lá o que são versos.
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês.
À TUA PORTA HÁ UM PINHEIRO MANSO
À tua porta há um pinheiro manso
De cabeça pendida, a meditar,
Amor! Sou eu, talvez, a contemplar
Os doces sete palmos do descanso.
Sou eu que para ti atiro e lanço,
Como um grito, meus ramos pelo ar,
Sou eu que estendo os braços a chamar
Meu sonho que se esvai e não alcanço.
Eu que do sol filtro os ruivos brilhos
Sobre as louras cabeças dos teus filhos
Quando o meio-dia tomba sobre a serra.
E, à noite, a sua voz dolente e vaga
É o soluço da minha alma em chaga:
Raiz morta de sede sob a terra!
A TUA VOZ DE PRIMAVERA
Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!
Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo desejo. olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!
Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos.
Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!
TRAZES-ME EM TUAS MÃOS DE VITORIOSO
Trazes-me em tuas mãos de vitorioso
Todos os bens que a vida me negou,
E todo um roseiral, a abrir, glorioso
Que a solitária estrada perfumou.
Neste meio-dia límpido, radioso,
Sinto o teu coração que Deus talhou
Num pedaço de bronze luminoso,
Como um berço onde a vida me pousou.
O silêncio, ao redor, é uma asa quieta.
E a tua boca que sorri e anseia,
Lembra um cálix de tulipa entreaberta.
Cheira a ervas amargas, cheira a sândalo.
E o meu corpo ondulante de sereia
Dorme em teus braços másculos de vândalo.
EU.
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta s ...
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